- A verdade embala e abala. Sentimo-nos seguros com ela e, ao mesmo tempo, incomodados por ela.
Diz a experiência que, por muito que lhe tentemos fugir, a verdade nunca deixa de nos perseguir.
- Ela mostra o que somos e desmonta o que aparentamos ser.
A verdade aparece muito para lá daquilo que (nos) parece.
- A verdade não gosta de adornos e dispensa enfeites. Ela costuma surgir sem coberturas nem cobertores.
A verdade descobre-se e descobre-nos.
- À primeira vista, o poder e a riqueza não querem nada com a verdade. E a verdade, por sua vez, parece não querer nada com a riqueza e o poder.
Há quem se disponha a qualquer «loucura» pela verdade. Mas também não falta quem imponha todas as «loucuras» contra a verdade.
- Há uma «loucura» que leva a dar a vida pela verdade. E há outra «loucura» que leva a tirar a vida por causa da verdade.
Em suma, dir-se-ia que quando a «loucura» anda por perto, a verdade não estará longe.
- O próprio Jesus, que veio dar testemunho da verdade (cf. Jo 18, 37), chegou a ser olhado como «louco»(cf. Mc 3, 21).
E a Cruz onde morreu foi, por muito tempo, depreciada como símbolo de uma «loucura»(cf. 1Cor, 1, 23).
- Como é que alguém divino podia humilhar-se assim (cf. Fil 2, 6-8)?
Acontece que a humildade foi sempre o pórtico da verdade. Para Simone Weil, só quem cai no mais baixo grau de humilhação «é capaz de dizer a verdade».
- Visitar a verdade obriga a descer até ao fundo. A verdade teima em esperar por nós no lado de baixo.
É por isso que a verdade vem pelos lábios dos que não têm ambições de poder nem avidez de riqueza. Verdadeiro é sobretudo o humilde e o pobre.
- As trevas que cobrem a terra quando Jesus Se abeira da morte (cf. Mc 15, 33) alertam que nada mais há para ver.
Está tudo ali. Está ali a verdade sobre Deus, a verdade sobre o homem, a verdade sobre a vida.
- Essa verdade tem o nome de amor. É um amor sem medida, que só está ao alcance de uma «loucura» desmedida.
Desperdiçar esta «louca» verdade não seria, para nós, a verdadeira loucura?