Os nossos olhos levam-nos até à realidade. Mas isso não significa que nos permitam entrar dentro dela. Nem, muito menos, que nos tragam a realidade até nós.
A criança desenhou uma jiboia a comer uma fera. Os mais crescidos viam um chapéu.
Os mais crescidos, observa Saint-Exupery, «precisam sempre de explicações». Nunca «entendem nada sozinhos», mesmo (ou sobretudo) quando presumem que tudo percebem.
As crianças «acabam por se cansar de lhes estar sempre a explicar tudo». De facto, «as crianças têm de ter muita paciência com os adultos».
Quando desperdiçamos o olhar interior, o exterior fica sempre obscurecido. Mesmo que nos pareça clarificado pela lógica, pela racionalidade.
Porque a razão também hesita, também se engana, também vacila, também cai.
Os mais pequenos ainda não têm tantas vendas no seu coração.
Por isso vêm melhor. Com mais nitidez. Com mais pureza e claridade!