O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Domingo, 31 de Agosto de 2014

A. Na missão, também há um tempo para calar

1. Para avançar, temos, por vezes, de recuar. Propunha, por isso, que voltássemos um pouco atrás. Que voltássemos um pouco atrás no tempo e que voltássemos um pouco atrás no texto.

Retomemos, então, o final do texto que, no passado Domingo, nos era proposto na proclamação do Evangelho. Trata-se de uma ordem, de uma ordem terminante, mas talvez um pouco estranha. É quando Jesus «ordena aos Seus discípulos que não dissessem a ninguém que Ele era o Messias»(Mt 16, 20).

Com efeito, estando os discípulos, e especialmente os Doze, destinados a serem enviados para falar de Jesus e a actuar até em nome de Jesus (cf. Lc 10, 16), pode parecer estranho que surja uma proibição de cumprir essa missão. Acontece que, como escreveria o nosso Fernando Pessoa, primeiro estranha-se, depois entranha-se. E o que, antes de mais, importa entranhar em nós é que, também na missão, existe um tempo para tudo.

Como diria o sábio Qohélet, também na missão, existe um tempo para falar e um tempo para calar (cf. Ecle 3, 7). Diria que, também na missão, deve existir um tempo de calar antes de falar. Daí que, como alerta Ruben Alves, a missão preceitue cursos não só — nem principalmente — de oratória, mas também — e sobretudo — de escutatória.

 

2. Antes de falar, é fundamental que o enviado escute o Enviante. É nesse sentido que a primeira tarefa dos apóstolos é andar com Jesus (cf. Mc 3, 14). Só assim é que O irão conhecendo. Só quem escuta Jesus está em condições de anunciar Jesus. Mais: só quem está com Jesus é que pode mostrar Jesus. Eis a diferença substancial entre o aluno e o discípulo: o aluno ouve o mestre, o discípulo vive com o Mestre.

Para que a missão não redunde num desencontro com as pessoas, ela tem de nascer do encontro com Jesus Cristo. A formação é vital para o êxito da missão. E formação é precisamente receber a forma, neste caso, receber a forma de Cristo, para que, na missão, não sejamos nós, mas Cristo em nós (cf. Gál 2, 20).

 

3. Pedro e os outros discípulos já sabiam bastante sobre Jesus. Podemos dizer até que já sabiam o essencial sobre Jesus. Eles já sabiam que Jesus era o Messias, que Jesus era o Cristo. A propósito, convirá recordar que Messias é o equivalente hebraico de Cristo e Cristo é o equivalente grego de Messias. O significado é o mesmo: ungido, consagrado.

Assim sendo, porque é que Pedro e os outros discípulos não podiam dizer que Jesus era o Messias (cf. Mt 16, 20)? O problema é que eles já sabiam muito, mas concluíam mal. A concepção dos discípulos sobre o Messias era não só diferente, mas também oposta à concepção de Jesus.

Para eles, Jesus era um Messias triunfador e haveria de ser aquele que iria sobretudo libertar o povo de Israel da ocupação romana. Ou seja, Jesus seria não um servidor, mas um dominador. Na cabeça de Pedro e dos outros discípulos, um Messias vinha para ser servido, não para servir. Nem, muito menos, para sofrer e ser morto (cf. Mt 16, 21).

 

B. Jesus é «escândalo» para Pedro

4. É por isso que antes de Pedro ser fonte de escândalo para Jesus, Jesus também foi fonte de escândalo para Pedro. Não foi só Pedro a ser um estorvo para a missão de Jesus. Jesus também parecia ser um estorvo para as ambições de Pedro, para os interesses de Pedro (cf. Mt 20, 21). Tudo somado, percebe-se que Pedro ainda não estivesse preparado para falar de Jesus.

Definitivamente, não basta conhecer Jesus. É fundamental — e decisivo — assumir por inteiro as implicações existenciais que decorrem desse conhecimento. À pergunta «quem é Jesus?» não se responde com os lábios, só se responde com o testemunho de vida. Só conhece Jesus quem procura fazer sua a vida de Jesus, quem está disposto a dar a vida como Jesus. Só conhece Jesus quem está disposto, como Jesus, a dar a vida por todos, especialmente pelos mais pequenos. Porque é sobretudo neles que Jesus Se encontra: «Tudo o que fizerdes ao mais pequenino dos Meus irmãos, é a Mim que o fazeis»(Mt 25, 40).

 

5. Jesus não Se encaixava, portanto, nas expectativas de Pedro acerca de Jesus e do messianismo de Jesus. Aconteceu a Pedro o que, tantas vezes, acontece a nós: queremos um Jesus à nossa imagem, à nossa medida.

O «Grande Inquisidor», de que fala Dostoiévsky, nem diante do próprio Jesus recuou. Ele é a figuração de quantos não suportam o verdadeiro Jesus. O verdadeiro Jesus vinha perturbar o «Grande Inquisidor». Daí que O tenha mandado prender.

Não raramente, também nos passa pela cabeça sequestrar Jesus: nos nossos arquétipos, nos nossos interesses, nas nossas conveniências. Como nós não queremos mudar, atrevemo-nos a pretender mudar o próprio Jesus.

Nessa altura, não falamos de Jesus; falamos de nós, falamos da nossa imagem de Jesus. E, de facto, há por aí tantos Cristos que estão longe de Jesus, do autêntico Jesus, do inteiro Jesus. A bem dizer, não estamos preocupados com Jesus nem com o Evangelho de Jesus; estamos apenas preocupados connosco.

Essa foi a grande tentação de Pedro. Também ele estava focado em si, preocupado consigo. Estaria, sem dúvida, a pensar na libertação de Israel da ocupação romana, mas não deixaria de pensar em algum lugar importante para si. Aliás em Mt 19, 27, ele faz a pergunta directa: «Nós que deixámos tudo, que recompensa teremos?» E também ele ficou indignado por a mãe de Tiago e João solicitar os dois principais lugares para os filhos no reinado de Jesus (cf. Mt 20, 21).

Porém, Jesus é muito claro. Ele não tem lugares para assegurar nem sinecuras para distribuir. Ele tem uma proposta para fazer: segui-Lo. E quem O seguir beberá do Seu cálice (cf. 20, 23), isto é, passará pela condenação e até pela morte. Enfim, Jesus não vem para dominar, mas para servir e ensinar a servir (cf. Mt 20, 28).

 

6. Só que os discípulos não eram uns alunos propriamente solícitos. O processo de aprendizagem não foi nada fácil. E Pedro vai mesmo ao ponto de ponderar que o Mestre estivesse equivocado quando anuncia o sofrimento e a morte. Não hesita, por isso, em repreendê-Lo: «Deus Te livre de tal, Senhor. Isso não Te há-de acontecer»(Mt 16, 22). Mais tarde, dirá que pretende seguir o Mestre, dando a vida por Ele (cf. Jo, 13, 37). O certo é que Jesus — que pouco antes elogiara Pedro — agora censura, e censura fortemente, o mesmo Pedro. As palavras são duríssimas: «Vai-te da Minha frente, Satanás!»(Mt 16, 23).

Pedro comportara-se como um acusador, o significado etimológico de Satanás, «aquele que acusa». E, na prática, as palavras de Pedro soaram como uma acusação. Jesus parecia afastar-se daquilo que Pedro considerava ser o conceito mais conveniente de Messias.

Daí que Pedro reaja como um adversário. O discípulo é aliado do Mestre quando escuta o Mestre. Mas pode torna-se seu adversário quando tenta sobrepor-se a ele. Pedro, que há pouco estava inspirado por Deus, agora parece estar permeável a Satanás. Razão tem, pois, S. Paulo quando recomenda a quem está de pé para ter cuidado já que depressa pode cair (cf. 1Cor 10, 12). E ninguém está livre de uma queda.

 

C. Pedro é «escândalo» para Jesus

7. Creio que foi Lutero quem avisou que onde Deus constrói uma «igreja», o diabo constrói uma «capela». A função do diabo é a que decorre da etimologia do seu nome: separar. A sua pretensão é, em tudo, separar-nos de Deus. Não espanta, por conseguinte, que se diga que Deus está nos pormenores e que o diabo se encontra nos detalhes.

No homem, há um contínuo balanceamento entre bem e o mal. Sto. Agostinho observou que «todo o homem é Adão e todo o homem é Cristo». É importante estarmos precavidos. É bom contarmos com o mal, embora o bem seja claramente mais forte. Nós é que podemos ser fracos, não nos apercebendo sequer do assédio do mal. O seu maior trunfo — e triunfo — é levar-nos a não darmos conta da sua presença, da sua persistência.

É evidente que, como adverte S. Paulo, «nada nos separará do amor de Deus»(Rom 8, 38). Mas só em Jesus Cristo estaremos unidos a Deus. Sem Ele, como Ele avisou, nada podemos fazer (cf. Jo 15, 5). Sem Ele, não valemos nada. Sem Ele, não somos nada.

 

8. Pedro ainda não estava totalmente com Jesus. Estava perto, mas ainda não se encontrava totalmente próximo. Ainda havia neblinas, ainda havia resistências. O mal de Pedro foi achar que já sabia tudo e que, nessa medida, já era mestre. Julgava que já não precisava de mais formação. Trata-se de um perigo que pode ser fatal. Não é em vão que Jesus diz aos discípulos que não se deixem tratar por mestres (cf. Mt 23, 10). O discípulo deste Mestre nunca passa a mestre. O discípulo nunca deixa de ser o que é. E será óptimo que seja sempre discípulo.

Não espanta que, com linguagem dura (como, muitas vezes, é a linguagem da verdade), Jesus ponha Pedro no seu lugar, no seu devido lugar: no lugar de discípulo. Dizer «sai da Minha frente» equivale a dizer «põe-te atrás de Mim». Só assim é que o discípulo segue o Mestre, pois se o discípulo for à frente do Mestre, como é que poderá olhar para o Mestre? Não é o discípulo que tem de mostrar o caminho ao Mestre; o Mestre é que tem de mostrar o caminho ao discípulo.

Caso contrário, o discípulo tropeça e pode levar outros a tropeçar. O objectivo do discípulo é seguir em frente com o Mestre e não pôr-se à frente do Mestre. Se se colocar à frente do Mestre, perturba o caminho. Só o Mestre sabe a direcção do caminho. Só o Mestre é o caminho (cf. Jo 14, 6). Só o Mestre sabe para onde ir. O caminho do discípulo é o caminho do Mestre.

 

9. Note-se que Jesus não subestima Pedro. Pelo contrário, Jesus promove Pedro pois não há maior glória para o discípulo do que seguir o Mestre. O discípulo está certo quando procura imitar o Mestre.

As palavras do discípulo não são palavras próprias, são palavras ecóicas, são o eco da Palavra do Mestre. De resto, já no Antigo Testamento, se diz que Deus põe as Suas palavras na boca do profeta (cf. Jer 1, 9). E Jesus afirma claramente que as palavras dos discípulos são as Suas palavras: «Quem vos ouve, a Mim ouve»(Lc 10, 16).

O principal atributo do discípulo não é a eloquência, mas a fidelidade. O que se espera de um discípulo é que seja fiel, fiel ao seu Mestre (cf. 1Cor 4, 1). Pedro, no episódio relatado, não estava a ser fiel. E, sem fidelidade, Pedro não era pedra de construção, mas pedra de tropeço, pedra de escândalo (cf. Mt 16, 23).

«Escândalo» significa precisamente tropeço, ou seja, trata-se de uma pedra que dificulta o caminho. Trata-se, pois, de uma pedra que leva a cair. Sem fidelidade, Pedro é estorvo, é obstrução, é queda. E, atenção, é muito fácil, tremendamente fácil, passar de uma situação a outra, passar da fidelidade à infidelidade.

Pedro é pedra de escândalo quando coloca os interesses humanos acima dos interesses de Deus. Tantas vezes, isto tem acontecido. Tantas vezes, isto nos pode acontecer. Só pelo caminho da humildade podemos reconhecer o risco. E só pelo caminho da conversão poderemos vencer o perigo. Ninguém está livre de ser tentado. Nem Pedro escapou à tentação. Até o primeiro dos discípulos foi assediado pelos interesses pessoais.

No «chek up» que Jesus faz a Pedro e, em Pedro, a todos os discípulos, a doença que mais avulta é o egoísmo. A maior doença do discípulo é não dar a Deus o lugar que merece: o lugar primeiro, o lugar central.

 

D. Não há cristão sem Cristo e não há Cristo sem Cruz

10. Estamos, assim, diante de um verdadeiro apocalipse de Pedro. Jesus revela Pedro ao próprio Pedro, desvelando as suas virtudes e não velando os seus limites. Quanto a estes últimos, aponta o meio para superar as debilidades: sair de si mesmos. Se o problema do discípulo são os interesses pessoais, a solução é renunciar a esses interesses: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo»(Mt 16, 24).

É muito exigente, é muito difícil, mas, se pensarmos bem, é elementar. O maior adversário do discípulo não são os outros. O maior adversário do discípulo pode ser ele mesmo quando se desliga de Cristo. Ao contrário do que achava Jean-Paul Sartre, o inferno não são os outros. Como bem notou o Abbé Pierre, «inferno é viver sem os outros», contra os outros.

O discípulo é aquele que não vive de si nem para si; é o que faz sua a vida do Mestre (cf. Gál 2, 20). Aqui, não pode haver equívocos nem sobreposições. Zubiri dizia que «viver é optar» e Bergson deduziu que «escolher é [também] rejeitar». Neste caso, para dizer sim a Jesus Cristo, é necessário dizer não a si mesmo.

Não se pode seguir Cristo até certo ponto. É imperioso segui-Lo totalmente, com a totalidade da nossa vida. Teilhard de Chardin falava da necessidade de «pancristianizar» a nossa existência. É preciso encher a totalidade da nossa vida com a totalidade da vida de Jesus Cristo.

 

11. Sucede que, para perplexidade de muitos — incluindo o próprio Pedro —, a totalidade de Cristo inclui a Cruz. Não há cristão sem Cristo e não há Cristo sem Cruz. É preciso pegar na Cruz todos os dias (cf. Mt 16, 24). A Cruz foi onde Cristo disse totalmente não a Si, para dizer totalmente sim ao Pai (cf. Mt 26, 39).

Neste contexto, menos que tudo é nada. Se Deus Se dá totalmente a nós, é de esperar que nós nos demos totalmente a Ele e, n’Ele, aos irmãos. Como o Papa Francisco tem recordado, a Igreja de Jesus tem de ser uma Igreja em saída, uma Igreja em permanente saída para que todos possam entrar.

Só quem sai consegue que outros entrem. E só quem perde, consegue ganhar.  Quem perder a vida por causa de Jesus Cristo, há-de voltar a ganhá-la (cf. Mt 16, 25). Nunca perde quem se perde em Cristo. Ele é vencedor porque é doador, é aquele que se dá. Dando, dando-nos, nunca perderemos, nunca nos perderemos.

Compreendemos, então, o convite de S. Paulo para que nos «ofereçamos a nós mesmos como vítima viva, santa, agradável a Deus»(Rom 12, 1). Este é, aliás, o culto que mais agrada a Deus. Não se trata de oferecer coisas no exterior, mas de nos transformarmos a partir do nosso interior (cf. Rom 12, 2).

 

E. Um Deus que não coage, mas seduz

12. Deus é poderoso, infinitamente poderoso no amor, mas não quer ser impositivo. Ele é assertivo, mas não é coercivo. Ele não impõe; propõe, embora proponha com intensidade, com veemência, com urgência. Não anula a nossa liberdade. As Suas propostas respeitam sempre a nossa vontade. «Se alguém quiser seguir-Me»(Mt 16, 24) é fórmula que supõe respeito por quem não queira segui-Lo.

Os Seus apelos não são da ordem da coação, mas da persuasão, do fascínio. Deus não coage nem nos captura; cativa-nos e seduz-nos. Cativa-nos a partir do fundo, seduz-nos a partir de dentro. É a partir do nosso interior que nos sentimos habitados, poderosamente cativados e irresistivelmente seduzidos por Deus. Nada disto se explica, tudo isto se sente.

Jeremias sentiu fortemente: «Seduzistes-me, Senhor, e eu deixei-me seduzir»(Jer 20, 7). E quando estamos seduzidos, somos capazes de compreender o incompreensível, de aceitar o que parece inaceitável e de suportar até o (aparentemente) insuportável. É por isso que Jeremias não recua diante das perseguições nem dos vexames, mesmo que tenha pensado em desistir. Mas acabava por experimentar, «no seu peito, um fogo ardente (…). Esgotava-se para o dominar, mas não conseguia»(Jer 20, 9).

Deus é um sedutor respeitador, mas irresistível. Deus vence sempre e vence sempre connosco, se nos deixarmos seduzir por Ele. Deus seduz o nosso coração. E quando o nosso coração está seduzido, estamos dispostos a tudo.

 

13. A sedução gera uma sede insaciável. A sede de Deus nunca está saciada a não ser no próprio Deus. E não é só quando o calor aperta que sentimos esta sede. Mesmo no frio — sobretudo no frio glacial dos nossos receios —, estamos sempre sedentos, somos sempre seres sedentos.

O salmo responsorial deste Domingo dá guarida a esta sede. Há quem diga que ele foi composto por David, quando estava no deserto de Judá. Mas tanto pode ser o cântico de um sacerdote, como de um membro do coro ou de um rei.

Ele expressa a alegria de estar junto de Deus, dia e noite, no santuário. Ele documenta, acima de tudo, o grito de felicidade da parte de alguém que procura o Senhor na vida e que nunca deixa de O procurar «desde a aurora» (Sal 62, 2).

 

14. Em cada procura, há sempre o gérmen do encontro e cada encontro desperta a vontade de uma nova procura. Daí a exortação de Sto. Agostinho: «Procuremos. Procuremos como quem há-de encontrar. E encontremos como quem há-de voltar a procurar. Pois é quando parece que tudo acaba que tudo verdadeiramente começa»!

Em cada procura e em cada encontro, havemos de perceber que é Deus que toma a iniciativa. Quando vamos à Sua procura, notaremos que é Ele quem primeiro nos procura. E quando O encontramos, sentiremos que é Ele que nos encontra, que é Ele que nunca deixa de nos encontrar.

N’Ele reencontramos o que perdemos. N’Ele nos reencontramos quando nos perdemos. Deus é quem mais irmana os homens. Deus é quem mais faz de nós irmãos.

Façamos, pois, da vida uma festa de encontro. Deixemo-nos encontrar por Deus. E nunca deixemos de nos reencontrar em Deus!

 

publicado por Theosfera às 15:22

Hoje, 31 de Agosto (XXII Domingo do Tempo Comum), é dia de S. Raimundo Nonnato e Sto. Aristides.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:00

Sábado, 30 de Agosto de 2014

A Lei de Deus tem muitos preceitos, mas compendia-se num único mandamento: amar.

O crente é chamado a amar a Deus e a amar o ser humano. Procurará, por isso, amar humanamente a Deus e amar divinamente as pessoas.

Obviamente, amará os que merecem ser amados e não deixará de amar os que não merecem. Até porque estes serão os que precisam mais.

Chesterton dizia que devemos «amar os nossos vizinhos e os nossos inimigos provavelmente porque, quase sempre, são os mesmos».

Andará longe da verdade?

publicado por Theosfera às 09:52

E eis que a maior parte das conversas se cifra na mesma conclusão: «Não foi por mal».

É estranho. Porque é que as pessoas, tão violentas no agir, parecem tão tolerantes no falar?

Talvez por autodefesa. Afinal, por acção ou por omissão, por fas ou por nefas, muitos são os que andam envolvidos na maldade.

O problema é que se pressupõe uma boa intenção como inspiradora de uma má acção. Ou, pelo menos, a boa intenção não conseguiu deter a má acção.

Uma vez mais, estranha-se. A má acção terá sido inspirada por uma boa intenção. O que mais suspeito, porém, é outra coisa. Quando se arruma uma discussão com «não foi por mal», o que me palpita é que, no fundo, não estamos dispostos a fazer nada contra o mal.

«Não foi por mal?» Mas o mal vai alastrando. Imaginem se não fosse por mal...

publicado por Theosfera às 09:45

Ocorre hoje, 30 de Agosto, a memória da Bem-Aventurada Joana Jugan, Fundadora das Irmãzinhas dos Pobres.

 

Viveu nos séculos XVIII e XIX. Era uma pessoa de humildade extrema. Na escola do Mestre, dispôs-se a imitá-Lo até às útlimas consequências.

 

Fazia questão de mendigar para os pobres, em vez dos próprios pobres. A Cruz acompanhou-a sempre.

 

Aliás, na própria obra que fundou, só esteve quatro anos à sua frente. Uma campanha de intrigas e intromissões fizeram com que fosse destituída.

 

Iniciou, então, uma vida de reclusão, um grande retiro de 27 anos. O conselho de S. João Eudes, seu mestre espiritual, acompanhava-a sempre: «A verdadeira medida da santidade é a humildade».

 

Por isso, ela dizia às suas companheiras: «Sede pequenas, pequeníssimas. Conservai o espírito de humildade, de simplicidade».

 

João Paulo II, na homilia da beatificação, ressaltou: «Na nossa época, o orgulho, a busca da eficácia e a tentação dos meios poderosos dominam o mundo e, por vezes, infelizmente, a Igreja».

 

Os santos nunca tiveram vida fácil. Para seguirem a Cristo, passaram por uma via estreita, difícil e, não raramente, dificultada.

 

E os maiores atropelos não vieram de fora. Emergiram a partir de dentro.

publicado por Theosfera às 00:11

Hoje, 30 de Agosto, é dia de Sta. Joana Jugan e S. João Juvenal Ancina.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:00

Sexta-feira, 29 de Agosto de 2014

Com Maria,

um mandamento por dia!

publicado por Theosfera às 14:19

O tempo passa. O passado também passa. E o presente depressa passa a passado.

O que não parece passar é o que vem do passado. O que vem do passado tende a esticar-se pelo presente e a alojar-se no próprio futuro.

Se não fosse uma decisão do remotíssimo século XII, haveria Portugal?

O que vem do passado não passa. Ou, então, está sempre a passar. Está sempre a passar por nós!

publicado por Theosfera às 10:36

Hoje é dia do martírio de S. João Baptista.

 

Pagou com a vida a sua coragem, a sua coerência, a sua frontalidade.

 

E repare-se em dois aspectos de monta que relevam da sua conduta:

 

1) João Baptista não foi corajoso com os pequenos, foi corajoso com os grandes;

 

2) João Baptista não andou a falar de ninguém na sua ausência; falou pela frente.

 

Isso valeu-lhe a vida, é certo, mas fez dele um homem de excepção.

 

O seu exemplo é imprescritível. Será que o seu testemunho é imitável?

publicado por Theosfera às 03:43

Hoje, 29 de Agosto, é dia do Martírio de S. João Baptista e Sta. Sabina.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:00

Quinta-feira, 28 de Agosto de 2014

O interior do ser humano, às vezes, é como os dias.

Também ele amanhece. Também ele entardece. Também ele anoitece.

Só que o homem é mais imprevisível, menos constante.

Ficamos tristes quando a noite anoitece, quando a noite anoitece prolongadamente.

Mas não há noite que dure sempre. A manhã também amanhece.

Nem sempre amanhece quando queremos, é certo. Não esqueçamos, porém, que é a escuridão da noite que antecede as manhãs.

Não desespere na noite. A manhã está quase a vir, quase a amanhecer!

publicado por Theosfera às 11:53

Às vezes, acontece-nos como às máquinas. Os seres humanos também avariam, também ficam imobilizados.

Nessa altura, ficamos à espera de que a inércia funcione. Paramos na expectativa de que as coisas venham ter connosco.

Porque é que não lançamos mão do maior património com que o Criador nos dotou: a vontade?

Já Albert Einstein percebera que «há uma força mais poderosa do que a electricidade e a energia atómica: a vontade».

Não esqueçamos que, como notou Witness Lee, «se houver uma vontade, haverá um caminho».

Pode não conduzir à meta desejada, mas, pelo menos, não desiste de tentar alcançá-la.

E mérito não tem só quem consegue. Mérito tem sobretudo quem tenta, quem insiste, quem nunca deixa de persistir!

publicado por Theosfera às 10:40

Vergados por uma espécie de fatalismo existencial, nós, os portugueses, propendemos a carregar nas tintas negras.

Mas, afinal, há tanta coisa que nos singulariza e devia fazer vibrar.

Se repararmos, um português não se sente estranho em nenhum lado e creio que nenhum cidadão se sentirá estranho no nosso país.

Um português nunca é só português. Ou, melhor, um português é tudo.

Era o que pensava Fernando Pessoa: «O povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo».

Foi sempre tudo. Em Portugal. Em todo o mundo!

publicado por Theosfera às 10:06

Hoje é dia do grande Sto. Agostinho, um dos padroeiros da Diocese de Lamego.
Gigante do pensamento e da sensibilidade, deixa uma obra, ainda hoje, ungida com o manto da genialidade.
Da sua trajectória sobressai o essencial: a vida é uma procura de Deus. Como ele mesmo refere no imortal De Trinitate, importante é procurar. «Procuremos como quem há-de encontrar e encontremos como quem há-de voltar a procurar, pois é quando parece que tudo acaba que tudo verdadeiramente começa».
publicado por Theosfera às 02:58

O que nos impede de seguir o Evangelho, com todas as consequências, são as seduções e as ameaças.

As seduções afastam-nos. As ameaças encolhem-nos.

 

Está tudo nos sermões de Sto. Agostinho.

publicado por Theosfera às 01:55

Faz hoje, 28 de Agosto, 51 anos que foi pronunciado um dos discursos mais célebres do século XX.

Foi proferido por Martin Luther King.

É conhecido pela máxima, várias vezes repetida: «I have a dream» (eu tenho um sonho).

É um sonho que não morreu. É um sonho pelo qual, cinco anos mais tarde (1968), ele mesmo deu a vida.

Já não existe racismo nos Estados Unidos. Mas continua a subsistir a injustiça em todo o mundo. O que não parece persistir é o nível de coragem patenteado por pessoas como Luther King.

O medo sempre existiu. O que parece é que ele está a alastrar, ameaçando vencer-nos.

É possível que, a esta hora, o medo esteja a bater à porta de muitos corações. Mas não lhe ceda, não se submeta a ele.

Luther King é luminoso a este respeito: «O medo bateu à porta. A fé foi abrir. Não havia ninguém».

Ou seja, a fé faz desaparecer o medo.

Vençamos o medo com a fé. E com o testemunho da vida!

publicado por Theosfera às 00:52

Hoje, 28 de Agosto, é dia de Sto. Agostinho, Padroeiro secundário da Diocese de Lamego, e S. Junípero Serra.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:00

Quarta-feira, 27 de Agosto de 2014

Quando há demasiadas palavras pode haver demasiadas curvas.

Eurípedes dizia que «as palavras da verdade são simples».

As palavras devem servir de suporte para que a verdade se mostre. As palavras não existem para se sobrepor à verdade!

publicado por Theosfera às 10:26

A felicidade é uma aspiração. Mas é muito mais que uma mera pretensão.

É legítimo querer ser feliz, mas é fundamental fazer por merecer a felicidade.

O Dalai Lama notou: «A felicidade não é algo que apareça pronto a consumir. Esta vem a partir das nossas próprias acções»!

publicado por Theosfera às 10:21

A 27 de Agosto de 1999, D. Hélder Câmara, o Homem que tinha como lema In Manus Tuas (Nas Tuas Mãos) despediu-se da vida terrena.

 

Quando soube da sua morte, D. Manuel Martins, Bispo emérito de Setúbal disse: «Um gigante da história da Igreja que impressionava pela sua fragilidade humana, mas albergava uma coragem do tamanho do mundo».

 

Quem não precisa de conversão? - perguntava ele no título que encimava um dos seus livros.

 

Esta é uma pergunta que nunca deixará de ser pertinente. Obrigado por tudo.

publicado por Theosfera às 00:12

Há muitas vias para chegar a Deus, até as lágrimas.
No que nos diz acerca de sua Mãe, Sto. Agostinho mostra como as suas lágrimas obtiveram o pretendido: a sua própria conversão. Levou tempo, mas foi possível.
Neste dia de Sta. Mónica, uma homenagem a tantas mães que choram os (des)caminhos de seus filhos. Não esmoreçam. A via lacrimarum consegue prodígios. Deus não esquece quem tem a grandeza de chorar. Deus enxuga as nossas lágrimas. Amolece o nosso pranto.
Ânimo, pois. E muita paz.

publicado por Theosfera às 00:09

Hoje, 27 de Agosto, é dia de Sta. Mónica e S. Gabriel Maria.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:03

Terça-feira, 26 de Agosto de 2014

A 26 de Agosto de 1978 foi eleito o Cardeal Albino Luciani, Patriarca de Veneza, que adoptaria o nome de João Paulo I.

Assinala-se hoje o 36º aniversário do encerramento do conclave que durou apenas 26 horas e que elegia o sucessor de Paulo VI.

Abria-se um dos pontificados mais breves da história da Igreja: apenas 33 dias. João Paulo I viria a falecer no dia 28 de Setembro.

«Humilitas» foi o lema do Papa João Paulo I como Bispo. Humildade é, de facto, a vértebra dos homens verdadeiramente grandes, dos que abdicam de si para se entregarem a Deus e ao próximo.

O pontificado terá sido breve, mas a sua herança não deixará de ser longa. Todos nós, membros da Igreja, precisamos de muita humildade.

publicado por Theosfera às 16:18

Faz hoje, 26 de Agosto, 104 anos que nasceu Madre Teresa de Calcutá.

 

Isto é o que diz o registo. Porque o que ela sempre afirmou era que o dia do seu nascimento foi quando encontrou um leproso em fase terminal numa rua. Este, nos seus braços, desabafou: «Vivi como um cão, mas hoje posso dizer que morro como um anjo»!

publicado por Theosfera às 05:31

Hoje, 26 de Agosto, é dia de Sta. Micaela, S. Domingos de Nossa Senhora, S. Liberato, Sta. Maria de Jesus Crucificado e Sta. Teresa Jornet.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:00

Segunda-feira, 25 de Agosto de 2014

Não é a queda que torna o homem pequeno. É a desistência que pode tornar o homem inútil.

Às vezes, e como intuía Aristóteles, «é no fundo de um buraco ou de um poço, que acontece descobrir-se as estrelas».

Por isso, nunca comece a desistir e nunca desista de começar. Mesmo que lhe custe.

publicado por Theosfera às 10:23

São Luís, que hoje comemoramos, foi rei de França. Mas a sua preocupação era a vida com Deus e a justiça.

 

Ao filho, que lhe sucedeu no trono, pediu que fosse sempre justo nas suas decisões. Que não prejudicasse os pobres por serem pobres. E que (vejam só!), em caso de dúvida, beneficiasse os pobres.

 

Vivia num clima de ascese. A penitência era contínua. E, às sextas-feiras, procurava não rir. O jejum do riso é, sem dúvida, importante. Sobretudo quando nos apetece rir dos outros.

 

Rir para os outros, sim. Sobretudo se for um riso puro. Agora rir dos outros jamais.

publicado por Theosfera às 10:17

A igualdade é, inquestionavelmente, um bem que nem sempre se verifica.

Aliás, a igualdade desejável acarreta, quase sempre, uma desigualdade inevitável. Ou seja, a própria igualdade desagua em alguma desigualdade.

A igual liberdade de todos leva a que cada um actue de modo diferente e alcance resultados também diferentes.

O importante é que a lei corrija os excessos e proteja os mais vulneráveis.

Se a igualdade for excessiva, é a própria liberdade que fica em causa: a liberdade de muitos terem acesso ao essencial.

E isso não pode ser tolerado. Só há liberdade na justiça!

publicado por Theosfera às 10:03

Haverá uma panóplia de diferenças entre os homens e os outros animais.

Algumas dessas diferenças não nos deixarão muito favorecidos.

Mark Twain, por exemplo, assinalava a gratidão. Ou, melhor, a falta de gratidão. «Se agarrares num cão esfomeado e lhe deres de comer, ele não te morde. Esta é a principal diferença entre um cão e um homem».

Sê-lo-á em muitos casos. Mas ainda há quem seja diferente. Ainda há quem seja perito na (nobilíssima) arte da gratidão!

publicado por Theosfera às 09:53

25 de Agosto é também o dia em que o Chiado ardeu. Foi em 1988.
Nunca mais esqueci esta data porque ela ficou associada ao início do meu estágio pastoral.
Tinha terminado o (per)curso do Seminário, fora ordenado diácono a 13 de Agosto e, logo a seguir, iniciei os trabalhos que me foram cometidos pelo senhor Arcebispo. Um desses trabalhos era ajudar o então Director da Voz de Lamego, Mons. Simão Morais Botelho.
O primeiro trabalho que me pediu foi uma descrição daquele incêndio.
Esta data e aquele evento ficaram, assim, gravados na minha (pobre) memória.

publicado por Theosfera às 07:25

Tirando a Bíblia, o livro dos livros, será difícil catalogar as obras literárias.

Qual será o livro mais importante? O livro mais célebre? E o livro mais belo?

Quanto a este último, confesso que não tenho grandes hesitações. «O principezinho» é muito mais que a sequência de citações que aprendemos a decorar.

É toda uma história de iluminação, de saudável inversão dos padrões de maturidade que incorporámos.

É uma exaltação do ser criança que sabe mais a profundidade do que muitos dos livros tidos por mais doutos.

Foi escrito há precisamente 71 anos, em 1943.

Trata-se de um aviso muito subtil. Hoje, os nossos olhos alcançam praticamente tudo. Os nossos olhos esticaram-se.

Temos os óculos, temos a tv, temos a net. Só que, como avisa Saint-Exupéry, «os nossos olhos são cegos».

Detectam as pegadas. Advertem as pisadelas, Notificam os estrondos.

Mas isso não é o essencial. «O essencial é invisível aos olhos».

Como ver, então? «Só se vê bem com o coração».

O coração é o único capaz de apagar feridas, de descobrir atalhos quando os olhos não enxergam caminhos.

Os mais crescidos têm muita dificuldade. Os mais crescidos são «muito esquisitos».

É por isso que o livro é dedicado à criança que os mais crescidos já foram. Mesmo que muitos não se lembrem disso!

publicado por Theosfera às 00:11

Hoje, 25 de Agosto, é dia de S. Luís, Rei de França, S. José de Calazans e S. Miguel de Carvalho.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:04

Domingo, 24 de Agosto de 2014

1. Nos últimos tempos, há um nome que infunde medo. Ébola é nome de vírus, é nome de ameaça. Os dados mais recentes indicam que, pelo menos, 2240 pessoas estão infectadas e 1229 pessoas já morreram.

Contudo, não é apenas este vírus que nos intimida. O Ébola afecta muitas pessoas. Mas há outros vírus que envenenam a convivência entre as pessoas. Tudo somado, a nossa vida está sempre em risco e a nossa convivência parece estar continuamente em causa.

Pensemos no vírus do pensamento único e da opinião dominante. Quase ninguém pesquisa, poucos questionam e praticamente todos repetem. De alguns vírus ainda nos apercebemos. Do vírus do pensamento único e da opinião dominante nem damos conta. Parece que nos anestesia, parece que nos traz conformados.

 

2. O que toda a gente diz continua a ser repetido como se de uma verdade se tratasse. O pensamento único é um pensamento preguiçoso e a opinião dominante é pouco diligente. Não se vai à raiz nem se investigam os métodos. Tudo se reproduz em cascata mesmo que se agrida a dignidade e se magoe a pessoa.

Acresce que a intriga não está longe deste ambiente: toda a gente gosta de saber o que toda a gente diz. E se a intriga não está longe, a difamação ou a calúnia costumam também andar por perto. Só a justiça parece ausente. Não falta, com efeito, quem fale mal de quem faz bem e quem fale bem de quem faz mal.

 

3. Ninguém está a salvo de uma insinuação, de uma calúnia. O senso comum, às vezes, aparenta funcionar como que por inércia, por inconfessáveis mecanismos de empatia e rejeição. A uns tudo é permitido, a outros nada parece ser tolerado.

No tribunal da opinião pública, uns são idolatrados e outros imolados. Uns são idolatrados mesmo que acumulem culpas. E outros são imolados, ainda que carreguem virtudes.

 

4. Eis o que, no fundo, acontece a todos ou a quase todos. E eis o que também aconteceu a Jesus. Até Ele, que era a verdade (cf. Jo 14, 6), foi alvejado pela mentira. Até Ele, que passou a vida a fazer o bem (cf. Act 10, 38), foi assediado pelo mal e perseguido pela maldade.

Nem Ele escapou à intriga, à difamação e à calúnia. De facto, não faltou sequer quem Lhe chamasse «impostor» (cf. Mt 27, 63) e quem dissesse que estava possuído pelo «príncipe dos demónios» (cf. Mt 12, 25).

 

5. Como verificámos neste pedaço do Evangelho, o que se dizia sobre Jesus não correspondia ao que Jesus efectivamente era. Jesus sonda os Seus discípulos precisamente acerca do que sobre Ele se dizia. Tantas seriam certamente as perguntas sobre Jesus; tantas deveriam ser as respostas sobre Jesus.

As perguntas indiciam uma vontade de procura e as respostas apontam possíveis vias de encontro. Mas à legítima curiosidade da pergunta parece suceder uma repetida insatisfação nas respostas. Era como se a resposta terminasse não com um ponto final, mas com um novo ponto de interrogação.

A sondagem de Jesus não era para que eles O clarificassem, mas para que Ele os esclarecesse. Jesus pretendia que, mais tarde, os Seus discípulos anunciassem a verdade sobre Ele e não vagas impressões acerca d’Ele.

 

6. Já no tempo de Jesus, a maioria não estava na verdade e a verdade não estava com a maioria. A opinião maioritária achava que Jesus era mais um profeta. Para uns seria João Baptista, para outros Elias, para outros Jeremias ou algum dos profetas (cf Mt 16, 14).

No entanto, não basta saber o que os outros dizem. É preciso testemunhar o que nós mesmos acreditamos. É então que Pedro avança: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo»(Mt 16, 16). Só que, como ressalva Jesus, o que sai da boca de Pedro não vem de Pedro. Pedro ainda não estava em condições de saber tudo sobre Jesus. Pedro foi, por isso, o eco da voz, o eco humano da divina voz.

 

7. Não há felicidade maior: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim Meu Pai que está nos Céus»(Mt 16, 17).

Só Deus sabe quem é Jesus: «Ninguém conhece o Filho senão o Pai»(Mt 11, 27). E, já agora, só Jesus sabe quem é Deus: «Ninguém conhece o Pai senão o Filho»(Mt 11, 27). Deus inspira em Pedro o conhecimento sobre Jesus.

Só na luz de Deus conhecemos quem é Jesus. E só na luz de Deus encontramos a luz (cf. Sal 35, 10) para saber quem é Pedro. Jesus apresenta Pedro como pedra e apresenta-Se a Si mesmo como a Pedra que sustenta Pedro.

 

8. Note-se que, no Antigo Testamento, «rocha», «rochedo» ou «pedra firme» fazem parte de uma terminologia usada, por 33 vezes, para falar de Deus e da solidez do Seu amor. O Salmo 18 (v. 3) exclama que «o Senhor é a minha Rocha e a minha fortaleza». No Novo Testamento, só Jesus e Pedro é que recebem o qualificativo de «pedra». Todavia, Pedro recebe-o não por causa de si — até porque ele é muito vacilante — mas por causa de Jesus.

Sem Jesus, Pedro é uma pedra pouco útil e pode ser até uma pedra perigosa. Sem Jesus, Pedro é uma pedra de tropeço, uma pedra de atropelo. Sem Jesus, Pedro é uma pedra que não serve para construir. Só na pedra que é Jesus é que Pedro é uma pedra forte, uma pedra que fortalece.

Sem Jesus, Pedro não vale nada. Tem de ser Jesus a segurá-lo quando ele começa a afundar-se após duvidar (cf Mt 14, 31). E tem de ser Jesus a reabilitá-lo depois de ele O ter negado (cf. Lc 22, 62). Ao negar Jesus, Pedro nega-se a si mesmo como discípulo de Jesus.

 

9. A importância de Pedro vem de Jesus. A nossa ligação a Pedro é, afinal, uma ligação a Jesus presente em Pedro. Pedro é de Jesus, tal como toda a Igreja é de Jesus. Daí o possessivo «Minha Igreja»(Mt 16, 18), que poderia ser precedido ou sucedido pelo possessivo «Meu Pedro».

Pedro só está seguro na Pedra que é Jesus. Aliás, o próprio Pedro o reconhece, quando diz que Jesus é a «pedra rejeitada pelos construtores» e que, não obstante, se tornou «pedra angular»(Act 4, 11).

Como assinala D. António Couto, «quem constrói a Igreja é Jesus». Ele é a Pedra que dá segurança à construção. «Cefas» também significa rochedo, mas rochedo esburacado. Só Jesus é rocha firme para toda a Igreja e, portanto, também para Pedro.

 

11. Deste modo, até o inseguro Pedro se torna referência segura para chegar a Cristo. É Cristo que dá segurança a Pedro. É Cristo que nos dá segurança em Pedro. Pedro é o primeiro depois do último. Pedro é testemunha do definitivo de Deus no mundo. A missão de Pedro é acolher e conduzir os que querem entrar na construção do Reino de Deus. Sim, Pedro é o primeiro, o primeiro servidor. Ele não é imitador de César, o imperador, mas seguidor de Jesus, o servo.

Ao longo dos tempos, Pedro já teve muitos nomes. Já teve o nome de João e de Paulo, de João Paulo e de Bento. Hoje tem o nome de Francisco. A missão de Pedro é a mesma: a missão das chaves, das «chaves do Reino dos Céus»(Mt 16, 19).

Ter as chaves é ter um saber e exercer um poder. Trata-se de saber qual o sentido de um texto e de poder abrir a porta de uma casa. Neste caso, trata-se sobretudo de um serviço: «Tudo o que ligares na terra ficará ligado nos Céus, tudo o que desligares na terra ficará desligado nos Céus»(Mt 16, 19).

Estamos, acima de tudo, perante o serviço do perdão. Cristo entrega a Pedro e, como se vê em Mt 18, 18, a toda a comunidade com Pedro a responsabilidade de perdoar. É uma responsabilidade que requer fidelidade. Chebna não foi fiel e Deus afastou-o, confiando a Eliacim a chave da Casa de David (cf. Is 22, 19-20).

 

12. Não só naquele tempo, mas também no nosso tempo, a pedra e as chaves continuam a ser instrumentos necessários. Não só naquele tempo, mas também no nosso tempo, há construções que são pouco sólidas. Não só naquele tempo, mas também no nosso tempo, há portas que continuam fechadas. Precisamos de pedras sólidas e necessitamos de chaves eficientes. Cristo é a pedra que torna seguro o que está vacilante e a chave que abre o que está fechado. N’Ele, tudo está firme. Com Ele tudo se abre.

 

13. O cristão, para ser fiel, tem de ser «cristodependente». Só Cristo nos atrai a «riqueza, a sabedoria e a ciência de Deus», de que nos fala S. Paulo (cf. Rom 11, 33). Só Cristo é vacina contra os vírus dos equívocos trazidos por julgamentos apressados e condenações infundadas.

Cristo é pedra segura, é pedra que nos segura. Mesmo que vacilemos, Ele não nos deixará cair. E se chegarmos a cair, Ele ajudar-nos-á a levantar. As Suas mãos são a nossa salvação!

publicado por Theosfera às 12:01

Abre, Senhor, os nossos olhos.

Abre, Senhor, o nosso coração.

 

Abre, Senhor, a nossa vida.

Abre-nos, Senhor, à vida,

ao amor, ao perdão e à paz.

 

Abre-nos, Senhor, à partilha.

Abre-nos ao dom e à dádiva.

 

Que sejas sempre Tu em nós.

Que sejas verdadeiramente o nosso Senhor.

 

Habita, Senhor, no nosso mundo,

na nossa vida, no nosso coração.

 

Queremos recomeçar com alento.

Dá-nos, Senhor, a coragem e a confiança.

 

Que nós nunca desfaleçamos.

Tu, Senhor, estás sempre em nós.

 

Que nós queiramos estar em Ti,

JESUS!

 

 

publicado por Theosfera às 11:37

É positivo manter uma certa insatisfação. Mas é igualmente necessário alimentar algum contentamento.

Afinal e como já dizia Sócrates, «quem não se contenta com o que tem não ficará contente com o que quererá ter».

Quem não está bem dentro de si nunca estará bem fora de si.

Quem não está bem consigo mesmo nunca estará bem com os outros!

publicado por Theosfera às 08:10

Hoje, 24 de Agosto (XXI Domingo do Tempo Comum), é dia de S. Bartolomeu e Mártires da Massa Cândida.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:00

Sábado, 23 de Agosto de 2014

A realidade deve ser vista na totalidade e não (apenas) na parcialidade.

Quando alguém se isola, decreta-se logo que é anti-social. Até poderá ser. Mas o resto da sociedade também não poderá ser anti-pessoal?

Quem estará certo? Quem estará errado?

Em princípio, a resposta é clara. Mas, no meio e no fim, as coisas poderão não ser tão óbvias.

Já dizia Casimiro Brito: «Se os outros me abandonam, é porque devo estar a aproximar-me do essencial». Quem sabe!

E o essencial, estando ao alcance de todos, costuma ser captado apenas por alguns.

Às vezes, ser solidário não impede que se seja condenado a ser solitário!

publicado por Theosfera às 13:06

Dizem e não fazem.

Eis o que Jesus verbera aos grandes do Seu tempo (cf. Mt 23, 3).

Não falta quem pretenda resolver tudo verbalmente. Mas a palavra dos lábios nada é sem o respaldo da palavra da vida.

Dizer só é relevante quando se faz o que se diz!

publicado por Theosfera às 12:09

Há duas coisas inevitáveis, segundo Benjamim Franklin: a morte e os impostos.

E, segundo o mesmo Benjamim Franklin, são igualmente dois os ingredientes da verdadeira riqueza de uma família: a paz e a harmonia.

Sem esta riqueza, nenhuma outra riqueza enriquece!

publicado por Theosfera às 12:04

Hoje, 23 de Agosto, é dia de Sta. Rosa de Lima, S. Filipe Benício e S. Bernardo de Offida.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:11

Sexta-feira, 22 de Agosto de 2014

A necessidade é muito poderosa. Ela condiciona. Ela impõe-se.

Já dizia Frisch que «quem tem fome não tem escolha».

A necessidade é que escolhe. E as escolhas da necessidade não são fáceis de aceitar pelas suas (muitas) vítimas!

publicado por Theosfera às 09:08

Quem participa nas Missas exequiais sabe que uma das frases mais emblemáticas de um dos prefácios é a que proclama que «a vida não acaba, apenas se transforma» (vita non tollitur, sed mutatur).

 

O que não talvez não se saiba é a origem desta expressão. Ela vem já do século III e pertence a uma mãe. As mães são sempre sábias.

 

Foi, de facto, a mãe de Sinforiano que, vendo o filho a ser julgado pelo crime de ser cristão, animou o filho a que não vacilasse na fé, nas convicções.

 

Curiosamente, o pretexto fora a recusa de Sinforiano em prestar culto àquela que era apontada como mãe dos deuses: Cibeles.

 

Eis o que lhe disse a progenitora: «Renova a tua constância. Não podemos temer uma morte que nos leva, com certeza, à vida. Mantém alto o teu coração, meu filho, olha para Aquele que reina nos Céus. Hoje, a vida não te é tirada; é mudada numa melhor».

 

Refira-se que, neste dia 22 de Agosto, em que se assinala a memória de Nossa Senhora Rainha, também se evoca S. Sinforiano.

publicado por Theosfera às 05:56

Hoje, 22 de Agosto, é dia da Virgem Santa Maria Rainha e S. Sinforiano.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:00

Quinta-feira, 21 de Agosto de 2014

A trajectória de S. Pio X, cuja memória litúrgica ocorre hoje, é uma conjugação maravilhosa entre a proposta e a resposta.

 

A acção de Deus encontrou em José Sarto um acolhimento total. Dotado de natural bondade e proverbial humildade, foi-se disponibilizando para aquilo a que era chamado.

 

Em todos os apelos via sinais de Deus. Sem estudos para lá dos realizados no Seminário diocesano, foi com esapanto que se viu envolvido nas mais altas missões.

 

A eleição papal durou sete longos dias. O eleito foi vetado pelo imperador. A muito custo aceitou a missão, acolhendo-a com uma cruz.

 

Sob o lema instaurar todas as coisas em Cristo, entregou-se sobretudo à formação do clero em todos os sentidos.

 

Nunca pactuou com desvios. Pugnou sempre pela verdade do Evangelho. Deu um grande impulso à liturgia, destacando-se a sua piedade eucarística.

 

Empenhou-se bastante na catequese. O catecismo, que ainda hoje tem o seu nome, é uma referência que muitos continuam a não dispensar.

 

Morreu a 20 de Agosto de 1914. Quando a primeira grande guerra estava a dar os primeiros (e tortuosos) passos.

publicado por Theosfera às 11:52

A violência é o maior absurdo. Presume força e alardeia fraqueza.

Aliás, já Benedettto Croce advertia: «A violência não é força, mas fraqueza, nem nunca poderá ser criadora de coisa alguma, apenas destruidora».

Os que a usam também são por ela engolidos, também não acabam bem, também acabam...

publicado por Theosfera às 10:46

O problema maior não são os problemas. O problema maior é não serem encarados como tal, como problemas.

É como se tudo estivesse virado ao avesso. É como se houvesse um direito à blasfémia, à prevaricação. É como se quem adverte é que fosse culpado. É como se o médico é que estivesse doente e não o enfermo.

Todos podem fazer o que lhes apetece. Parece que só ninguém pode fazer o que deve.

Todos podem fazer o que lhes apetece em qualquer parte. Se a autoridade aparece, investe-se contra a autoridade.

Luís XIV tem muitos seguidores: o estado são eles, os que impõem, os que se impõem sobre os outros.

Falam de dia, gritam de noite.

Viver sem limites é o máximo? Talvez seja o máximo de descaramento.

Mas quando não há limites, o perigo de acidente aumenta.

Se o condutor não domina o carro que conduz, o desastre é iminente!

publicado por Theosfera às 10:39

O dinheiro dá muito, mas também tira bastante.

A partir de certos patamares, em vez de nos servir assenhora-se de nós.

Foi talvez por isso que Eça, no seu estilo muito peculiar, exortou: «A luta pelo dinheiro é santa - porque é, no fundo, a luta pela liberdade: mas até uma certa soma. Passada ela - é a tristonha e baixa gula do ouro»!

publicado por Theosfera às 10:09

O artista não é tanto o que reproduz. É sobretudo o que inventa, o que inicia.

Já dizia André Malraux que «os grandes artistas não são os copistas do mundo, são os seus rivais».

Descontando algum efeito hiperbólico, talvez tenha razão!

publicado por Theosfera às 10:06

O problema da intriga é que ela não se reduz a quem a lança. O maior problema é haver quem a alimente, quem a fomente.

Mas não é só o alvo da intriga que fica em causa. O promotor da intriga também não se sai bem.

Aliás, uma pessoa minimamente séria fica mais ao lado do alvo da intriga do que do causador da intriga.

Era o que pensava Freud: «Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais sobre Pedro do que sobre Paulo».

E, habitualmente, o que sabe não é muito favorável.

Quantas vezes, vistos os factos, o que se diz até é infundado.

Cuidado com o que se diz sobre os outros porque, no fundo, estamos a dizer sobre nós.

A raiva acaba por obscurecer a lucidez!

publicado por Theosfera às 10:00

Hoje, 21 de Agosto, é dia de S. Pio X, S. Sidónio Apolinar, Sta. Umbelina e Sta. Vitória Rasoamanarive.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:00

Quarta-feira, 20 de Agosto de 2014

Talvez para nosso espanto, Voltaire defendia que «a dor é tão necessária como a morte».

A morte não será necessária. Viveríamos bem sem ela. Mas é inevitável. Tal como a dor, aliás.

E, por isso, muito se aprende com a morte e com a dor.

Como a vida seria diferente se escutássemos os seus apelos e ouvíssemos as suas lições.

Tanto ensina a morte. Tanto ensina a dor!

publicado por Theosfera às 10:19

Há quem ache que bom líder é o que se adapta. Mas não falta quem pense que bom líder é o que contraria.

John Galbraith notava que «todos os grandes líderes têm tido um pecado característico em comum: a disposição para confrontar inequivocamente a principal ansiedade dos povos do seu tempo. Isto, e não muito mais, é a essência da liderança».

Grande líder é o que contraria e, mesmo assim, consegue fazer-se respeitar!

publicado por Theosfera às 10:13

Não sei o que leva um pai a matar um filho.

Não sei o que leva um filho a matar um pai.

Mas vou sabendo que isto se vai tornando banal.

São ocorrências que deixaram de ser raras, quando deviam ser impossíveis.

Ninguém é tão humano como o homem.

Mas, às vezes, ninguém consegue ser tão desumano como o homem!

publicado por Theosfera às 10:10

Escher é o artista das construções impossíveis. E do que precisamos é de experimentar a arte do impossível, do até agora impossível.

Como pôr fim à violência? Como pôr fim à guerra?

Os apelos não resultam. As retaliações não resolvem.

Quietos não podemos ficar. Importante seria que todas as armas fossem depostas.

Mas, para isso, uma condição se requer: que haja acordo. E acordo não tem havido.

Não sei como sair aqui. Mas sei, sabemo-lo todos, que não temos grande futuro se continuarmos por aqui. Não há futuro para este presente!

publicado por Theosfera às 09:59

Hoje é dia de S. Bernardo, grande teólogo, grande santo, grande místico, grande orador, grande devoto de Nossa Senhora.

 

Conhecido como doutor melífluo, por causa da bondade que o exornava, não hesitava em recorrer à firmeza quando convicções fortes estavam em causa.

 

E nem sequer os seus superiores hierárquicos (bispos e papas), que ele venerava, ficaram à margem das suas admoestações.

 

Verberava, acima de tudo, a ambição, o fausto e o luxo. Porque vivia de e para Cristo, tudo fazia para o que o seu legado se perpetuasse. E o grande legado de Cristo é a simplicidade. Haverá algo que nobilite mais um cristão?

publicado por Theosfera às 00:29

Os cistercienses, seguidores de S. Bernardo, estabeleceram-se em desertos, onde realizam um duro trabalho manual que é suficiente para o seu sustento e permite também vir ao encontro dos necessitados.

Conhecem um despojamento que os aproximade Jesus Cristo e dos apóstolos.

Rejeitam o sistema social da época, renunciam aos dízimos e feudos que vêm daqueles que têm autoridade feudal e, do mesmo modo, não aceitam os benefícios que poderiam ser propostos pelos homens da Igreja.Com a ideia da igualdade, no mosteiro, não se faz caso da origem social dos monges; todos vivem do mesmo modo.

No que diz respeito ao abade, inclusive ao abade de Cister, encontram-se todos no Capítulo Geral ao mesmo nível.

A simplicidade de vida aparece nos hábitos, nas construções realizadas com linhas geométricas limpas, estilo despojado, sem decorações.

A espiritualidade não está dirigida a uma elite, mas a seres humanos de carne, permeados profundamente do desejo de se converter.

Este quadro estaria incompleto se não se fizesse menção do culto à Virgem das Dores e da Ternura, pronta para socorrer as mais diversas angústias, como para suscitar o respeito da mulher, numa sociedade bastante violenta.

 

publicado por Theosfera às 00:21

Hoje, 20 de Agosto, é dia de S. Bernardo de Claraval e S. Felisberto.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 00:00

Terça-feira, 19 de Agosto de 2014

1. É com indisfarçável melancolia que nós, os mais adiantados em idade, recordamos as chamadas férias grandes.

Perdido nas memórias mas alojado na alma, este era um tempo em que tempo havia.

 

2. Era o tempo em que o tempo sobrava, em que o tempo parecia nunca faltar.

Era o tempo em que o tempo não nos tinha. Nós é que tínhamos tempo. Para tudo. Ou quase tudo.

 

3. Era um tempo em que não se pensava em viagens. O dinheiro escasseava e as oportunidades não abundavam.

A preocupação não era ocupar o tempo. Era sobretudo sentir o tempo. Saborear o tempo. Digerir o tempo.

 

4. Nas férias, o tempo parecia desistir de passar. Dir-se-ia que também repousava.

Não voava, como hoje. Dávamos conta de cada segundo. Os minutos eram tão mastigados que até pareciam esticar as horas.

 

5. Era o tempo em que se sentia não apenas a chuva e o vento, mas até a mais leve brisa se fazia ouvir.

Alguma coisa se fazia, é certo. Nas aldeias, andávamos pelos campos. Ajudávamos os pais na apanha da batata e na colheita da fruta. As noites, longas e tórridas, eram ocupadas com diálogos tecidos de memórias e regados com amizade.

 

6. E quando nada mais havia para fazer, lia-se, via-se e olhava-se: a paisagem, o horizonte, a serra, tudo e nada, o céu e o infinito.

Dirão alguns que seria um tempo aborrecido. E que mal há nisso? Não será saudável haver também um tempo para nos aborrecermos? Não deverá haver também um lugar para o tédio?

 

7. Eu sei que, para as novas gerações, isto parece surreal. Três eram os meses que passávamos praticamente no mesmo lugar, a conviver com as mesmas pessoas. Como era possível?

Não havia internet e poucos eram os que possuíam telefone. A chegada do carteiro era o maior sinal de notícias de alguém distante…

 

8. Coisas de um passado que não volta. Não voltará? De facto, Óscar Wilde dizia que «o principal encanto do passado é que já passou».

Só que há elementos que, por muito que nos custem, podem alterar o figurino da vida que, actualmente, levamos.

 

9. Jeff Rubin deixa-nos uma curiosa descrição do que pode ser a nossa existência a breve prazo. Basta que pensemos, por exemplo, no fim do petróleo.

Será que já imaginamos um mundo onde esta fonte de energia escasseie? Não é preciso puxar muito pela imaginação. Desde logo, as viagens ficarão muito mais caras. E, se o petróleo se esgotar completamente, algumas viagens poderão mesmo tornar-se impossíveis.

 

10. A economia local e a importância dos vizinhos voltarão a adquirir uma nova centralidade.

Segundo Jeff Rubin, «em breve, os nossos alimentos virão de um campo muito mais perto de casa e as coisas que compramos provavelmente virão de uma fábrica ao fundo da estrada». É certo que as previsões têm um problema. Às vezes — muitas vezes? — erram. Para Jeff Rubin, «o futuro será muito parecido com o passado». Será?

publicado por Theosfera às 10:06

Assusta-me a facilidade com que se advogam soluções radicais e se tomam atitudes extremas.

Muitos habituaram-se a defender, até ao absoluto, o primado da vontade própria.

O problema é que tal vontade, sem alguma dose de autodomínio, fica ao arbítrio de impulsos.

A humanidade não está em causa apenas, lá longe, no Iraque ou na Ucrânia. Começa a ficar em risco, aqui perto, em muitos lares.

Também em casa se agride. Também em casa se mata.

Quando perceberemos que conviver não é fazer o que cada um quer, mas pensar no que os outros podem aceitar?

A vida também é feita da abdicação da liberdade de cada um em prol da liberdade dos outros. Se cada um (só) pensar em si, estamos (des)feitos.

Não é só na escola que se aprende a conjugar. A felicidade é mestra na arte da conjugação!

publicado por Theosfera às 09:52

Atenção, muita atenção, aos paradoxos.

A vida visita-nos com muitas surpresas e não raros contrastes.

Ao invés do que possamos pensar, um excesso nem sempre acrescenta. Um excesso, por vezes, apouca, faz encolher.

Confesso-me.

Em jovem, nunca apreciei os formalismos. Sentia-me incomodado e até aprisionado por eles.

Mas o excesso de informalidade, que entretanto alastrou, vai-me fazendo reconhecer a importância de alguma (não muita) formalidade.

Acresce que o excesso de informalidade já não se restringe ao domínio privado. Ele vai invadindo cada vez mais a praça pública.

Há quem ande na rua (quase) como em casa. Há quem vá a uma repartição ou a uma igreja (quase) como vai a uma praia ou a uma esplanada.

Primeiro, ainda se estranhava. Agora, vai-se entranhando cada vez mais.

Dizem que as pessoas estão mais à vontade. Estarão mais felizes?

Um certo aprumo faz falta.

Não cultuo especialmente a aristocracia da linhagem. Mas alguma aristocracia no porte dignifica a pessoa e ilumina a convivência!

publicado por Theosfera às 09:43

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