1. Não se pense que os caminhos da santidade são lineares. Não. Também a santidade é feita de altos e baixos, de avanços e recuos, de tropeços e até de traições.
Hoje, venho falar-vos de alguém que morreu há 155 anos (4 de Agosto de 1859).
Era uma pessoa de excepcional bondade, humildade e santidade. Mas todos os obstáculos lhe foram colocados desde o princípio.
O Padre João Maria Vianney, mais conhecido como Cura d’Ars, entrou muito tarde no Seminário e teve muitas dificuldades nos estudos.
Uma vez que o bispo não se encontrava na Diocese, foi enviado à Diocese vizinha, que distava cem quilómetros, para ser ordenado. Fez todo o percurso a pé sob o sol escaldante de Agosto.
Ninguém da família o acompanhou. Regressou novamente a pé!
2. O Santo Cura d'Ars levantava-se de madrugada. Entregava-se à oração das Horas. Celebrava a Eucaristia. Recitava o Rosário. Dava-se à catequese. Permanecia no confessionário.
Penitenciava-se em excesso. Macerou o corpo, privando-se de qualquer conforto.
Primou sempre por uma irrepreensível delicadeza, mesmo diante de quem era pouco delicado para com ele. Nunca querelou com ninguém, nem quando foi acusado de tudo. Manteve sempre a compostura e a serenidade.
Houve quem chegasse a insinuar que o aspecto macerado do seu rosto, fruto de uma penitência constante, se ficaria a dever a uma vida devassada! Mas o Padre João Maria Vianney nunca se deixou abater.
3. O Santo Cura d'Ars amava a pobreza e convivia com os pobres: «Embora manejasse com muito dinheiro (dado que os peregrinos mais abonados não deixavam de se interessar pelas suas obras sócio-caritativas), sabia que tudo era dado para a sua igreja, os seus pobres, os seus órfãos, as suas famílias mais indigentes».
Por isso, ele «era rico para dar aos outros e era muito pobre para si mesmo». Explicava: «O meu segredo é simples: dar tudo e não guardar nada».
Quando se encontrava com as mãos vazias, dizia contente aos pobres que se lhe dirigiam: «Hoje sou pobre como vós, sou um dos vossos».
Ao meio-dia, tomava uma frugalíssima refeição que lhe faziam chegar. Tão frugal era o almoço que, até à uma da tarde, dava para ler a correspondência, para varrer a casa, para dormir um pouco e para visitar alguns doentes.
Pouca gente sabe, mas o Santo Cura d'Ars também foi cónego. Muito a contragosto, diga-se.
Ele aceitou a custo, fazendo questão de vender a indumentária para gastar com os pobres. E não faltou quem a comprasse...oferecendo-a na mesma ao virtuoso sacerdote.
Até para os santos, as distinções são um problema. E também eles nos ensinam como lidar com elas: não reclamá-las, não recusá-las e não usá-las!
4. É bom ter presente que S. João Maria Vianney foi muito incompreendido e bastante atacado. Infelizmente, os seus maiores detractores eram alguns dos seus colegas padres, que não se coibiram, em público ou em privado, de, a seu respeito, tecerem as mais acrimoniosas filípicas.
No fundo, era a inveja por verem os seus paroquianos a correr para Ars. Chamavam-lhe fanático, falso humilde e até vaidoso o consideravam!
Alguns começaram a escrever-lhe cartas anónimas com as insinuações mais soezes: «Dizem que V. Rev.cia é um santo; faria bem em moderar o seu zelo; caso contrário, ver-nos-emos obrigados a chamar a atenção do senhor Bispo».
Um colega recriminara-o, em voz alta, por não ter faixa. Ouvindo a censura, respondeu o Prelado: «O Padre João Maria tem mais valor sem faixa do que muitos com faixa!»
Uma vez, acusaram-no mesmo ao Bispo como sendo louco. Resposta pronta deste: «Como eu desejaria para todo o meu clero um grãozinho dessa loucura!»
O Santo Cura d'Ars foi sempre um paladino da fé e um distribuidor generoso do amor de Deus junto de todos. Nada o venceu. Ninguém o deteve. Deixou-se sempre conduzir pelo Espírito. Morreu esgotado. Faleceu extenuado. Cansado. Mas pleno e plenificante. Vidas assim nunca se apagam!