- Nem todos os não religiosos são imediatamente ateus. Nem todos os não ateus são automaticamente religiosos.
Entre a religiosidade declarada e o ateísmo assumido, há uma vasta zona com elementos confinantes à fé e à descrença.
- Há quem, não se sentindo ateu, opte por não ter nenhuma filiação religiosa.
E também não falta quem, não se declarando religioso, decida não enveredar por uma militância ateia.
- A experiência prova que a alternativa ao ateísmo não é inevitavelmente a religião.
E a mesma experiência ensina que a demarcação em relação à religião nem sempre passa pelo ateísmo.
- Entre os que afirmam convictamente e os que negam peremptoriamente o divino, há os que entendem nada poder dizer e os que resolvem nada querer dizer.
No primeiro caso costumamos enquadrar os agnósticos. E no segundo grupo é habitual situar os indiferentes e os despreocupados.
- Ressalve-se, já agora, que indiferença e despreocupação não indicam necessariamente a mesma coisa.
É certo que a indiferença pode vir da despreocupação e a despreocupação pode vir da indiferença. Mas enquanto a indiferença não exclui o interesse pela questão de Deus (embora não tome posição sobre ela), a despreocupação recusa dar-lhe qualquer atenção.
- A resposta tradicional à pergunta por Deus era afirmativa (fé e teísmo filosófico), negativa (ateísmo) ou suspensiva (agnosticismo).
Mesmo que não houvesse religião, sempre havia alguma religação. Fosse para afirmar, fosse para negar, fosse para suspender a afirmação ou a negação, Deus era uma palavra omnipresente.
- Já o mesmo não acontece com a indiferença e a despreocupação.
Aqui, a palavra «Deus» quase desaparece do vocabulário.
- Trata-se, pois, de duas atitudes nitidamente pós-teístas. Qual será o seu perfil?
Estarão mais perto do ateísmo ou da fé?
- É difícil determinar um fenómeno tão denso e heterogéneo.
A palavra «Deus» já não surge em muitos lábios. Mas será que Deus Se ausentou de tantas vidas?
- Muitos são os que, não querendo falar de Deus, falam de «algo acima de nós».
Como notou Thomas Halik, o «algoísmo» começa a ser uma «religião» muito difundida nos tempos que correm. Há que estar alerta. No fundo, pode haver quem, não se revendo no que nós dizemos, não desista de procurar Aquele que nós anunciamos. E que nem sempre somos capazes de mostrar!