1 Nestes dias convulsos, a Igreja é chamada a conjugar, cada vez mais, uma dimensão paulina com uma dimensão mariana.
Ela precisa, ao mesmo tempo, do arrojo de Paulo e da silenciosa discrição de Maria.
2. Uma Igreja confidente (que escuta) é o suporte imprescritível de uma Igreja conferente (que anuncia).
Maria não Se destaca tanto pela palavra proferida com os lábios como pela palavra pronunciada com a vida. Ela é, pois, Mãe da Igreja e paradigma do que há-de ser a Igreja Mãe.
3. Se alguma coisa a Igreja recebe de Jesus, é, desde logo, a sua identidade.
Se alguma coisa a Igreja aprende com Maria é, acima de tudo, o seu comportamento.
4. Jesus Cristo apresenta-Se como servo. Maria assume-Se como serva. Os dois constituem as referências supremas do centramento autodescentrado.
O centro de Jesus e de Maria não são Jesus nem Maria. O Seu centro é Deus e o Homem.
5. A esta (dupla) luz, a Igreja tem de se descentrar constantemente para se recentrar permanentemente: em Deus e no Homem.
Ela há-de constituir uma comunidade orante e, simultaneamente, uma comunidade fraterna.
6. Tem de ser uma Igreja «intro-vertida» e «extro-vertida»: voltada para Deus na oração e voltada para a Humanidade na acção.
O membro da Igreja há-de ser, em simultâneo, homo Dei (homem de Deus) e homo hominibus (homem para os homens).
7. É o amor a Deus que nos impele para o amor ao próximo.
Dir-se-ia que há uma espécie de sócio-espiritualidade estribada no duplo mandamento: «Quem ama a Deus, ame também o seu irmão» (1Jo 4, 21).
8. Quanto mais a Igreja se voltar para fora de si, melhor se reencontrará dentro de si. Quanto mais a Igreja se despojar, melhor se redescobrirá.
A Igreja encontra em Maria uma capacidade para perceber que Deus intervém na história para salvar, para libertar. Maria oferece-nos não um Deus «a-pático», mas um Deus entranhadamente «sim-pático». É um Deus que sofre o sofrimento do povo.
9. Em suma, para a Igreja, Maria é espelho e exemplo.
Ela é a realização (já) consumada do que nós (ainda) somos chamados a construir.
10. Embora escondidamente — como notou Hans urs von Balthasar — Maria «governa» a Igreja. Não necessita de ser loquaz para ser eloquente. Basta-Lhe o exemplo.
Maria governa a Igreja pelo exemplo. E o exemplo é tudo!