1. Cada dia transporta muitos outros dias dentro de si. Em cada dia são-nos oferecidos muitos outros dias.
Quem já não leu o famoso «Diário» de Anne Frank?
Acontece que tal diário começou a ser escrito neste dia, há 72 anos. E a sua autora também nasceu neste dia, há 85 anos.
2. A última entrada é de 1 de Agosto de 1944.
Dias depois, era conduzida para um campo de concentração onde, alguns meses mais tarde, viria a morrer.
3. O livro oscila entre o trivial (o que se compreende) e o profundo (o que se admira).
Aos 15 anos, em Maio de 1944, verte o seu espanto, a sua grande perplexidade, ao anotar este enorme contraste: «O mundo está virado do avesso. As pessoas mais decentes estão a ser enviadas para campos de concentração, prisões e celas, enquanto os piores governam sobre jovens e velhos, ricos e pobres».
4. Setenta anos depois, Anne Frank continua bem actual. O «avesso» mantém-se: na história dos povos e na vida das pessoas.
Anne Frank percebera, com rara argúcia, que as birras não são (apenas) coisa de crianças.
Acresce que as birras dos mais crescidos — que consequências tão grandes costumam ter — são desencadeadas, por vezes, por questões mais pequenas que as dos mais pequenos.
5. Do alto dos seus 13 anos, Anne Frank «achava estranho que os adultos discutam tantas vezes, e tão facilmente, por questões tão mesquinhas. Até agora, sempre pensei que as birras eram algo que as crianças faziam e que acabava por passar com a idade».
Mas a vida mostra que, em vez de passar, as birras alargam-se, alastram-se e agravam-se. Apesar de tudo, não percamos a esperança nem nos percamos dos ideais.
6. Quando tudo perdermos, não percamos a esperança.
A realidade até nos pode esmagar. Mas, ao menos, esmagar-nos-á na companhia da esperança.
7. Pouco antes de ser detida, Anne Frank tinha consciência de que «o mundo estava a ser transformado num deserto».
E, no entanto, também «tinha a sensação de que tudo vai mudar para melhor, de que a crueldade acabará, de que a paz e a tranquilidade regressarão».
8. Nada (ou quase nada) tendo, agarrava-se «aos seus ideais. Talvez chegue o dia em que possa realizá-los».
Sabemos que esse dia não chegou. Mas os ideais de Anne Frank não morreram com ela. Sobreviveram para além dela. E ela sobrevive com eles.
9. Os ideais perpetuam quem neles acredita. Quem neles vive.
E quem por eles é capaz (até) de morrer!