O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Domingo, 31 de Março de 2013

1. Para muitos, a Páscoa é mais o ruído do que a calma. É mais a palavra do que a escuta. É mais a acção do que a meditação. É mais o movimento do que o recolhimento.

 

O ruído, as palavras, a acção e o movimento dão um grande colorido às nossas terras. Mas a falta de calma, de escuta, de meditação e de recolhimento deixa um profundo vazio nas nossas almas.

 

Quando falamos de Páscoa, pensamos no que, a propósito dela, se diz e se faz. Mas era bom que se captasse o sentido da Páscoa também a partir do que, nela, não se diz e não se faz.

 

A Páscoa não se reduz às procissões de Sexta-feira e às celebrações de Domingo. Entre o grito da Cruz e a alegria da Ressurreição, há o silêncio da sepultura.

 

É também por esse silêncio que nos devíamos envolver. Porque é nesse silêncio, que parece nada trazer, que germina a novidade plena, a surpresa maior, o reencontro total.

 

 

2. De facto, o silêncio não é necessariamente mutismo, ausência ou distância.

 

Há um silêncio pelo qual tudo nos chega. É o silêncio da semente lançada à terra. É do fundo que se cresce. E é de trás que se caminha.

 

No silêncio, verificamos que ainda há muita semente para desabrochar. É o silêncio exterior que nos põe alerta. É o silêncio interior que nos põe à escuta.

 

É um silêncio, ao mesmo tempo, afónico e atónito. É um silêncio que tanto nos deixa sem palavras como nos preenche com uma paz inquieta.

 

Afinal, as palavras costumam morrer nos lábios e os pensamentos acabam por se ofuscar na mente.

 

É, por isso, o silêncio que nos permite acolher o grande murmúrio que Deus faz ecoar no mundo.

 

E há-de ser a fraternidade a levar-nos a estender a mão àqueles que vão caindo nas estradas do mundo.

 

Às vezes, queremos cobrir de palavras o que escapa a toda a palavra. Se as palavras já são débeis para dizer a vida, como não são frágeis para (des)dizer a morte!

 

E, não obstante, multiplicamos explicações. No tempo, atrevemo-nos a cartografar a eternidade e a mapear com minúcia cada um dos seus momentos.

 

 

3. A Páscoa é oportunidade para cantar, para louvar. Mas será ainda mais bela se for aproveitada para colher, para captar.

 

O silêncio não nos afasta dos problemas, mas abre-nos muitos caminhos no meio dos próprios problemas.

 

Jesus foi tão eloquente quando falou como quando calou. E disse-nos tanto no grito da Cruz como no silêncio do sepulcro.

 

O silêncio é o nada donde vem tudo. Não é esse, aliás, o transe da criação?

 

Deixemos, pois, falar a Páscoa no tempo! E façamos ressoar a Páscoa na vida!

 

 

4. A Páscoa é, sem dúvida, uma festa. Mas é uma festa que começa num fracasso.

 

Eis a lição jamais apreendida num tempo que cultua o êxito como desígnio supremo. E que tende a encarar qualquer adversidade como um obstáculo intransponível.

 

O fracasso de Jesus parecia ser total, definitivo, irrecuperável.

 

Neste sentido, a Páscoa significa que nem a morte é o fim. A Páscoa assinala o começo depois do próprio fim.

 

Tudo está em aberto. E o que conta não são apenas os conceitos já pensados e as soluções já tentadas. O que conta é o novo, aquilo que ninguém (ainda) conhece, aquilo que (ainda) está para acontecer.

 

Adormecida, no nosso interior, está a esperança. Dorme o prolongado sono da resignação, do desalento.

 

É tempo de despertar a esperança. É hora de despertarmos para a esperança!

publicado por Theosfera às 18:45

Já é Páscoa no tempo,

há alegria e esplendor,

vivacidade e contentamento.

Os foguetes vão estourar,

as flores vão brilhar,

as pessoas vão vibrar,

as casas vão encher

para Te acolher, Senhor.

Há dois mil anos,

removeste a pesada pedra do Teu sepulcro.

Pedimos-Te, Senhor,

que, hoje mesmo,

removas alguma pedra que ainda endureça os nossos corações:

a pedra do pecado,

a pedra do egoísmo,

a pedra da falsidade,

a pedra da injustiça, do ódio e da violência.

Aqui nos tens, Senhor,

não queremos ser sepultura mas berço.

Queremos que nasças sempre em nós

e queremos renascer sempre para Ti.

É tempo de Páscoa.

Exulta a natureza.

Vibram as crianças.

Cantem as multidões.

Que a Páscoa traga Paz,

Amor, Partilha e Felicidade.

Que os rostos sorriam,

que as mãos se juntem,

que os passos se aproximem,

que os corações se abram.

Obrigado, Senhor,

por morreres por nós.

Obrigado, Senhor,

por ressuscitares para nós.

Voltaste para o Pai e permaneces connosco.

Na Eucarista, és sempre o Emanuel.

Que Te saibamos receber

e que Te queiramos anunciar.

Hoje vais entrar em nossas casas.

Que nós nunca Te afastemos da nossa vida.

É Páscoa no tempo.

Que seja Páscoa na vida,

na nossa vida,

na vida da humanidade inteira.

publicado por Theosfera às 11:07

Um dia oportuno para meditar neste pensamento pertinente de Marco Aurélio: «A maior parte das coisas que dizemos e fazemos não é necessária; quem as eliminar da própria vida será mais tranquilo e sereno».

O essencial está em Cristo. O essencial é Cristo.

Ele revela o importante, o perene, o definitivo: servir, amar, dar, dar-se.

Não estará na hora de fazer um «downsizing» na nossa vida?

publicado por Theosfera às 08:21

Pela manhã, foram as pessoas ao encontro de Jesus. Pela tarde, é Jesus que vem ao encontro das pessoas.

 

Pela manhã, prevalece a ansiedade. Pela tarde, é oferecida a paz.

 

Em ambos os momentos, os obstáculos são removidos.

 

Havia, pela manhã, uma pedra que não se sabia como afastar. Afinal, já estava afastada.

 

Pela tarde, as portas estavam fechadas. Mesmo assim, Jesus (re)surgiu.

 

Nada (nem a morte) consegue deter Jesus.

 

Nem sempre há paz na força. Mas existe sempre força na paz. A única força está na paz.

 

Santo Agostinho, embora num contexto diferente, distingue entre a cognitio matutina (conhecimento da manhã) e a cognitio vespertina (conhecimento da tarde).

 

A manhã é o vislumbre da eternidade. A tarde é o retrato do tempo, do percurso da vida.

 

Na tarde do primeiro dia, Jesus vem ter com os discípulos. Está vivo, mas mantém as marcas da dor.

 

Deixa-Se tocar. S. João, que nos oferece este relato, anota, na sua primeira carta, que anuncia aquele que viu, aquele ouviu, aquele que pôde tocar.

 

Tomé representa o senso comum. Quem diria outra coisa se estivesse no seu lugar?

 

A evidência que ele conhecia era a morte. Haverá evidência mais eloquente?

 

Como João, também Tomé viu e acreditou.

 

Jesus declarou felizes os que haveriam de acreditar mesmo sem ver.

 

O essencial é mesmo invisível aos olhos. O essencial deixa-se ver pelo coração. Apenas e sempre.

publicado por Theosfera às 07:08

A Páscoa traz muita gente à volta da Igreja. São mobilizados os crentes e envolvidos os não crentes.

 

Sucede que esta afirmação de pujança pode (insisto: pode) denunciar um certificado de debilidade.

 

O que atrai mais pessoas não é a liturgia. São as procissões, as tradições.

 

O problema não está no seu valor, que é grande. Está, cada vez mais, no seu enquadramento, que é problemático.

 

É que já não falta quem venda a Semana Santa como um cartaz turístico. E, de facto, há multidões que se arrastam para as localidades onde se promovem acções nesta altura do ano.

 

E não falta mesmo quem já fale de espectáculo!

 

Aqui é que bate o ponto. Um espectáculo implica não só acção, mas também actores e espectadores.

 

Ora, o que se representa, muitas vezes, é apreciado sobretudo pelo seu efeito cénico. Há uma certa distância entre quem representa e quem assiste.

 

E nota-se também uma cada vez maior ausência de espiritualidade, recolhimento.

 

Como agir?

 

É um novo desafio que temos pela frente: vivenciar o momento central da fé ou apostar numa oferta turística de grande consumo?

 

Viver é optar, como dizia Zubiri.

publicado por Theosfera às 07:06

1. A Páscoa não é uma circunstância vaporosa de uma época distante.

 

Ela é a novidade perene oferecida ao homem e inscrita no tempo. Em cada tempo. Também no nosso tempo.

 

O Evangelho, até no mais ínfimo pormenor, tem a preocupação de realçar tal novidade.

 

A referência ao «primeiro dia da semana» (Jo 20, 1) surge em nítido contraste com o dia anterior, o último dia.

 

No ocaso do último dia, respira-se morte. Já no alvorecer do primeiro dia, volta a despontar a surpresa da vida.

 

O dia começa cedo, ainda escuro. A escuridão mora em quem procura alguém que julga estar morto.

 

Maria de Magdala nem sequer se apercebe de que já se encontra num tempo novo.

 

Ela está persuadida de que a morte levou a melhor. As evidências parecem inultrapassáveis.

 

 

2. Mas eis que o sinal da morte está removido. A pedra no sepulcro seria como um ponto final num texto. Afinal, o texto iria continuar.

 

Sucede que, num primeiro momento, a reacção é de alarme. Não se trataria de uma vitória da vida, mas do furto de um cadáver (cf. Jo 20, 2).

 

Resolve então avisar dois dos discípulos de Jesus: Pedro e João, duas personalidades e dois sinais.

 

Aliás, o autor do quarto Evangelho insiste bastante na categoria sinal. Quando fala de milagres, emprega sempre a palavra sinais (semeia).

 

Pedro representa a autoridade, João iconiza o amor. Já na Última Ceia, Pedro está perto de Jesus, mas pede a João para Lhe perguntar acerca de quem O iria entregar (cf. Jo 13, 23-26).

 

Por aqui se vê como a autoridade, na Igreja emergente, não vale por si mesma. Ela só age através do amor, pela mediação do amor.

 

 

3. Depois da ressurreição, ocorre o mesmo. Pedro sai com João rumo ao sepulcro. Ou seja, a autoridade não dispensa o amor na procura de Jesus.

 

Mas, a determinada altura, João antecipa-se. Na verdade, o amor vai sempre à frente e chega sempre primeiro.

 

Como refere o comentário de Mateos-Barreto, «corre mais depressa o que tem a experiência do amor, o que foi testemunha do fruto da Cruz».

 

De facto, na hora da morte, só o amor (João) esteve presente. A autoridade (Pedro) ausentara-se. Só o amor é capaz de vencer o medo.

 

João chega primeiro ao sepulcro. É pelo amor que se atinge a meta e que se chega a Deus.

 

Só que, como reconhece S. Paulo, o amor também sabe ser paciente, também consegue esperar e, aspecto nada negligenciável, nunca é invejoso (cf. 1Cor 13, 4).

 

João vê o sepulcro vazio, mas não entra. Aguarda que Pedro venha.

 

O amor respeita a autoridade. Até porque sabe que, na Igreja, a autoridade está ao serviço do amor.

 

Não se trata de um mero gesto de deferência. É, sobretudo, um gesto de reconciliação.

 

É que, com as negações de Pedro (cf. Jo 18, 15-17.25), era a autoridade que vacilara, vacilara no amor.

 

Agora, o amor dá uma nova — e definitiva — oportunidade à autoridade.

 

João, que estivera junto à Cruz, não se arroga uma qualquer superioridade, estatuto tão fácil de avocar e sentimento tão pronto a exibir.

 

O amor é humilde. Sabe que a autoridade tinha negado Jesus, mas, por isso mesmo, deixa-a entrar em primeiro lugar para que, em primeiro lugar também, expresse o seu amor.

 

 

4. O amor é mesmo assim: uma sucessão de começos. A autoridade sente-se reabilitada e segura por correr atrás do amor.

 

Na Igreja de Jesus, a autoridade só faz sentido em função do amor.

 

Só correndo atrás do amor, a autoridade alcança o seu destino. É o amor que aponta o caminho à autoridade. Sem amor, a autoridade perde o norte, a bússola.

 

Eis, por conseguinte, uma novidade jamais superada. Pedro e João a caminho do sepulcro sinalizam, assombrosamente, o perfil da Igreja pelas estradas do mundo.

 

A autoridade é necessária. Mas ela é apenas instrumental. Existe para tornar presente o essencial. E o essencial é o amor.

 

Porque, como alvitra o Evangelho (cf. Jo 20, 8), só com o amor se vê, só pelo amor se acredita.

publicado por Theosfera às 07:05

O Ressuscitado aparece sempre desejando a paz: «A paz esteja convosco»!

 

Vivamos Páscoa. Sejamos Paz!

publicado por Theosfera às 07:04

O cristianismo é, geneticamente, paradoxal. Ele oferece Deus no Homem, o Eterno no Tempo.

 

Na visita pascal, anunciamos a ressurreição e transportamos o Crucificado.

 

Antes de mais, é muito difícil figurar um corpo ressuscitado. Nem os discípulos reconheceram Jesus: era o mesmo mas com uma configuração diferente.

 

Tem muito sentido transportar a Cruz em dia de Páscoa porque o que ressuscita é o mesmo que morre; o que volta à vida é o mesmo que dá a vida; se não morresse não ressuscitaria; o grão de trigo, para dar fruto, tem de morrer.

 

Não é, pois, em vão que Jürgen Moltmann usa paradoxais expressões como «ressurreição do Crucificado» e «cruz do Ressuscitado».

 

O mistério de Cristo é sempre global, não se pode segmentar ou clivar. Foi a pensar n'Ele que von Balthasar escreveu que «a verdade é a totalidade». Jesus integra a glória no sofrimento e eleva o sofrimento à glória.

 

Eis, por isso, a maior fonte de esperança para quem sofre: Ele sofre connosco, nós sofremos com Ele. Nós podemos vencer o sofrimento e a própria morte. Com Ele. Só com Ele. Sempre com Ele.

publicado por Theosfera às 07:04

A Páscoa é acontecimento.

A Páscoa é itinerário.

A Páscoa é hoje.

A Páscoa prossegue amanhã.

É sempre Páscoa!

publicado por Theosfera às 07:03

Hoje, 31 de Março (Páscoa da Ressurreição do Senhor), é dia de Sto. Acácio de Antioquia, Sta. Balbina, S. Benjamim e S. Daniel.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 07:02

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