- Jesus andou quase sempre pelas margens: pelas margens dos rios e pelas margens da vida.
Grande parte da Sua actividade decorreu à beira do mar da Galileia, cujo principal afluente — e também efluente — é o Jordão. Foi, aliás, nas margens deste rio que Ele foi baptizado (cf. Mc 1, 9).
- Ao longo da Sua missão, Jesus ia alternando de margens.
Passava de margem para margem (cf. Mc 4, 35), mas nunca deixou as margens. E jamais abandonou os que eram postos à margem (cf. Lc 16, 19-31).
- Curiosamente, alguns peritos, como John Meier, apresentam Jesus como «marginal».
Não se trata de marginal no sentido de contestatário ou de irrelevante, mas no sentido de alternativo.
- Jesus contestou sempre a hipocrisia e a auto-suficiência dos que se julgavam superiores (cf. Mt 23, 27).
A mensagem e a conduta de Jesus foram de tal modo relevantes que muitas multidões se formaram à Sua volta (cf. Mt 5, 1).
- O Seu programa era verdadeiramente alternativo.
Jesus não só não pertencia aos principais grupos do judaísmo como defendia um projecto de vida, em muitos casos, oposto ao deles.
- Proclama o perdão em vez da vingança (cf. Lc 6, 37) e estende o amor aos próprios inimigos (cf. Mt 5, 44).
Jesus não foge dos que falham (cf. Mt 11, 19). Sente-se bem com os doentes (cf. Mt 14, 14), os famintos (cf. Mt 15, 32), os pobres (cf. Mt 5, 1) e os perseguidos (cf. Mt 5, 10).
- Como se isto não bastasse, frequentava ambientes pouco recomendáveis (cf. Mc 2, 16).
Enfim, nunca hesitou em tomar partido pelos mais humildes (cf. Mt 25, 40).
- Jesus não era ambíguo nas palavras ou equívoco nas acções.
Quando teve de escolher, optou por quem estava em baixo e por quem ficava de fora.
- Aberto a todos, não quis ser imparcial. Preferiu os preteridos e incluiu sempre os excluídos.
Afagou as lágrimas dos pecadores (cf. Lc 7, 38) e fazia questão de tocar nas feridas dos sofredores (cf. Mc 1, 41). Jesus é o Deus que (nos) toca.
- Poderá Deus ser assim? Pena é que, vinte séculos depois, ainda não tenhamos percebido que Deus é (mesmo) assim.
É sempre nas margens que O conhecemos. Serão os marginalizados os que melhor O entenderão?