1. Andamos à volta de quase tudo e no centro de quase nada. Conhecemos quase tudo por fora e ignoramos quase tudo por dentro. Somos íntimos de muitos e estranhos em relação a quase todos, a começar por nós.
É o resultado da abundância de ruído e da ausência de silêncio. É pelo silêncio que entramos em nós. É pelo silêncio que acolhemos os outros em nós.
- Certeiro foi Sócrates, o preclaro filósofo da antiga Grécia, quando sinalizou: «O verdadeiro conhecimento vem de dentro».
O verdadeiro conhecimento vem de dentro dos outros para dentro de nós. E vai de dentro de nós para dentro dos outros.
- Em relação aos outros animais, temos tudo para ser diferentes, melhores. Mas, às vezes, parecemos iguais, para não dizer piores. Jules Renard só entrevia uma diferença: «Descobri finalmente aquilo que distingue o homem dos outros animais: são os problemas de dinheiro».
Não iria tão longe. Uma coisa, porém, é certa. Ninguém é tão humano como os homens. Mas também ninguém consegue ser tão desumano como os homens. Aproveitemos cada instante para corrigir a trajectória. Não nos desumanizemos mais. Procuremos humanizar-nos cada vez mais.
- A guerra é abominável. Mas há quem não consiga sobreviver fora dela. Há quem só se sinta bem fazendo o mal. Há quem só viva matando. Vergílio Ferreira deu conta deste absurdo: «O mais odioso da guerra é a paixão que por ela se tem».
Quando a guerra não existe, inventam-na. Quando ela parece longe, trazem-na para perto. É preciso restaurar a paz onde ela é mais violada: no coração das pessoas.
- Uma opção tem de ser tomada. John Kennedy identificou-a: «A humanidade tem de acabar com a guerra antes que a guerra acabe com a humanidade».
Se adiarmos para tarde, pode ser tarde demais.
- A inveja dói. Mas, como já dizia Heródoto, «mais vale ser invejado que lastimado».
A inveja é uma coisa má por causa de uma coisa boa. A inveja é uma espécie de tributo que a incompetência e a raiva prestam ao mérito.
- Porque é que tão poucos suportam a verdade? A sabedoria judaica acha que é por causa do peso: «A verdade é pesada; por isso poucos a suportam».
Mas, pensando bem, o peso da verdade é bem leve. O peso da mentira é muito mais difícil de suportar.
- A dor dói, mas ensina. Ensina sobre o mundo. Ensina sobre a vida. Ensina sobre Deus.
Guerra Junqueiro assinalou: «Quem fraterniza com a dor, comunga no grémio de Deus».
- A tecnologia consegue muito. Mas a imaginação consegue muito mais. A imaginação é a alma que pode optimizar a tecnologia. Arthur Clarke percebeu: «Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinta de magia».
Não nos maquinizemos em demasia. Deixemos algum espaço para a magia. E muito espaço para fé. É ela o grande carburante da esperança.
- Deixemos que o futuro seja futuro. Hoje, há um excesso de futuro nas palavras e, ao mesmo tempo, um défice de futuro nas acções. Tanto se fala de futuro, tanto programamos o futuro que até o comprometemos, que até o adiamos.
A melhor oferta que podemos dar ao futuro é dar o nosso melhor no presente. O dia mais importante é hoje. Cada hoje. Não o desfeiteemos. Nem o desaproveitemos!