Tirando a Bíblia, o livro dos livros, será difícil catalogar as obras literárias.
Qual será o livro mais importante? O livro mais célebre? E o livro mais belo?
Quanto a este último, confesso que não tenho grandes hesitações. «O principezinho» é muito mais que a sequência de citações que aprendemos a decorar.
É toda uma história de iluminação, de saudável inversão dos padrões de maturidade que incorporámos.
É uma exaltação do ser criança que sabe mais a profundidade do que muitos dos livros tidos por mais doutos.
Foi escrito há precisamente 71 anos, em 1943.
Trata-se de um aviso muito subtil. Hoje, os nossos olhos alcançam praticamente tudo. Os nossos olhos esticaram-se.
Temos os óculos, temos a tv, temos a net. Só que, como avisa Saint-Exupéry, «os nossos olhos são cegos».
Detectam as pegadas. Advertem as pisadelas, Notificam os estrondos.
Mas isso não é o essencial. «O essencial é invisível aos olhos».
Como ver, então? «Só se vê bem com o coração».
O coração é o único capaz de apagar feridas, de descobrir atalhos quando os olhos não enxergam caminhos.
Os mais crescidos têm muita dificuldade. Os mais crescidos são «muito esquisitos».
É por isso que o livro é dedicado à criança que os mais crescidos já foram. Mesmo que muitos não se lembrem disso!