1. Quando o tempo é reduzido ao instante, o bem tende a ser alojado no novo.
Para muitos, bom é (apenas) o novo. O melhor é (sempre) o mais recente.
2. Num tempo em que deixamos de ter tempo, fomos estreitando a percepção da história.
O que conta já nem sequer é o hoje. É o momento, é o agora, é o já.
3. A internet transporta-nos aos últimos dias. Como ir mais além do que ocorreu nos últimos tempos?
Não admira que, nas votações online, Cristiano Ronaldo seja apontado como o melhor jogador português de sempre. Porque «sempre» é o tempo de vida de quem vota. E Eusébio já não é «desse» tempo!
4. Acontece que a duração de cada novidade é efémera. A novidade devora-se a si mesma.
O novo entusiasmará, mas por pouco tempo. O jugo da «neofilia» leva a que nenhuma novidade satisfaça.
5. O novo julga tudo, até aquilo que, há pouco, era visto como novo. Quem se atreverá a julgar o novo?
Frequentemente, as opções não são ditadas pela necessidade, mas pela mera novidade. Terminou a escravatura, mas parece ter surgido uma nova servidão.
6. Além das necessidades vitais, achamo-nos no dever de satisfazer as necessidades artificiais.
Konrad Lorenz percebeu que a maneira mais irresistível de manipular as pessoas é a moda. Esta opera uma sincronização óbvia, ainda que pouco perceptível, das suas aspirações. Uns comandam. Outros, a maioria, limitam-se a consumir.
7. Até a beleza foi retirada do belo. Aliás, já quase não é possível falar da beleza sem falar da fealdade.
Até o feio é considerado belo. Como bem notou Roger Scruton, o objectivo da arte já não é deleitar; é sobretudo chocar.
8. Deste modo, a «neofilia» corre o risco de ser uma degradação. O antigo cansa. Mas será que o novo entusiasma?
É imperioso perceber que há muito do passado que não está ultrapassado.
9. Nem tudo o que é antigo está esgotado. Nem tudo o que não parece estar na moda passou de moda.
Também aqui, é preciso discernir. A história não é só o repositório do já acontecido. A experiência mostra que há aquilo que é de ontem e há aquilo que é para sempre.
10. O perene nunca prescreve. O definitivo nunca deixa de ser actual.
Não nos deixemos sufocar pela «neofilia» reinante. Há valores que nunca deixam de ser novos. São eles que nos renovam!