- O homem não algo já «feito», mas um permanente «fazer-se». É por isso que ninguém é perfeito; é por isso que toda a gente tem defeitos. Quem pode garantir que já está «per-feito»?
Jean-Paul Sarte notou que «o homem deve ser inventado a cada dia». Só no fim do caminho a tarefa está concluída. Até lá, muito há a fazer, a desfazer e a refazer!
- Mau já é o mal. Pior é o mal tornar-se banal. A banalidade do mal conduz à aceitação do mal.
O pior mal é o primeiro. É o que custa mais a cometer e a ver. O primeiro mal ainda estranha. Os outros males entranham-se. Há coisas tão más que o melhor é não começar a experimentá-las.
- As ocupações gastam. Mas são as preocupações que mais desgastam. Assim sendo, o maior envelhecimento não ocorre no corpo, mas no espírito.
Esta era, pelo menos, a percepção de Montaigne: «A velhice faz-nos mais rugas no espírito do que na cara». Mas essas rugas não retiram encanto. Há rugas que trazem a marca da coerência e trazem o selo da fidelidade. Por isso embelezam. E comovem.
- Reuniões. Não tenho nada contra, mas também aprendi a não ter muito a favor. Muitas reuniões nem sempre conduzem a grandes decisões. Muitas reuniões levam, por vezes, a grandes confusões.
John Galbraith era contundente: «As reuniões são indispensáveis quando não se quer decidir nada». Não iria tão longe. Mas quando oiço falar de reuniões de muitas horas, no mínimo fico preocupado. Será que a fadiga consegue o que a lucidez não alcança?
- Ainda que primemos pela clareza, há sempre muita obscuridade a acompanhar-nos.
George Eliot deu conta: «Se prestares atenção ao teu discurso, perceberás que ele é guiado pelos teus propósitos menos conscientes». Serão os melhores?
- Cada vez acredito menos em quem fala muito, em quem fala alto.
A experiência ensina que quando a voz é alta, a razão é baixa. Não é por a voz ser exaltada que o conteúdo é exaltante.
- Edmund Burke reconheceu: «É um erro popular muito comum acreditar que aqueles que fazem mais barulho a lamentarem-se a favor do povo sejam os mais preocupados com o seu bem-estar».
Acredito, cada vez mais, nos que falam com a vida, nos que falam agindo.
- A experiência ensinou-me a distinguir — e a distanciar — a sabedoria da retórica. Quando quero encontrar um verdadeiro sábio, presto atenção a quem fala pouco. Mariano da Fonseca notou que «os sábios falam pouco e, falando pouco, dizem muito».
O sinal do sábio é assumir que não sabe. Ninguém pode chegar ao segundo passo sem passar pelo primeiro. E o primeiro saber é o não-saber. A humildade é o certificado da sabedoria.
- Há quem pense que, neste mundo mercantilizado, não há dádivas, só há trocas. Doménico Cieri dizia que «os favores voltam». Os que os pedem sabem que lhos vão pedir. Os que os fazem são tentados a pedi-los de volta.
Mas, atenção, acredito que há excepções. Ainda há quem seja dadivoso, quem seja generoso. Ainda há quem saiba conjugar o verbo «dar» sem esperar «receber».
- E depois de tudo ouvir, de tudo aplaudir, de tudo procurar e de tudo acabar por saturar, eis que se volta sempre a Bach.
Nele se o belo não é absoluto, anda por lá (muito) perto!