Candidato é uma daquelas palavras carregadas de sentido, a que o uso repetido traz alguma banalização.
Candidato vem de cândido, que significa branco e evoca, por isso, pureza, lisura, transparência, autenticidade.
Isto corresponde, no fundo, ao essencial da vida pública. Que falta faz a candura na política, na sociedade, no trabalho, em toda a parte!
Há tanta escuridão a envenenar o nosso dia-a-dia, o nosso relacionamento. Há tanta escuridão entre as pessoas.
Candidatos devíamos ser todos nós, cidadãos. Devíamos primar sempre pela alvura, pela brancura dos gestos e não pela escuridão trapaceira dos golpes.
O candidato é alguém que, mesmo não se apontando a si mesmo como modelo, procura ter uma conduta exemplar.
Infelizmente, nem sempre as palavras são tomadas pela sua significação. Muitas vezes, são percebidas a partir do uso que delas se faz.
E não há dúvida de que, para muitos, cândido é alguém bom, mas também ingénuo. Alguém que não engana, mas que se deixa enganar.
Ora, o que vemos, hoje em dia, é o oposto de tudo isto. Os candidatos são peritos na astúcia. E vibram por todos os poros quando apanham (ou julgam apanhar) o outro em falso.
No tempo que passa, o candidato tem pouco de cândido. Recorre à palavra, mas não lhe absorve o sentido.
O candidato pratica a propaganda, torna-se uma figura.
A humildade não é o seu forte, o que seria de esperar de alguém tatuado pela candura.
Era bom que se relesse O pequeno tratado das grandes virtudes, de André Comte-Sponville.
Não basta exibir o projecto que já se tem e denunciar o programa que outros possam ainda não ter.
O ar triunfante pode não ser necessariamente um trunfo.
Como era bom que aparecesse alguém que deixasse transparecer o que é ser candidato.
Uma candura que não esconda a verdade, que não se refugie em esquemas, que aceite dar a mão e não apontar o dedo é uma conquista que continuaremos a desejar. Por quanto tempo?