O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Sexta-feira, 23 de Janeiro de 2015

 

  1. O homem não algo já «feito», mas um permanente «fazer-se». É por isso que ninguém é perfeito; é por isso que toda a gente tem defeitos. Quem pode garantir que já está «per-feito»?

Jean-Paul Sarte notou que «o homem deve ser inventado a cada dia». Só no fim do caminho a tarefa está concluída. Até lá, muito há a fazer, a desfazer e a refazer!

 

  1. Mau já é o mal. Pior é o mal tornar-se banal. A banalidade do mal conduz à aceitação do mal.

O pior mal é o primeiro. É o que custa mais a cometer e a ver. O primeiro mal ainda estranha. Os outros males entranham-se. Há coisas tão más que o melhor é não começar a experimentá-las.

 

  1. As ocupações gastam. Mas são as preocupações que mais desgastam. Assim sendo, o maior envelhecimento não ocorre no corpo, mas no espírito.

Esta era, pelo menos, a percepção de Montaigne: «A velhice faz-nos mais rugas no espírito do que na cara». Mas essas rugas não retiram encanto. Há rugas que trazem a marca da coerência e trazem o selo da fidelidade. Por isso embelezam. E comovem.

 

  1. Reuniões. Não tenho nada contra, mas também aprendi a não ter muito a favor. Muitas reuniões nem sempre conduzem a grandes decisões. Muitas reuniões levam, por vezes, a grandes confusões.

John Galbraith era contundente: «As reuniões são indispensáveis quando não se quer decidir nada». Não iria tão longe. Mas quando oiço falar de reuniões de muitas horas, no mínimo fico preocupado. Será que a fadiga consegue o que a lucidez não alcança?

 

  1. Ainda que primemos pela clareza, há sempre muita obscuridade a acompanhar-nos.

George Eliot deu conta: «Se prestares atenção ao teu discurso, perceberás que ele é guiado pelos teus propósitos menos conscientes». Serão os melhores?

 

  1. Cada vez acredito menos em quem fala muito, em quem fala alto.

A experiência ensina que quando a voz é alta, a razão é baixa. Não é por a voz ser exaltada que o conteúdo é exaltante.

 

  1. Edmund Burke reconheceu: «É um erro popular muito comum acreditar que aqueles que fazem mais barulho a lamentarem-se a favor do povo sejam os mais preocupados com o seu bem-estar».

Acredito, cada vez mais, nos que falam com a vida, nos que falam agindo.

 

  1. A experiência ensinou-me a distinguir — e a distanciar — a sabedoria da retórica. Quando quero encontrar um verdadeiro sábio, presto atenção a quem fala pouco. Mariano da Fonseca notou que «os sábios falam pouco e, falando pouco, dizem muito».

O sinal do sábio é assumir que não sabe. Ninguém pode chegar ao segundo passo sem passar pelo primeiro. E o primeiro saber é o não-saber. A humildade é o certificado da sabedoria.

 

  1. Há quem pense que, neste mundo mercantilizado, não há dádivas, só há trocas. Doménico Cieri dizia que «os favores voltam». Os que os pedem sabem que lhos vão pedir. Os que os fazem são tentados a pedi-los de volta.

Mas, atenção, acredito que há excepções. Ainda há quem seja dadivoso, quem seja generoso. Ainda há quem saiba conjugar o verbo «dar» sem esperar «receber».

 

  1. E depois de tudo ouvir, de tudo aplaudir, de tudo procurar e de tudo acabar por saturar, eis que se volta sempre a Bach.

Nele se o belo não é absoluto, anda por lá (muito) perto!

 

publicado por Theosfera às 10:30

É difícil dizer seja o que for quando a comoção embarga a voz e inibe o raciocínio.

É por isso que, para que não me remeter ao retemperador aconchego do silêncio, vou deixar falar o coração. E é o coração que me inspira e segreda um único sentimento: gratidão.
Mons. Ilídio Fernandes pode ser descrito sob muitos títulos e exaltado sob imensas formas.

Todos conhecem a sua pessoa. Todos reconhecem a sua (multímoda) obra.

Ele foi o sacerdote, o confessor, o escritor, o sonhador, o construtor, o programador.

Muitos epítetos lhe caberiam: o persistente, o magnânimo, o (saudavelmente) teimoso, o (incorrigível) visionário.
Todos lhe queremos muito. Todos lhe devemos bastante. Do muito que legou, talvez não seja despropositado assinalar que ele foi, porventura, o maior «empregador» de Lamego.
Se percorrermos as diversas valências da obra social que construiu, não andarei longe da verdade se disser que, só neste momento, há centenas de pessoas a quem ele deu trabalho, dinheiro a ganhar e pão a comer.

Se multiplicarmos este número por muitos anos, quem negará que estamos em presença de um dos maiores benfeitores da cidade e da região?

Acontece que, para conseguir o que ele conseguiu, era preciso ser o que ele foi: um homem para quem nunca havia obstáculos intransponíveis. Mas, no décimo aniversário da sua morte, gostaria de recordar o amigo, o muito amigo, o mais que amigo.
Nunca me falou da morte. Para ele só havia vida, futuro, eternidade, projectos. Tenho pena de não ter podido despedir-me dele.

Mas, pensando bem, não faz sentido a despedida quando não há separação. O que há é apenas mudança.

Até sempre, Monsenhor!

publicado por Theosfera às 00:41

Uma mente vulcânica,
um espírito aberto,
um coração inquieto,
um trato afável,
uma vontade imensa,
um combatente audaz,
um construtor imparável,
um sonhador persistente,
um visionário desconcertante,
um idealizador surpreendente,
um prosador fecundo,
mas também
um confidente leal,
um amigo sincero
e uma presença constante.

Assim foi este Homem,
para quem o passado era uma semente
e o futuro uma certeza;
assim foi este Homem,
que não falava da morte,
mas dos inúmeros projectos
que, assim que lhe surgiam,
logo tratava de os pôr em prática;
assim foi este Homem
que nunca conheceu a palavra «desistir»
e que passou a vida
a conjugar o verbo «insistir e o verbo «resistir»;
assim foi este Homem
para quem só o impossível não era possível;
assim foi este Homem
que nunca fez das oportunidades problemas
preferindo fazer dos problemas oportunidades;
assim foi este Homem
que nunca se deixou abater;
assim foi este Homem
que fez muito e que tinha (ainda) muito mais para fazer;
assim foi este Homem
que não morreu, antes completou a sua jornada terrena para dar entrada na eternidade;
assim foi este Homem
que nunca deixará de estar connosco:
quando passarmos pelo Confessionário,
onde semeou perdão e distribuiu paz,
quando olharmos a Obra que fundou,
onde fez crescer solidariedade e promoção,
quando folhearmos os livros e os jornais
onde irradiou saber e difundiu ideais,
facilmente concluiremos
que Mons. Ilídio se mantém no nosso meio:
com a sua voz característica,
com o seu jeito peculiar,
com o seu optimismo contagiante
e com o seu sorriso inconfundível!

publicado por Theosfera às 00:32

Faz hoje, 23 de Janeiro, dez anos que faleceu Mons. Ilídio Fernandes, um homem bom e um homem de bem.

Muito ele fez por Lamego e por toda esta região. Tanto ajudou as pessoas.

Não o esqueçamos jamais!

publicado por Theosfera às 00:22

S. João Esmoler nasceu em Chipre, foi funcionário do imperador, enviuvou e veio a ser patriarca de Alexandria por volta de 610. Espantou toda a gente com uma pergunta que fez à chegada: «Quantos são aqui os meus senhores?»

Como ninguém percebeu o alcance, ele descodificou: «Quero saber quantos pobres temos. Eles são os meus senhores, pois representam na terra Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Mt 25, 34-46). Dependerá deles que eu venha a entrar no Seu reino».

Fizeram o apuramento. Havia 7500 pobres, que ficaram a receber, todos os dias, uma boa esmola. É claro que as críticas não demoraram. Que havia alguns que não eram pobres, antes mandriões.

Réplica do bispo: «Se não fôsseis não curiosos, não o saberíeis. Curai-vos da vossa intriga e curiosidade e deixai-me em paz. Prefiro ser enganado dez vezes a violar, uma vez que seja, a lei do amor».

Diz a história que o cofre nunca se esvaziou. A quem lhe agradecia ele respondia: «Agradece-me só quando eu derramar o meu sangue por ti; até lá, agradeçamos, os dois juntos, a Nosso Senhor Jesus Cristo».

Ninguém tinha coragem de lhe negar nada. Só que alguns costumavam sair, furtivamente, da igreja antes do fim da Santa Missa.

Sucede que o bispo saía também e, de báculo na mão, juntava-se a eles cá fora e intimava-os: «Meus filhos, um pastor deve estar com o seu rebanho; por isso, venho ter convosco. Mas não posso ficar aqui e não me posso cortar em dois; que iria ser das minhas ovelhas que estão lá dentro?» Desde então, toda a gente esperava pelo fim da Santa Missa para sair.
Que nobre exemplo de pastor, de pai. Muito mais tarde, também Bossuet repetia: «Nossos senhores, os pobres».

O pobre é sempre uma surpreendente aparição de Deus.

publicado por Theosfera às 00:15

Hoje, 23 de Janeiro (6º dia do Oitavário de Oração pela Unidade dos Cristãos), é dia de Sto. Ildefonso, S. João Esmoler, Sta. Josefa Maria e Sto. Henrique Suzo.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:00

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