1. Nada é tão exaltado como a mudança. E nada é tão adiado como a mudança. Muito se fala de mudança. E muito se faz para boicotar a mudança.
Andámos nisto há meses, há anos, porventura há décadas, quiçá há séculos. Enfim, quase sempre a falar; quase nunca a agir.
2. O problema é que se não mudamos de vida, a vida acaba por mudar sem nós.
É preciso ter paciência e é necessário não deixar de ter discernimento.
3. Mudar, sim, mas para melhor. É vital, contudo, que não se confunda paciência com indecisão, com inacção, com resistência à mudança. No limite, se não houver mudança, que, ao menos, não haja retrocesso.
A mudança deve ser feita sem pressas. A prioridade é que seja feita, é que seja bem feita. Sem pressas. Mas também sem pausas. E sem recuos.
4. Entre o ser e o parecer devia haver identidade. Ao olhar para o que parece, devíamos estar em condições de ver o que é. Sucede que a experiência mostra que entre ser e parecer existe distância, conflito. Raramente as coisas são o que parecem e dificilmente parecem o que são.
Acresce que isto não se passa só com as coisas. Com muitas pessoas passa-se o mesmo. No entanto, ainda há quem seja o que parece. E quem pareça o que é.
5. Deus está presente no céu. Mas também não está ausente na terra. Não podemos subestimar os nossos deveres para com a terra. Não há céu sem terra. O céu começa na terra.
Quanto mais nos empenharmos na justiça e na paz na terra, tanto mais estaremos a antecipar o céu. Não fechemos os olhos à realidade. Deus (também) está aqui. Em cada ser humano.
6. Se não quer que se saiba, não faça ou não conte. Só que isto é impossível. Por isso, prepare-se, preparemo-nos.
Michael Azerrad recorda o que todos, no fundo, pressentimos: «A era em que alguma coisa podia ser desconhecida ou ignorada acabou».
7. Hoje em dia, dizer a alguém é arriscar-se a dizer a toda a gente. E o problema não se fica por aqui. É que aquilo que se diz raramente corresponde àquilo que se fez. O «diz que diz» não é uma identidade. Por vezes, é uma adulteração.
Nós retemos o «diz» que nos chega. E esse «diz» frequentemente está muito longe do que outrem disse e fez. A comunicação sujeita-se, pois, a ser uma distorção.
8. Nessa medida, a pretexto de que tudo é conhecido, pode acontecer que tudo seja realmente ignorado.
Há, no entanto, excepções. Ainda. Ainda há quem saiba guardar o que vê e conservar o que ouve. Ainda há quem pugne pela verdade e seja perito na transparência.
9. Muitos são os que me dizem que não há nada pior do que suportar a injustiça, do que esperar (aparentemente em vão) que a justiça seja reposta. Compreendo-os. Têm toda a razão.
Mas, quanto à injustiça, antes suportá-la que provocá-la. E, a seu tempo, a justiça perdida há-de ser reencontrada. E devidamente reposta. Se há justiça, ela há-de vir. Uma justiça ausente seria justa?
10. Da aurora dos tempos vem-nos, via Pitágoras, um precioso (e imprescritível) conselho: «Escuta e serás sábio. O começo da sabedoria é o silêncio».
Diria que é o começo e, não poucas vezes, o meio e o fim. Da sabedoria e de (quase) tudo!