1. Se as pessoas não procuram a lei, a lei tem de procurar as pessoas.
Se as pessoas fogem da lei, a lei não pode fugir das pessoas.
2. Era muito melhor que as pessoas se portassem de tal modo que não precisassem de leis. Mas a experiência mostra - e mostra cada vez mais - que a convivência humana não é nada fácil: nem fora de casa, nem dentro de casa.
A violência doméstica é um dos (múltiplos) tentáculos da escalada desta violência global.
3. A globalização transformou o mundo numa aldeia.
As pessoas deslocam-se rapidamente. Milhares de quilómetros são vencidos em poucas horas.
4. Acontece que a tendência das mesmas pessoas é para não deslocarem os seus hábitos.
É mais fácil encurtar distâncias do que aproximar pessoas.
5. Na maior parte dos casos, as pessoas que se deslocam mantêm os costumes que tinham.
Sucede que muitos desses costumes num lado estão consentidos (e até previstos na lei) e noutro lado não são admitidos (e até estão proibidos) por lei.
6. Há quem se adapte às leis do país em que vive. Mas também há quem queira impor os comportamentos da cultura donde provém.
Os exemplos são múltiplos. E os factos que os ilustram são bastante recentes e deveras sangrentos.
7. Há quem chegue mais depressa aos confins da terra do que ao coração do vizinho.
Os antípodas parecem estar mais na rua da mesma terra do que do que do outro lado da terra.
8. Os extremos do globo estão próximos. Só que os extremismos, dentro do mesmo globo, estão também cada vez mais perto. Como sair deste labirinto?
O incómodo é geral e a sensação de impotência é aflitiva.
9. Muito tempo vai decorrer até que se resolva este problema. Uma coisa é certa. Num mundo global, temos de começar a pensar numa ética mundial e numa lei global.
Se os contactos se globalizam, porque é que não se hão-de globalizar os hábitos e as normas? E se a violência se vai globalizando, como é que podemos desistir de globalizar o combate à violência?
10. Um governo mundial, como alguns já alvitram, parece-me impraticável para já. Mas uma ética mundial e uma legislação mundial têm de ser seriamente ponderadas.
As Nações Unidas terão certamente um papel preponderante neste campo. O maior problema vai ser convencer populações e governantes locais. Mas há caminhos que têm de ser percorridos. E, às vezes, o mais difícil é começar. Comecemos então. Já há muitas vítimas deste desconcerto global!