1. Não falta — a esta hora — quem, além da admiração pelo Papa, se aperceba de um certo contraste entre ele e muitas estruturas da Igreja.
É natural, por isso, que, neste tempo novo, surjam perguntas novas: que tem de especial o Papa Francisco?; o que levará tantos a admirá-lo tanto?
É então que sobrevirá a pergunta de sempre: o que falta na Igreja para cativar, para convencer de modo persistente e para motivar de forma duradoura?
2. O que tem faltado à Igreja é o que abunda no Papa: «vinho»! Sim, falta-nos «vinho». Aliás, não custará muito imaginar Maria, na eternidade, a continuar a dizer a Seu Filho o mesmo que disse em Caná: «Não têm vinho» (Jo 2, 3).
Parece que, como há dois mil anos, o «vinho» se esgota rapidamente. Este «vinho» não é o líquido que costumamos ingerir. Este «vinho» é, como notou Carlo Maria Martini, «a alegria do Evangelho».
3. De facto e como observa Medard Kehl, às vezes dá a impressão de que «a Igreja se assemelha mais a um velório do que a uma festa».
Não é tanto o riso que está em défice. O que parece escassear é a vivacidade, a transparência, a substância, a autenticidade, o sabor!
4. É preciso recolocar no centro duas atitudes que tendemos a subestimar: a transparência do testemunho e a paciência na missão.
Convém não esquecer que Jesus sempre verberou a hipocrisia, o jogo escondido, a intenção subterrânea e a cobardia.
5. A mudança é um processo demorado e, quase sempre, doloroso. É tecido com resistências e nem sequer está imune a recuos e atropelos.
Começa por implicar algo elementar, mas inquestionavelmente difícil: reconhecer os erros e assumir as falhas.
6. Uma coisa é certa. Nunca há fraqueza na franqueza. Medard Kehl advoga a reactivação «da velha virtude bíblica da franqueza especialmente onde determinados grupos e indivíduos parecem não corresponder ao imperativo de tornar transparente, hoje, Jesus Cristo e o Seu Evangelho».
Não pode haver desconfiança em relação ao diferente, nem receio diante do novo. Não estará o Espírito de Jesus a falar-nos, nestes tempos, como falou nos primeiros tempos?
7. No entanto, é fundamental que a franqueza seja temperada pela paciência. O embate com uma realidade granítica pode atrair a impaciência e conduzir à desistência.
Não podemos viver obcecados com o imediato. As dores da mudança são dores de uma vida que nasce e não de um corpo que adoece.
8. Como lembra Madeleine Delbrêl, «se o compromisso em favor da mudança não se alimenta de uma paciência contemplativa acabará por ser infecundo».
É por isso que, segundo Hermann Hesse, a paciência pode ser mais importante do que a própria inteligência.
9. A paciência ajuda a persistir mesmo perante os dados da evidência. A paciência vive de uma saudável transgressão das evidências. De resto, a experiência mostra que as evidências também se alteram.
Percebe-se, pois, que Hans Schaller assegure que «a paciência não é uma virtude de pessoas de carácter passivo ou resignado. Pelo contrário, a paciência impede que nada (nem ninguém) destrua a confiança interior».
10. A paciência põe a esperança em dia. A paciência não exclui a acção. A paciência é o melhor combustível para a acção. É o combustível que nunca se extingue.
A paciência pode exasperar. Mas não é a paciência que complica. A falta de paciência é que tudo destrói!