«A ameaça do mais forte faz-me sempre passar para o lado do mais fraco».
Chateaubriand tocou no essencial.
Ninguém pode estar ao lado de quem ameaça. A ameaça enfraquece o forte!
«A ameaça do mais forte faz-me sempre passar para o lado do mais fraco».
Chateaubriand tocou no essencial.
Ninguém pode estar ao lado de quem ameaça. A ameaça enfraquece o forte!
Henri Michaux aconselha: «Nunca desesperes, comunica sempre mais».
Acrescentaria: partilha sempre mais, ousa sempre mais, sê cada vez mais!
Shakespeare garantiu há séculos: «Do jeito que o mundo anda, ser honesto é (igual) a ser escolhido entre dez mil».
Que diria ele hoje?
Mas, apesar de o panorama não ser brilhante, ainda creio no brilho da honestidade na vida de muita gente!
A religião acontece quando Deus acontece na vida das pessoas.
É por isso que a oração é o acto alimentador da religião.
Atente-se no que diz Novalis: «Rezar é para a religião o mesmo que pensar para a filosofia. Rezar é criar religião».
Sabemos, desde sempre, que a Teologia é uma ciência especial.
É uma ciência que não se faz apenas à secretária. Faz-se também, e muito mais, de joelhos.
Se a Teologia não for rezada dificilmente conseguirá ser estudada e vivida.
O Papa Francisco tem sido um hábil cultor deste «logos existencial», que sobrepuja o mero «logos racional».
Para ele, «há uma forma de fazer Teologia com a própria vida».
Esta, aliás, será a principal boa nova neste mundo, onde se cavou «uma grande distância entre o que se diz e o que se faz».
De nós Deus só quer uma coisa: que sejamos felizes.
Segundo o Papa Francisco, «a vida cristá é dar testemunho da alegria». Sobretudo nas horas de dor. Que são tantas.
E tantas horas de dor podem arrebatar-nos tudo. Mas nunca nos roubarão a alegria do encontro com Deus. E dos encontros em Deus!
Coragem não é não ter medo.
Coragem é vencer o medo que se tem.
(inspirado em Nélson Mandela)
1. Apesar do sol, parecem sombrios os tempos que vivemos.
E é nestas alturas que mais sentimos a falta não tanto de ideias como de testemunhas. De pessoas de bem. De exemplos que resplandeçam como faróis.
Não há dúvida de que o mundo sente mais a ausência de testemunhas do que de mestres.
A vacuidade que se apoderou da hora presente não está, em primeira instância, nos conhecimentos. Está, acima de tudo, nos comportamentos.
É o vazio que, tingido pelo fútil, faz com que nem o trágico nos pareça tão trágico.
2. Até o trágico se vai tornando trivial, envolvente. Também ele é afectado pela ditadura da banalidade.
Habituamo-nos aos incêndios no Verão e às cheias no Inverno. Já não nos espantam os números da violência doméstica nem os dados da criminalidade.
Altera-se a legislação, mas não se muda a vida. Tudo escorre na direcção de um abismo que nem o mais optimista é capaz de suster.
No meio desta turbulência, os «heróis» (com umas aspas muito grandes) que fazemos desfilar são os que mostram tudo e não revelam nada.
Ficamos deslumbrados com as suas casas, com as suas roupas, com os seus casamentos e separações. Quase sem darmos por isso, somos arrastados pelo vazio que veiculam.
3. Não é a primeira vez que vivemos épocas destas.
Hannah Arendt recorda-nos que «a história já conheceu muitos períodos de tempos sombrios».
São tempos em que «a realidade é camuflada pelos discursos e pelo palavreado de quase todos os discursos oficiais que, ininterruptamente e com as mais engenhosas variantes, vão arranjando explicações para todos os factos desagradáveis».
As sombras chegam aos tempos «pelo discurso que não revela aquilo que é, preferindo esconder-se debaixo do tapete, e pelas exortações que, a pretexto de defender velhas verdades, degradam toda a verdade, convertendo-a numa trivialidade sem sentido».
4. Mas, mesmo (diria sobretudo) nestes tempos, «temos o direito de esperar uma luz. É bem possível que essa luz não venha tanto das teorias e dos conceitos como da chama incerta, vacilante e, muitas vezes, ténue, que alguns homens e mulheres conseguem alimentar em quase todas as circunstâncias».
A própria Hannah Arendt oferece-nos dez luzeiros em forma de vidas alentadoras para a nossa vida.
5. Uma dessas vidas é a do Papa João XXIII, que a filósofa judia descreve como sendo «um cristão no trono de S. Pedro».
Curiosa a reacção de uma criada de servir aquando da morte do Pontífice: «Minha senhora, este papa era um verdadeiro cristão. Como é que isso foi possível? Como pôde um verdadeiro cristão sentar-se no trono de S. Pedro? Ninguém se terá apercebido de quem ele era?»
6. Há, obviamente, um exagero e até alguma injustiça. Os papas dos últimos séculos mostraram ser cristãos de fibra, até à medula do seu ser.
Mas não deixa de ser sintomática a reacção de uma pessoa simples.
Na sua maneira de ver, alguém que irradiava o espírito de Cristo não teria grandes condições de ascender naquilo a que, impropriamente, se chama carreira.
7. Sabemos que a bondade de João XXIII lhe trouxe não poucos dissabores. Às vezes, a incompreensão acendeu-se dentro da própria Igreja.
Não era em vão, porém, que um dos seus lemas era precisamente «sofrer e ser desprezado como Cristo».
João XXIII tornou-se uma figura querida porque assumiu, sem o menor constrangimento, o espírito de Jesus.
Para ele, todos, incluindo os ateus, eram filhos e irmãos. A justiça sempre o preocupou e mobilizou.
Conta-se que, um dia, terá perguntado a um trabalhador como ia a sua vida. Ele respondeu que ia mal. Então, o Papa garantiu que ia tratar do assunto.
Houve, no entanto, quem objectasse que, aumentando o salário aos trabalhadores, teria de haver um corte nas obras de caridade.
Resposta pronta do Pontífice: «Então é o que teremos de fazer. Porque a justiça está antes da caridade».
8. São estas atitudes que definem uma vida. E fazem com que as pessoas que as tomam brilhem. Mesmo nas sombras. Sobretudo nas sombras.
Passados uns dias da sua eleição, João XXIII anota no seu diário: «Esta manhã devo receber cardeais, muitos príncipes e membros importantes de governos. Mas, de tarde, quero passar alguns instantes com homens comuns. que não possuam nenhum título nem nenhuma dignidade senão a de serem seres humanos e filhos de Deus».
E é neste espírito que, um dia, se dirige a operários e a agricultores: «Não viestes ver o filho de um rei nem de um imperador nem de um grande deste mundo, mas um padre que, filho de gente pobre, foi chamado pelo Senhor para carregar o peso do pontificado supremo».
Na biografia que escreveu, Franco Nogueira conta que Oliveira Salazar viu com muita apreensão a abertura de João XXIII. Perante o referido aggiornamento, terá comentado algo do género: «Este Papa está a abrir as janelas; tem de se preparar para uma grande tempestade».
Só que a experiência mostra que, por vezes, é depois das tempestades que damos conta das debilidades da construção. É depois das tempestades que reparamos as casas. E o resultado até costuma ser melhor.
Afinal, os tempos estão sempre a emitir sinais. O Papa bom soube estar atento. A sua confiança era maior que o seu temor. A confiança em Deus e nos homens sobrelava o receio das tempestades.
Nenhum temor abala um coração magnânimo.
Ninguém como um grande homem para falar de um homem grande.
Acerca de João XXIII, o Papa Bom, disse o teólogo Bernhard Haring: «É provável que nenhum homem, desde S. Francisco de Assis, tenha deixado uma imagem tão suave no coração dos seus semelhantes. Também ninguém estranhará se equipararmos João XXIII com a pequena Sta. Teresa de Lisieux. Ambos têm em comum o facto de saberem encontrar o caminho do coração, sobretudo o dos pequenos. Ambos estão marcados pela simplicidade e pela desenvoltura evangélica. Ambos sentem horror a discursos empolados, mas também não se deixam envolver pelas regras de uma superficialidade fácil. Ambos possuem, em certa medida, aquela inocência inata que conduz a actos grandes e ousados. Não atribuem a si próprios uma importância particular, mas acreditam na sua missão, que é a mensagem do amor».
Conta-se que, um dia, João XXIII terá perguntado a um trabalhador como ia a sua vida.
Ele respondeu que ia mal. Então, o Papa garantiu que ia tratar do assunto.
Houve, no entanto, quem objectasse que, aumentando o salário aos trabalhadores, teria de haver um corte nas obras de caridade.
Resposta pronta do Pontífice: «Então é o que teremos de fazer. Porque a justiça está antes da caridade».
É tão grande a falta de decência. É tão intensa a ausência de decoro.
Será tão difícil assim ser recto? Afinal, em que consistirá uma conduta decente?
Para Vergílio Ferreira, «uma conduta irrepreensível consiste em manter cada um a sua dignidade sem prejudicar a liberdade alheia».
Aliás, não é possível manter a dignidade quando se litiga com a liberdade dos outros. Ser digno é, precisamente, respeitar os outros!
A 3 de Junho de 1963, falecia, em Roma, o Papa bom, João XXIII.
Nasci e cresci a ouvir falar deste Homem.
Minha querida Mãe estava sempre a invocar o nome desta figura enorme da Igreja e da Humanidade.
Quem acompanhou a sua trajectória e leu os seus escritos ficou sempre com esta impressão: João XXIII era indulgente com os outros e exigente consigo mesmo.
O seu lema, extraído de Barónio, era «obediência e paz».
Escrevia em 1947: «Em casa, tudo vai bem. A paciência ajuda-me nos meus defeitos e nas minhas imperfeições e dos que trabalham comigo. O meu temperamento e a minha educação ajudam-me no exercício da amabilidade para com todos, da indulgência, da cortesia e da paciência. Não me afastarei deste caminho».
Reencontrar João XXIII é sempre um conforto que nunca cansa: «Não há nada mais excelente que a bondade. A inteligência humana pode procurar outros dons eminentes, mas nenhum deles se pode comparar à bondade».
E, atenção, «o exercício da bondade pode sofrer oposição, mas acaba sempre por vencer porque a bondade é amor e o amor tudo vence».
Hoje, 03 de Junho, é dia de Sto. Ovídio, S. Carlos Lwanga e seus companheiros mártires, Sto. Isaac de Córdova, S. Juan Diego e S. João grande.
Um santo e abençoado dia para todos!