É tão pesada a Cruz,
a Tua Cruz, Senhor,
que não sei como conseguiste erguê-la
nem como conseguiste erguer-Te
depois de, por três vezes,
ela Te ter feito cair.
Como foi possível, Senhor,
depois já de tanto sangue derramado?
Como foi possível, Senhor,
depois já de tantas atrocidades?
Como foi possível, Senhor,
depois da agonia, da flagelação, da coroação de espinhos?
Não concebo, mas percebo.
Tu conseguiste arcar com o peso do madeiro,
porque mais pesado que a Cruz era o peso do amor,
o peso do Teu infinito amor.
Não concebo, mas percebo:
o Teu amor emagreceu a Cruz,
o Teu amor encolheu a Cruz.
Quem olha para Ti, Senhor,
dá a impressão de que a Tua Cruz era leve.
Nada nem ninguém Te fez recuar.
Deixa-me, Senhor, pegar na Tua Cruz.
Ela está ao meu lado,
à minha beira.
A Tua Cruz continua pesada,
bem pesada,
em tantos lares, hospitais, ruas.
A Tua Cruz, Senhor,
tem hoje o nome de miséria,
injustiça, falsidade,
superficialidade e comodismo.
Deste-nos tanto,
dás-nos tudo.
E nós, tantas vezes,
recuamos e recusamos
dar-Te um tempo, uma hora, um dia.
Acorda-nos, Senhor,
desperta-nos da sonolência em que caímos.
Faz-nos olhar para Ti,
para a Tua Cruz, Senhor!
Um dos grandes clichés, que estes dias desmontam, assegura que dos fracos não reza a história.
Não é isso o que Jesus nos mostra. Não é isso o que, por exemplo, S. Paulo nos atesta.
A Páscoa é, antes de mais, um mistério de fragilidade. De uma fragilidade inteiramente assumida, francamente exposta e abertamente oferecida.
Quando Se apresenta pronto para sofrer a morte, Jesus não esconde que «a carne é fraca» (Mt 27, 41).
A fragilidade é reveladora, é solidária.
As pessoas revelam-se mais quando não escondem a sua fragilidade.
Tony Blair percebeu isto quando escreveu que «ser humano é ser frágil».
Jesus não fez exibições de força. A Sua maior força radicou na Sua capacidade de assumir a fraqueza.
Os fortes podem ganhar batalhas. Mas são os frágeis que obtêm a maior vitória: a do amor.
Os fortes são vistos como vencedores porque eliminam os outros, porque se sobrepõem aos outros.
Os frágeis são apontados como vencidos porque se esquecem de si, porque vivem em função dos outros.
Mas não é nesta fragilidade que reside a nossa salvação? Não é, portanto, nesta fragilidade que está a maior força?
Os fortes vão destruindo vidas. Os frágeis são os que se sacrificam para que outros tenham vida.
Obrigado, Senhor, pela Tua fragilidade. Porque recusaste o uso da força. Porque não quiseste exibir qualquer força. A não ser a do Teu imenso amor!
A conversão de S. João Gualberto ocorreu em Sexta-feira Santa quando, finalmente, encontrara o assassino de um parente seu. Ele, armado com uma espada, preparava-se para a vingança após uma prolongada procura. O assassino pediu clemência e ouviu como resposta: «Não por ti, mas por Aquele que, num dia como este, derramou o Seu sangue por todos nós». Foi logo para um convento beneditino e mudou de vida.
Todos os sentidos são importantes.
Diderot fez um escalonamento: «De todos os sentidos, a vista é o mais superficial, o ouvido o mais orgulhoso, o olfacto o mais voluptuoso, o gosto o mais supersticioso e inconstante, o tacto o mais profundo».
Será?
É provável que Alberto Moravia tenha razão: «Quanto mais se é feliz menos se presta atenção à felicidade».
Habitualmente, só prestamos atenção a uma coisa (e a uma pessoa) quando começa a faltar.
É pena. Mas é verdade!
Quem deve mandar? Quem não quer mandar.
Porquê? Resposta da experiência, verbalizada por John Ruskin: «Não manda bem quem tem ânsia de mandar»!
Hoje, 29 de Março (Sexta-Feira Santa, dia de jejum e abstinência), é dia da Morte do Senhor.
Também se assinala a memória de Sto. Eustásio, Sta. Paula Gambara, Sto. Agostinho de Spínola, S. Manuel Domingos Sol, Sta. Teresa do Menino Jesus (mártir), Sta. Maria do Pilar e Sta. Maria dos Anjos.
Um santo e abençoado dia para todos!