1. A violência tem constatação fácil, explicação não muito difícil e justificação praticamente impossível.
2. Tudo começa pela evidência. A violência é, antes de mais, uma evidência. Não é preciso olhar para longe. Nem é necessário esperar muito.
Às vezes, nem será exigível sair de casa. Não raramente, a violência começa em casa. Desde cedo. Desde a infância. Portanto, desde sempre.
3. Como é sabido, os começos condicionam. Umas vezes, iluminam e tornam-se inspiração. Outras vezes, obscurecem e convertem-se em trauma.
Haverá certamente oscilações ao longo do tempo. Mas o que vem do princípio acaba por definir a nossa identidade. Ou seja, aquilo que somos é, em grande medida, aquilo que recebemos.
4. A primeira tendência do ser humano, como ensina René Girard, é para mimetizar comportamentos.
Se o ambiente é de violência, é natural — embora penoso — que a pessoa assimile violência e reproduza violência.
5. À partida, não há nada de estranho. O problema é que as pessoas, além de mimetizar, tendem a ampliar a violência que vêem.
De facto, qual é a resposta à violência? Para muitos, a resposta à violência é…mais violência.
6. Como sair deste cenário? Como desmontar este (monstruoso) labirinto?
A violência tem tanto de óbvio como de irracional. Passamos o tempo a denunciá-la, mas não somos capazes de a vencer. Pelo contrário, parece que nos enterramos, cada vez mais, nela.
7. Haverá, afinal, alguma justificação para a violência?
A violência não tem justificação; a violência é a justificação. É ela que dita formas de pensar e determina modos de agir.
8. É pela violência que muitos se regem, que muitos se afirmam, que muitos se impõem. A violência é uma estratégia, um filão, uma espécie de trunfo.
Há quem não hesite em deitar mão a toda a sorte de violência: à violência física certamente, mas também à violência verbal, à violência emocional, à violência familiar, à violência laboral, à violência política, à violência social.
9. A violência, como um tumor, dissemina-se por todo o lado. A existência parece um pasto de violência.
A violência de algumas praxes, que nos surpreende, é filha de toda uma praxe de violência, a que já nos acostumámos.
10. Dizem que a violência está inscrita na natureza. Que, ao menos, não esteja alojada na vontade.
O mal é também quando se pergunta «qual é o mal?». O mal é nem sequer dar conta do mal como mal. O mal é achar normal.