O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Quinta-feira, 12 de Fevereiro de 2015

É, no mínimo, curioso que tanto se fale de um santo de que nem sequer se sabe se existiu.

E é igualmente sintomático que nada se diga acerca de dois santos cuja vida e obra são sobejamente conhecidas.

De facto, por esta altura muito se fala de S. Valentim. Sucede que, desde 1969, este santo deixou de ser celebrado oficialmente porque não há provas seguras de que tenha existido.

Repare-se.

Não se diz que não tenha existido. Apenas se adverte para a falta de indicações irrebatíveis que comprovem a sua existência.

O interessante é que, nesse dia, se celebra a festa de dois irmãos que foram santos: S. Cirilo e S. Metódio.

Os dois tiveram um papel determinante na evangelização e promoção cultural dos povos orientais.

Ainda hoje se fala do alfabeto «cirílico». Mas pouco (ou nada) se diz.

Se consultarem um calendário litúrgico, lá aparecem as referências a S. Cirilo e a S. Metódio.

É claro que algumas publicações mencionarão S. Valentim, mas com todas as ressalvas.

É óbvio que não há mal nenhum na evocação de S. Valentim, tenha ou não tenha existido. Mas muito bem haveria na invocação de S. Cirilo e S. Metódio!

publicado por Theosfera às 23:09

Dizem que é altura de questionar as respostas.

Eu pergunto se não é chegado o momento de questionar também as próprias perguntas.

É importante saber por onde não se quer andar.

Mas é cada vez mais urgente perceber para onde se pretende ir!

publicado por Theosfera às 11:05

Há pessoas esquecidas cuja vida merecia ser sempre lembrada.

12 de Fevereiro é a data da morte de um filósofo e é a data de nascimento de um estudioso da filosofia.

Kant morreu há 211 anos. Carlos Alberto Pinto Resende nasceu há 105 anos.

Mas não foi tanto a filosofia que o celebrizou. Foi sobretudo a sua conduta que o imortalizou.

«Monsenhor Reitor» (assim se tornou conhecido) tinha uma delicadeza no trato que nos confundia. E exalava uma pureza de alma que o enobrecia.

A sua rectidão atingia o escrúpulo. Muito exigente consigo, era magnânimo e indulgente para com os outros.

Em nome dessa auto-exigência, impunha a si mesmo a obrigação de explicar as decisões mais incómodas.

Parecia ficar mais incomodado que os alunos quando tinha de lhes atribuir uma nota baixa.

Não era fraqueza, era nobreza: não nobreza de linhagem, mas nobreza de carácter.

O seu aprumo perfumava o convívio. O seu porte fez escola. O seu exemplo continua a fazer eco.

O filtro das mudanças de época gere conquistas e perdas. Quem não sente a falta que fazem pessoas assim?

Podem ter passado à eternidade, mas não podem passar ao esquecimento!

publicado por Theosfera às 10:50

Aceita-se mal esta estratificação entre as vítimas.

Há vítimas permanentemente lembradas. E há vítimas constantemente esquecidas.

O Mediterrâneo é um cemitério cada vez mais lotado.

Mais trezentas pessoas foram nele sepultadas.

A nossa indiferença é o grande (e cruel) coveiro!

publicado por Theosfera às 10:13

O poder alcança-se pelo consentimento ou pela força.

Diderot sintetizou: «O consentimento dos homens reunidos em sociedade é o fundamento do poder. Aquele que só se estabelece pela força só pela força pode subsistir».

O problema é que também só pela força pode cair. Que seja pela força das ideias. E não pela força das armas.

O mundo está cansado de tantas exibições de força. Que só contribuem para enfraquecer a vida dos povos!

publicado por Theosfera às 09:55

É difícil haver uma interacção simbiótica entre a vida e a obra. Por vezes, há muitas contradições. Paul Jonshon ficou célebre por ter apontado algumas.

Não é, porém, o que, a meu ver, se passa com Immanuel Kant.

Tudo o que vê na sua bibliografia encontra-se na sua biografia. Esta faz transparecer o rigor, a disciplina, a exigência e o aprumo da sua conduta.

Quem lê o opúsculo de Thomas de Quincey, sobre os últimos dias do filósofo, fica impressionado com o perfil da sua pessoa e do seu quotidiano.

A poucos dias da morte, ocorrida a 12 de Fevereiro de 1804 e já completamente sem forças, fazia questão de se pôr de pé quando o médico entrava no seu quarto.

Levantava-se sempre às cinco menos dez e deitava-se, invariavelmente, às dez da noite.

O pequeno-almoço era, pontualmente, servido às cinco. Nele, não faltava um cachimbo, o único por dia.

Pelas 12h45, era chamado para almoçar, habitualmente com mais pessoas. O início da refeição era sempre o mesmo: «Meus senhores, vamos lá!».

 Muito contido, só se exasperava se alguém se atrasasse. Mas, para Kant, o atraso de um minuto era quase imperdoável.

Após o convívio da refeição, seguia-se a solidão do passeio. Passeava sozinho não só por causa da meditação que gostava de fazer, mas também para praticar a respiração pelas narinas, que não podia concretizar se tivesse de abrir a boca para falar. Achava que, assim, era mais imune a tosses, rouquidão, catarro, etc.

Tinha cada dia planeado mentalmente e, por vezes, por escrito. Não gostava de abandonar a sua rotina.

O seu salário como professor de Filosofia permitiu-lhe acumular uma pequena fortuna para a época (20.000 dólares), mas Kant foi sempre dadivoso.

Não dava esmolas a pedintes na rua, mas chegava a pagar, do seu bolso, pensões mensais a familiares, empregados e outros carenciados.

Apesar de comedido, era estimado. Quando vinha do médico, as imediações da sua casa chegavam a inundar-se de pessoas só para o ver.

O seu funeral, muitos dias após a morte, foi o maior de que havia memória em Konisberg.

Igual a si mesmo, Kant mostrou-se fiel a si próprio. Não se desviou do caminho que traçou. Foi um aristocrata na mais nobre acepção da palavra.

É difícil ler a obra de Kant. Não é fácil imitar a vida de Kant.

A sua obra justifica atenção. A sua vida merece muita admiração.

Não sei se terá sido, como alguns alvitram, o homem mais inteligente desempre. Mas foi, seguramente, uma das pessoas mais notáveis de todos os tempos.

Elaborar uma obra como a Crítica da Razão Pura está ao alcance de poucos. Corporizar uma existência como a dele também não é coisa que se veja em muitos.

Kant foi um mestre de exepção. E um exemplo invulgar.

publicado por Theosfera às 00:57

Hoje, 12 de Fevereiro, é dia de Sta. Eulália de Barcelona e Sto. António Cauleas.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:00

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