1. Como se ultrapassa um problema? Conversando sobre ele?
É o que muita gente pensa e o que, algumas vezes, de facto acontece.
2. Só que as palavras nem sempre aproximam, nem sempre clarificam.
As palavras, por vezes, também afastam. Também obscurecem, também confundem.
3. E já que os problemas são tantos, as soluções também não serão únicas.
A mesma experiência, que mostra que falar sobre um problema ajuda a resolvê-lo, também demonstra que falar sobre um problema pode contribuir para o agravar.
4. Todos nós já sentimos que, apesar dos esforços, falar sobre um problema equivale a manter o problema, a ampliar o problema, a extremar posições sobre o problema.
Daí que Gabriel García Márquez dê um conselho diferente: «Quando há um problema, um mal-entendido, uma zanga, o melhor é não falar e deixar passar um tempo. A conversa só vai agravar a situação».
5. Não diria que é sempre assim. Mas, muitas vezes, é assim.
Com efeito, as palavras, não raramente, só agudizam os problemas.
6. Muito se fala hoje do direito de falar. É um direito sagrado, sem dúvida.
Só que o direito de falar convive com o direito de calar. É fundamental que não abdiquemos dele.
7. Até de Deus parece que sabemos mais quando calamos. Cremos que Deus fala em muitos que falam. E notamos que Deus não deixa de falar em tantos que calam.
Há, aliás, um provérbio mexicano que o confirma: «Deus fala pelo que cala». Aquele que cala deixa-O transparecer.
8. Há, pois, momentos em que falar é um imperativo. E há instantes em que calar é uma urgência e um bom indicador de sabedoria.
Uma onda de silêncio pode até ser o melhor antídoto para curar os estragos provocados pela turbulência de certas palavras.
9. Falar e calar são dois condimentos, igualmente importantes, da comunicação.
A vida não é uma estrada com um único sentido. É preciso, em cada momento, optar pelo melhor. Nem sempre a calar. Nem sempre a falar.
10. Como diria o Papa Francisco, o tempo prevalece sobre o espaço. O silêncio depois da tempestade é capaz de atrair a bonança indispensável para que as palavras possam ressurgir.
No calor da tormenta, certas palavras podem troar como vendavais. E, afinal, é a calar que a gente (também) se entende!