Laboa Gallego, recorrendo a uma imagem, não ignora a impressão «de que em Jerusalém ficou a coroa de espinhos».
Dos começos chega-nos o Evangelho inicial, inteiro e limpo, que envolve sobretudo pessoas «pobres e marginais, sem poder».
Depois, continuámos a registar uma sequência «belíssima de martírio, santidade e generosidade».
Mas, em simultâneo, temos sido assaltados «pelas misérias do poder e da ambição, pela força da rotina e do formalismo, pela repugnância em relação à mudança».
As sombras não são suficientes para obscurecer o brilho da luz. Mas podem ofuscar os nossos olhos impedindo-nos de a ver.
De Carlos Drummond de Andrade: «Necessitamos de ambicionar alguma coisa que, alcançada, não nos torne sem ambição».
No fundo, precisamos de nunca estacionar.
Fundamental é estar sempre a caminho.
Cada fim há-de ser um novo começo!
É um facto que a verdade costuma doer. E é certo que ela nem sempre é servida à «mesa» da delicadeza.
Muitas vezes, confunde-se verdade com brutalidade.
Uma coisa, porém, convém ter presente. Não é a ilusão que ajuda.
Juan Vives tornou tudo bem claro: «Se te habituas a abrires os ouvidos às lisonjas e a comprazer-te nelas, nunca ouvirás as verdades».
Amigo não é o adulador; é o honesto.
Amigo não é quem diz o que nos apraz. É o que nos diz sempre (e apenas) a verdade!
Não gostamos do infortúnio, mas ele ensina-nos.
Gostamos muito dos êxitos, mas ele podem iludir-nos.
Mariano da Fonseca alertou: «Os males da vida são os nossos melhores preceptores, os bens, os nossos maiores aduladores».
De facto, não existe uma linearidade óbvia nem um intercâmbio evidente entre as situações na existência.
Até do mal podemos extrair grandes (e preciosos) bens. O que nos magoa pode fortalecer-nos.
Não procuremos a adversidade. Mas não fujamos dela.
É com ela que mais aprendemos. É nela que mais crescemos!
Kahill Gibran: «Aquele que nunca viu a tristeza nunca reconhecerá a alegria».
É a experiência da dor que torna mais saborosa a vivência da felicidade.
Às vezes, temos de passar pelo túnel escuro para notar como é importante (e bela) a luz!
1. O 10 de Junho não é só um feriado para nós. É também um feriado sobre nós, sobre Portugal.
Tirando as cerimónias e discursos oficiais, além de mais um estendal de condecorações, que vestígios há de uma paragem para reflectir?
No limite, cada um vai meditando sobre si e sobre os seus. Os problemas de cada um já são suficientemente aflitivos. Pouco — ou nenhum — espaço sobra, assim, para a comunidade.
2. Somos um país pequeno, mas que, mesmo assim, não cabe em si.
Conseguimos dar novos mundos ao mundo e, apesar disso, não resolvemos os problemas que asfixiam o nosso viver colectivo.
Temos passado, mas parece que não temos memória. Guardamos a história, mas não aparentamos ter muita vontade de continuar a fazer história.
A síntese angustiada de Pessoa mantém-se pertinente: «Cumpriu-se o Mar e o Império se desfez. Falta cumprir-se Portugal».
Hoje, voltam a dizer-nos que somos um país adiado, mas, nesse caso, já o somos há muitos séculos.
3. Não somos perfeitos. Às vezes, até nos mostramos contrafeitos.
Temos defeitos. Eis o nosso drama, eis também a nossa sorte. Se não fossem os nossos defeitos, o que nos motivaria? Se tudo já estivesse feito (e bem feito), que futuro nos restaria?
Houve algum momento em que Portugal não esteve em crise? Em que altura não se disse que vinham aí tempos difíceis?
A tudo temos sobrevivido. Temos sobrevivido à realidade, cruel. E temos sobrevivido aos diagnósticos, nada estimulantes.
Somos, enfim e como afirmava o Padre Manuel Antunes, uma excepção.
Constituímos um paradoxo vivo. Somos «um povo místico mas pouco metafísico; povo lírico mas pouco gregário; povo activo mas pouco organizado; povo empírico mas pouco pragmático; povo de surpresas mas que suporta mal as continuidades, principalmente quando duras; povo tradicional mas extraordinariamente poroso às influências alheias».
4. Seja como for, continuamos a sentir Portugal, a fazer Portugal e, não raramente, a chorar Portugal.
Tantas vezes, são essas lágrimas que nos identificam e pacificam. Aquilo que soa a desespero acaba por saber a esperança.
Apesar das tardes sofridas, acreditamos sempre que uma manhã radiosa voltará a sorrir.
É por isso que nunca desistimos de nós. É por isso que, não obstante as nuvens, há sempre um Portugal a brilhar em milhões de corações espalhados pelo mundo!
Hoje, 10 de Junho, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, é dia do Anjo de Portugal, Sta. Olívia e S. João Dominici.
Um santo e abençoado dia para todos!