O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Domingo, 09 de Novembro de 2014

A. A Igreja não é uma federação, mas uma comunhão

  1. A Igreja santa é, ao mesmo tempo, única e múltipla. O facto de ser única não a impede de ser múltipla e o facto de ser múltipla não a impede de ser única. Sendo única, ela está presente em toda a parte e está sempre aberta a toda a gente. Por isso, ela é universal e local. Podemos dizer, com muitos teólogos, que pertencemos a uma Igreja de igrejas. Não se trata de uma federação de igrejas, mas da comunhão entre todas elas. Em cada Igreja, está presente toda a Igreja. Cada Igreja é uma realização da inteira Igreja de Cristo. E tendo em conta que a Eucaristia faz a Igreja, então a Eucaristia de cada Igreja torna presente a comunhão de toda a Igreja.

A mesma palavra — Igreja — serve para indicar esta presença simultaneamente universal e local. Tanto se diz «a Igreja» como se pode dizer «a Igreja de Jerusalém», «a Igreja de Corinto» ou «a Igreja de Lamego». Os apóstolos e seus sucessores constituíram a Igreja em toda a terra constituindo igrejas por todo o mundo.

 

  1. Em todas as dioceses, há, por assim dizer, uma sede da unidade. E, dentro dela, encontra-se a cadeira para aquele que, em nome de Cristo, garante a unidade: o Bispo. Tal cadeira tem o nome de cátedra. É por isso que a igreja-sede de uma diocese — com a respectiva cátedra do Bispo — é denominada sé catedral. ( vem de sede e catedral de cátedra). Cada diocese tem um dia para assinalar a dedicação da sua catedral.

Hoje, 09 de Novembro, é o dia da dedicação da catedral da diocese de Roma. Uma vez que o Bispo de Roma é o Papa, entende-se que a dedicação da sua catedral seja assinalada em toda a Igreja. É um sinal de comunhão com a Igreja de Roma e para com o seu Bispo, sucessor de Pedro. Como refere o Concílio Vaticano II, o Bispo de Roma é «o perpétuo e visível fundamento da unidade, não só dos bispos, mas também da multidão dos fiéis». Aliás, já no princípio, Sto. Inácio de Antioquia notava que a Igreja de Roma é aquela que «preside à comunhão universal da caridade». Não admira, portanto, que a sua catedral seja reconhecida como a «mãe de todas as igrejas».

 

B. A catedral do Papa como Bispo de Roma

 

3. Regra geral, estamos habituados a ver o Papa a presidir a grandes celebrações na Basílica de S. Pedro. Mas a igreja do Papa como Bispo de Roma é a Basílica de S. João de Latrão. «Latrão» vem de «Laterano», o nome da família proprietária do terreno e do palácio que o imperador Constantino doou ao Papa Melquíades.

Aí se construiu também uma igreja dedicada ao Santíssimo Salvador. A dedicação terá ocorrido por volta do ano 320. Mais tarde, já no século VII, S. Gregório Magno dedicou esta Basílica aos dois grandes santos com o nome João: S. João Baptista e S. João Evangelista. Entretanto, a origem da actual Basílica de S. João de Latrão remonta a 1646, no pontificando de Inocêncio X, que introduziu alterações que a deixaram com a configuração actual.

 

  1. Foi nesta igreja que se realizaram as sessões de cinco concílios ecuménicos: 1123, 1139, 1179, 1215 e 1517. Daí que eles sejam comummente conhecidos como «Concílios de Latrão» ou «Concílios Lateranenses». Alguns destes concílios abordaram temas muito importantes para a vida da Igreja. Por exemplo, o terceiro Concílio de Latrão, realizado em 1179, estabeleceu as normas para a eleição do Papa por dois terços dos cardeais presentes no conclave. O quarto Concílio de Latrão, ocorrido em 1215, definiu a transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Jesus.

Por conseguinte, não espanta que 21 papas lá estejam sepultados. O último pontífice a ser tumulado na Basílica de S. João de Latrão foi o Papa Leão XIII, falecido em 1903.

 

C. A dedicação é uma consagração

 

5. A dedicação de uma igreja é, essencialmente, um acto de consagração. Até ao século III, os cristãos reuniam-se nas suas próprias casas, utilizando a sala mais espaçosa para as celebrações. Alguns desses locais de culto são mencionados no Novo Testamento. Nos Actos dos Apóstolos (20, 7-11), conta-se que S. Paulo presidiu ao culto num terceiro andar, adornado com muitas lâmpadas. Também é tradição certa que S. Pedro se hospedava em Roma em casa do senador Pudente. Ali se juntavam os cristãos para ouvir as suas instruções e receber a Sagrada Eucaristia.

Ao longo do século III, estes aposentos foram crescendo em importância separando-se paulatinamente das outras partes do edifício. A Casa da Igreja (Domus Ecclesiæ) transforma-se assim em Casa de Deus (Domus Dei).

 

  1. Quando, a partir do século IV, os cristãos passaram a construir as suas igrejas de raiz, foram-nas consagrando solenemente, com ritos e textos que se foram desenvolvendo ao longo dos séculos. Foram surgindo também festas anuais, para assinalar a dedicação das igrejas mais significativas.

Ainda hoje se recomenda que as igrejas sejam dedicadas, sobretudo as catedrais e paroquiais. As outras devem ser, pelo menos, benzidas. Os traços característicos da dedicação das igrejas, após a entrada solene com aspersão e a proclamação da Palavra, são as ladainhas, a oração consecratória, a unção do altar e das paredes, a sua incensação e iluminação e, sobretudo, a celebração da Eucaristia. O altar e a igreja só se dedicam a Deus. Mas também podem ser titulares de uma igreja a Virgem ou os Santos, embora as suas imagens não devam estar sobre o altar.

 

D. Da igreja feita de pedras à Igreja feita de pedras vivas

 

7. Tudo isto significa que a igreja é a Casa de Deus, a Casa para Deus e a Casa onde o centro é Deus. Ele é o Santo, o Santíssimo. É por isso que, ao entrar numa igreja, não nos devemos logo sentar. A primeira coisa a fazer deve ser ajoelhar diante do sacrário e adorar o Santíssimo Sacramento. Só depois é que se poderá venerar a imagem de Maria e dos Santos. Infelizmente, porém, vê-se muita gente que passa pelo altar sem o menor sinal de reverência apressando-se a ir para junto das imagens de Nossa Senhora e dos Santos. Não é por mal, mas não está bem. O bem é fazer o que deve ser feito. E, aliás, é isso o que mais agrada a Nossa Senhora e aos Santos.

No texto que acabamos de escutar, vemos como Jesus ficou profundamente enfurecido quando viu que estavam a alterar a finalidade da Casa de Deus. O autor sagrado informa mesmo que Jesus fez um chicote de cordas (cf. Jo 2, 15), tal era a indignação que sentia. E embora não se diga que tenha atingido alguém com tal chicote, não há dúvida de que empregou a máxima força e determinação. Ele não podia aceitar que se transformasse a Casa de Deus numa Casa de Comércio (cf. Jo 2, 16).

 

  1. Aquele Templo é imagem do novo e definitivo Templo que é o próprio Jesus (cf. Jo 2, 19-21). Cada templo é figura do templo que deve ser o discípulo de Jesus. Com efeito, S. Paulo recorda-nos que nós, cristãos, somos «templo de Deus»(1Cor 3, 16). O templo feito de pedras evoca o templo feito de pedras vivas que somos todos nós. A atitude que devemos ter no templo é a atitude que devemos ter para com Deus, para connosco e para com os outros. Poderá essa atitude ser outra coisa que não seja respeito?

Hoje, há a tendência para cada um pensar primordialmente em si e no que é seu, esquecendo os outros e o que é dos outros. Quem entra numa igreja deve pensar na finalidade do lugar que está a pisar. Não deve preocupar-se com os seus interesses, mas com o significado do espaço em que se encontra. Em linha com o exemplo de Jesus, não podemos consentir que se transforme a Casa de Deus numa Casa de Conversa, numa Casa de Eventos ou então numa Praça, num Estádio ou numa Esplanada. É importante respeitar — e fazer respeitar — a Casa de Deus como ela é. A Igreja é para todos, mas não é para tudo. Qualquer um é bem-vindo, mas não para fazer qualquer coisa.

 

E. Devemos estar santamente no lugar santo

 

9. A Casa de Deus não é um destino turístico nem um simples monumento. Os turistas podem vir, desde que compreendam que a Casa de Deus é para fazer experiência de Deus. Quem não pretende fazer tal experiência não pode perturbar quem a deseja realizar. Em síntese, não podemos estar na Casa de Deus como estamos em casa e na rua. A Casa de Deus é diferente, «o templo de Deus é santo». Nele, devemos estar santamente, até para aprendermos a estar santamente na vida. Aliás, profano nem sequer é o contrário de sagrado, mas o que está diante do sagrado. Mesmo na rua, devemos respeitar o carácter sagrado de Deus, o carácter sagrado da pessoa humana e, nessa medida, o carácter sagrado da vida humana.

Temos obrigação de saber que um dos valores fundamentais da convivência é o respeito. Deste respeito não hão-de ficar fora o espaço sagrado e os actos sagrados. Quem tem fé compreenderá com facilidade e quem não tem fé também perceberá sem dificuldade.

 

  1. Sucede que, nos últimos tempos, chega-se a uma igreja e o que avulta é o ruído. A vontade de conversar sobrepõe-se ao direito de meditar. Parece que se pode falar com todos menos com Deus. Parece que se ouve toda a gente, menos a voz de Deus. Isto colide frontalmente com a natureza do lugar e das celebrações que nele decorrem. Não raramente, prevalece a impressão de que a igreja é para tudo, excepto para aquilo que ela existe: rezar. Até parece que o incorrecto tem mais espaço que o correcto. E que o errado encontra maior acolhimento que o certo. Aliás, quem é apontado como estando errado acaba por ser quem tenta corrigir o erro. Apesar de tudo, creio não ser impossível restituir a dignidade aos lugares e a beleza às celebrações para glória de Deus e bem-estar de todos.

Termino com uma sugestão muito concreta. Quando entrarmos numa igreja, olhemos para a frente e olhemos para dentro. Procuremos sentir que Deus está à nossa frente e que Deus Se encontra dentro de nós. Nessa altura, fechemos os lábios e fechemos os olhos. Haveremos de notar que Deus nos vê e nos fala. Deixemo-nos envolver pelo Seu amor. E habitar pela Sua infinita paz!

 

publicado por Theosfera às 13:55

É tanto o que dás, Senhor.

Tudo em Ti é dom, tudo em Ti é dádiva.

 

Tu dás o Pão, Tu dás a Palavra.

Tu és o Pão, Tu és a Palavra,

Pão que alimenta, Palavra que salva.

 

Tu apontas como exemplo uma pobre viúva.

Deu pouco, mas o pouco que tinha era muito, era tudo.

 

Assim és Tu para nós, assim queres Tu de nós.

O que queres não é que demos pouco, não é que demos muito,

mas que demos tudo.

 

Há muita gente que só olha para os grandes.

Mas são os mais pequenos que têm os gestos grandes,

os gestos maiores, os gestos de maior generosidade.

 

Ensina-nos, Senhor, a dividir

e ajuda-nos a saber multiplicar.

 

Afasta de nós todo o fingimento,

toda a duplicidade.

 

Ajuda-nos a sermos autênticos, sinceros, inteiros.

Faz de nós pessoas transparentes e serviçais.

 

Que não olhemos para as aparências nem para a posição social.

Que só queiramos fazer o bem e dizer a verdade.

 

Ajuda-nos a emoldurar a fé com o amor

pois só o amor é digno de fé.

 

Que não disputemos os primeiros lugares

e que saibamos abrir os lugares para os outros.

 

Que não queiramos tudo só para nós.

Que saibamos repartir com quem se aproxima de nós.

 

Que não queiramos convencer com as palavras dos lábios

e que apostemos sobretudo no testemunho de vida.

 

Que não queiramos ser os melhores.

Que aprendamos a dar o nosso melhor.

 

Que tudo em nós não seja só para nós.

Que tudo em nós seja para os outros.

Como os pobres do Evangelho.

Como Tu, JESUS!

publicado por Theosfera às 11:12

1. Parece que foi ontem e já vai fazer vinte e cinco anos. O muro que se afigurava inderrubável afinal desmoronou-se.

 

O poder da vontade finalmente levou a melhor sobre a vontade de poder.

 

Naquele dia 9 de Novembro de 1989, sentimo-nos todos, uma vez mais, berlinenses.

 

Não era apenas um povo, o alemão, que se reunificava. Eram civilizações, desavindas, que se reaproximavam. Eram sonhos, distantes, que se materializavam.

 

O futuro estava ali. Tinha-nos visitado e mostrara vontade de ficar. Se o fim da História é a reconciliação e a paz, a História dava a impressão de ter encontrado o seu fim: o seu fim sonhado, o seu fim chorado, o seu fim sofrido, o seu fim conseguido e celebrado…

 

Mas, ao contrário do que pensavam muitos como Francis Fukuyama, o fim da História não se decreta em momentos de deslumbramento.

 

Depressa nos apercebemos de que a queda do muro constituiu uma realidade que não foi totalmente integrada e um sinal que não foi plenamente acolhido.

 

O muro caiu no exterior. Mas rapidamente outros muros se ergueram no interior: no interior da humanidade, no interior dos povos, no interior das comunidades, no interior das famílias, no interior das pessoas.

 

O adversário, quiçá o inimigo, já não é apenas o outro país. É, muitas vezes, a outra pessoa.

 

Se repararmos, os noticiários inundam-nos tanto com a pequena criminalidade como com os grandes conflitos.

 

O homicídio do vizinho (e, não raramente, do próprio familiar) ocupa tanto espaço como os ataques no Iraque ou os atentados no Paquistão.

 

 

2. O mundo está diferente e, por estranho que pareça, está também mais indiferente.

 

Há um muro crescente — e cada vez menos invisível — entre as pessoas, entre cada pessoa e o resto da sociedade, entre cada pessoa e o resto da humanidade.

 

Que elos de ligação subsistem? Que projectos comuns se mantêm?

 

Sem nos apercebermos, fomo-nos habituando a olhar para o outro como aquele que nos pode passar à frente na escola, como aquele que pode ficar com o nosso emprego, como aquele que pode remover-nos do nosso lugar, da nossa posição.

 

Como escreve Daniel Innerarity, «o estudo da sociedade dá-nos, hoje, a imagem de um campo desestruturado».

 

A sociedade está a deixar de ser uma agregação de pessoas que interagem para passar a ser, cada vez mais, uma federação de interesses que conflituam e, inevitavelmente, colidem.

 

O que há de comum não é um pensamento, um projecto ou um ideal, mas a exclusão, o risco e a simulação. Para Daniel Innerarity, «a centralidade destas dimensões ainda não converteu a sociedade numa coisa irreal, embora o pareça, mas impõe-nos a necessidade de modificar o nosso conceito de realidade».

 

 

3. Mudar sempre foi uma necessidade e impõe-se, crescentemente, como uma urgência.

 

Também este mês faz sete anos que o Papa Bento XVI alertou para esta prioridade.

 

«É preciso mudar!» Foram as palavras que saíram dos lábios do Santo Padre no dia 10 de Novembro de 2007.

 

O desígnio da mudança é transportado pela Igreja de Cristo desde sempre. Não se trata só de reconhecer a mudança. Trata-se, acima de tudo, de corporizar e de oferecer a mudança.

 

A Igreja não pode limitar-se a analisar as mudanças que se operam na realidade do mundo. Ela mesma tem de ser uma proposta de mudança dentro dessa mesma realidade.

 

4. Causa perplexidade verificar que, em Igreja, há quem prefira as mudanças operadas na realidade à mudança trazida pelo Evangelho.

 

Existe uma espécie de resignação perante as mudanças em curso no mundo e uma resistência à mudança proporcionada por Cristo.

 

Só que, ao invés do que se possa julgar, não é assim que melhor se serve as pessoas.

 

O mundo espera da Igreja algo diferente porque sente que a Igreja é portadora de uma diferença. Para dizer o que toda a gente diz e fazer o que toda a gente faz não é preciso haver Igreja.

 

Sucede que, na própria Igreja, se erguem muros. Nem o Papa está livre. Tantas vezes ele é aplaudido. Mas quantas vezes será seguido?
publicado por Theosfera às 10:00

Não há dúvida.

É imperioso estar atento às questões de hoje. Mas é preciso perceber que as questões reclamam respostas.

Quem formula as questões espera uma resposta.

Não basta ser eco do perguntar. É fundamental oferecer um horizonte para responder.

E algo se vai impondo à medida que o tempo passa e a inquietação cresce

As perguntas de hoje tornam cada vez mais pertinentes as respostas de sempre.

Os nossos tempos acalentam uma grande saudade do perene. E transportam uma enorme paixão pelo eterno!

publicado por Theosfera às 08:14

É outro dia. É bom que sejamos outros em cada dia.

Não é o dia que é melhor. Nós é que devemos ser melhores em cada dia.

Saramago apercebeu-se: «Nenhum dia é festivo por já ter nascido assim: seria igualzinho aos outros se não fôssemos nós a fazê-lo diferente».

Seja diferente. Faça diferente este dia!

publicado por Theosfera às 08:06

Hoje, 09 de Novembro, é dia da Dedicação da Basílica de S. João de Latrão (sé catedral do Papa enquanto Bispo de Roma), S. Teodoro e S. Luís Morbióli.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:00

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