Não somos apenas o que somos em nós. Acabamos por ser sempre reflexo de muita coisa, de muita gente.
Anote-se o que Jorge Luis Borges percebeu: «Deus inventou as formas do espelho, para que o homem sinta que é reflexo»!
Não somos apenas o que somos em nós. Acabamos por ser sempre reflexo de muita coisa, de muita gente.
Anote-se o que Jorge Luis Borges percebeu: «Deus inventou as formas do espelho, para que o homem sinta que é reflexo»!
1. A esta hora, grande é a azáfama. Já se preparam as casas e as ruas. Já se ultimam os folares. Já se encomendam os foguetes.
Apesar da crise, há muita alegria no ar e bastante vibração nos corações. Os mais pequenos anseiam pelas prendas. Os mais idosos multiplicam recordações.
A Páscoa está perto. Está perto no tempo. Já faltam poucos dias.
Eu gostava que a Páscoa também estivesse perto da vida: da vossa vida, da vida do mundo inteiro.
2. Páscoa, como sabeis, quer dizer «passagem».
Outrora, a Páscoa assinalava a passagem, pelo Mar Vermelho, da escravidão para a liberdade. Agora, celebra a passagem da morte para a vida.
Queria que soubésseis que, na Páscoa, não recordais um acontecimento do passado. Na Páscoa, sois chamados a reviver um acontecimento de cada presente.
Às vezes, fazemos muita coisa importante e acabamos por esquecer o principal.
Nesta altura da Páscoa, não faltam actividades no exterior. Mas falta um pouco de recolhimento no interior.
3. Queria que soubésseis que Eu continuo a vir ao vosso encontro. Continuo a falar-vos, como há dois mil anos.
Continuo a falar a cada um de vós no alto da Cruz. Muitas vezes, falo muito alto.
Como há vinte séculos, continuo a gritar. Continuo a gritar contra a violência, contra a opressão.
Continuo a gritar por mais fraternidade, por maior igualdade.
Continuo a gritar para que os grandes repartam com os pequenos. Continuo a gritar para que as dívidas sejam perdoadas.
Mas quem Me ouve?
4. Não penseis que deixei a Cruz. Não. Não deixei a Cruz.
Hoje, em cada dia, continuo a levar uma pesada Cruz. É Cruz de tantas pessoas que são atiradas para a berma das estradas da vida.
A Minha Cruz, hoje, é a Cruz dos que têm fome, é a Cruz dos que estão no desemprego, é a Cruz dos doentes, é a Cruz das vítimas da injustiça, é Cruz dos idosos abandonados.
Há vinte séculos, houve alguém chamado Simão de Cirene que Me ajudou a levar a Cruz. Nos tempos que correm, sou Eu que faço o papel de Cireneu. Sou Eu que ajudo a levar a Cruz de tanta gente. E como continua a ser pesada, horrivelmente pesada, a Cruz!
5. Queria que soubésseis que também vos falo do silêncio do sepulcro. Ou seja, também vos falo quando (aparentemente) não digo nada.
Hoje, eu continuo a estar nas profundidades da vida, da vossa vida. Eu moro nos vossos corações.
Posso estar em silêncio, mas não estou escondido. Eu acompanho-vos sempre. Estou convosco, como prometi há dois mil anos.
Estou convosco nas horas de alegria. E estou convosco nos momentos de aflição.
As vossas alegrias são as Minhas alegrias. E as vossas dores nunca deixaram de ser as Minhas dores.
6. Muitas vezes, pensais que o fracasso é uma derrota.
Naquele tempo, também não faltou quem achasse que o sepulcro era como o ponto final num texto.
Pensavam que tudo estava terminado. Mas Eu ressuscitei. Voltei para o Pai e voltei para vós.
O próprio fim tornou-se um novo começo. Uma tarde de pesadelo deu lugar a uma aurora de esperança.
Tudo voltou a começar. Por isso, nunca comeceis a desistir e nunca desistais de começar.
Às vezes, temos de bater no fundo para recomeçar a subir e temos de ficar para trás para voltar a avançar.
Nem tudo está perdido quando muito parece perder-se. É quando parece que tudo acaba que tudo verdadeiramente começa.
7. Desejo-vos, pois, uma Páscoa com muita alegria, com muito amor, com muita paz.
Eu continuo a estar convosco. No próximo Domingo, entrarei em vossa casa. Vou na Cruz. Mas aquela já não é a Minha Cruz. É a Cruz de cada um de vós.
No próximo Domingo, Eu vou trazer as vossas dores. E vou deixar-vos a Minha paz.
De vós só quero uma coisa: que sejais felizes. Hoje. Amanhã. E sempre.
Jesus de Nazaré
Aquele que morreu por vós,
Aquele que ressuscitou para todos!
1. Este não é o tempo de alterar a doutrina. Este é o tempo de (re)centrar a vida.
O Papa Francisco tem dado sobejos sinais do que pretende para a Igreja. Que ela seja a ressonância de Jesus: do Jesus inteiro, do Jesus total.
Isto significa que a Igreja é chamada a ser a transparência do Jesus divino e também do Jesus humano. Do Jesus misericordioso, do Jesus humilde, do Jesus amigo, do Jesus irmão.
2. Percebe-se, assim, a insistência numa Igreja pobre, numa Igreja simples, numa Igreja próxima. E entende-se, igualmente, a aposta não apenas nas palavras, mas também nos gestos.
Numa era videocêntrica como a nossa, o Santo Padre é o primeiro a compreender que as pessoas têm necessidade não só de ouvir, mas também de ver.
3. O tom de voz familiar, o olhar terno, a mão estendida e o abraço frequente do Papa como que transportam as pessoas às imediações do próprio Jesus.
E é deste modo que a Igreja vai caminhando para o futuro retomando o impulso primordial dos começos.
4. Dir-se-ia que a ortodoxia só é inteiramente ortodoxa (passe a redundância) dentro de uma verdadeira ortopraxia. A fé não passa só pela proclamação. Implica uma existência em conformidade.
De facto, a doutrina de Jesus não combina com a opulência. Só na linguagem da pobreza e da simplicidade é possível dizer o Deus de Jesus.
5. Não vamos, obviamente, ter um Papa minimalista ou iconoclasta, que acabe com todas as tradições, sinais e símbolos. Mas vamos ter seguramente um Papa que vai recorrer a tais tradições, sinais e símbolos com o máximo de sobriedade. É de prever alguma contenção no aparato logístico e institucional.
Essencial não é tanto que a Igreja tenha um Estado para si. Essencial é sobretudo que a Igreja partilhe o estado das pessoas. Em suma, fundamental é que Jesus cresça e que tudo o resto diminua (cf. Jo 3, 30).
6. No dia da sua eleição, o Papa inclinou-se diante do povo quando o habitual é o povo inclinar-se diante do Papa. Antes de dar a bênção ao povo rogou ao povo que pedisse a bênção de Deus para ele.
Em suma, o Papa apareceu como servo, como servidor. Não foi assim que Jesus veio até nós?
7. João Paulo II disse que vinha de longe. Francisco confessa que vem do fim do mundo. João Paulo II levou o centro a todas as periferias. Trará Francisco as periferias para o centro?
Ele sabe que a Cruz não ficou em Jerusalém. Ele tem consciência de que a Cruz está em todos os povos e em imensas vidas. Sem a Cruz não é possível encontrar Cristo nem reencontrar as pessoas.
8. É por isso que, como assinala o Papa, a nossa «única glória é Cristo crucificado». Só com Ele «a Igreja avançará».
Não é em qualquer trono que a Igreja repousa. É com a Cruz que continuará o seu caminho nas estradas do tempo.
9. Este não é, pois, o tempo do poder, da ambição ou dos atropelos.
Este é — tem de ser cada vez mais — o tempo do serviço, o tempo da purificação, o tempo da missão!
Problema grande já é a crise. Mas esse não é o problema maior.
O problema maior é a resignação perante a crise, é o sentirmo-nos esmagados perante a crise.
É a falta de clarividência e de liderança diante da crise.
O perigo ameaça. Mas também estimula.
Quando não há perigo, não há obstáculo. Mas também não há incentivo.
Vencer um perigo é emocionante. Pelo contrário e como dizia Pierre Corneill, «ao vencermos sem perigo, triunfamos sem glória»!
Hoje, 27 de Março (Quarta-Feira Santa), é dia de S. João do Egipto, S. Peregrino, S. Francisco Faá di Bruna e S. José Sebastião Pelczar.
Um santo e abençoado dia para todos!