- As pessoas vão menos à Confissão, o que não quer dizer que se «confessem» menos.
Acontece que a confissão, para muitos, deixou de se fazer na igreja. Passou a fazer-se mais com os amigos. Ou, então, na televisão, no blogue, no «facebook» ou no «twitter».
- Esta «confissão» tanto pode ser confidência como puro exibicionismo. E o «confessor» tanto pode ser uma única pessoa como um grupo ou até uma multidão.
A assiduidade é incomparavelmente maior. As pessoas não se «confessam» de tempos a tempos, mas quase a todo o instante.
- A «matéria» da «confissão» já não é o pecado; é o que, indistintamente, preenche a vida.
Para não poucos, «confessar-se» é expor-se em público.
- Não há qualquer esboço de autocrítica. Tudo o que cada um «confessa» sobre si tende a ser apresentado como irrepreensível.
Não há, por isso, lugar para «arrependimentos» ou «propósitos de emenda». O tom destas «confissões» é, geralmente, de autopromoção.
- O negativo fica por conta dos outros. É que alguns não se «confessam» só a si; «confessam» também os outros.
E, aí, já transbordam as fraquezas, profusamente debitadas sob o manto da intriga, da insinuação e até da calúnia. Tudo isto sem o menor decoro ou quaisquer pedidos de perdão.
- Enquanto na igreja o pecador sai transfigurado, aqui o infractor é, eterna e impiedosamente, denunciado.
Por muito arrependido que esteja, o que cometeu um desvio é sempre visto como um corrupto, o que mentiu uma vez é sempre tido por mentiroso, etc.
- Eis, em suma, como procede uma sociedade que até se diz tolerante.
Trata-se, contudo, de uma sociedade que não perdoa o menor deslize, mostrando-se — para todo o sempre — implacável com quem fraqueja.
- Como é diferente — e muito mais bela — a pedagogia do Sacramento da Reconciliação.
A pessoa é acolhida na sua verdade, respeitada na sua intimidade e apoiada na sua disponibilidade para mudar.
- Na Confissão, entra-se um e sai-se outro.
Não é um branqueamento; é uma verdadeira transformação.
- Há quem diga que se confessa imediatamente a Deus. Sucede que, como vincou Karl Rahner, Deus quis optar por uma «imediatez mediada».
O Seu perdão é oferecido por intermédio de Cristo. E Cristo, hoje, está presente na Igreja, que é o Seu Corpo (cf. 1Cor 12).