- Acerca de Deus, talvez tenha chegado o momento de nos fixarmos sobretudo naquilo que não sabemos.
É possível que esse não-saber nos forneça palavras menos impróprias e atitudes mais adequadas.
- Temos passado muito tempo a falar — e a agir — com base no que sabemos sobre Deus.
Acontece que os resultados nem sempre são brilhantes.
- As palavras conseguem mais escondê-Lo que mostrá-Lo. E muitas atitudes levam mais a encobri-Lo do que a descobri-Lo.
Como entender, então, que haja tantas palavras absolutas sobre Deus? E tantas atitudes irreversíveis em nome de Deus?
- Acresce que há palavras absolutas em contraste com outras palavras absolutas. E há atitudes irreversíveis em colisão com outras atitudes irreversíveis.
Até parece que Deus Se contradiz a Si mesmo.
- No mundo das religiões, a desarrumação é assustadora. O discurso da paz não está ausente, mas a violência teima em continuar presente.
Por vezes, o ser divino é representado como alguém menos humano do que muitos seres humanos. Como aceitar que se renda culto a Deus maltratando pessoas e eliminando vidas?
- O ateísmo de muitos crentes é mais devastador do que o ateísmo dos ateus.
Os ateus negam a existência de Deus, ao passo que muitos crentes negam a natureza de Deus, a identidade de Deus.
- Uns negam que Deus exista. Outros negam o Deus que existe. Que será pior?
Deus é imensamente mais do que uma não-existência. E é infinitamente melhor do que muitas existências que Lhe atribuem.
- Quando os ateus dizem que Deus, a existir, é o oposto de muitas das suas imagens, merecem alguma atenção. E reclamam o máximo cuidado.
Os que estiveram mais perto de Deus, os santos, foram sempre muito cautelosos. Sto. Anselmo, para mencionar as pessoas divinas, referia-se aos «três não sei quê». A própria Bíblia reconhece que «nuvens e trevas» envolvem a presença de Deus (cf. Sal 97, 2).
- O melhor, por conseguinte, é não parar de aprender. Importante é a escuta e não a luta.
O principal sobre Deus pode estar no que (ainda) não sabemos. Mas o que sabemos basta para ter a certeza de que Deus só ama (cf. Jo 3, 16), não arma. E até desarma os que se armam, os que estão armados (cf. Jo 18, 11)!