1. A Primavera está a chegar ao tempo. E há quem a veja florir na Igreja que peregrina no tempo.
Aliás, tornou-se comum, há uns anos, encarar as estações do ano como metáfora para descrever a situação do Cristianismo. Yves Congar, por exemplo, falou do «Outono da Igreja». Já Karl Ranher dissertou abundantemente sobre a «invernia da fé».
2. No Outono, a natureza parece que se retrai. No Inverno, como que se esconde.
E o certo é que a informação religiosa é atravessada por uma sensação de decadência crescente, a prenunciar um eclipse irreversível.
As notícias da Igreja aparentam ser (apenas) notícias da crise.
3. São muitos, entretanto, os que, como João Paulo II, vaticinam uma nova «Primavera na Igreja».
Recorde-se que a Primavera traz um pouco do frio do Inverno e alguma coisa do calor do Verão. A Primavera é um tempo de nuvens e de sol, de clareiras e de brilho, de sombras e de luz.
4. Na Primavera, há um misto de esperança e desânimo. Na Primavera, as pessoas são habitadas por um certo optimismo, que, não obstante, convive com alguma apreensão.
Na Primavera, estamos à espera de tudo, mas não temos ainda a garantia de nada. A Primavera é o amanhecer depois da noite, mas sem a certeza do que virá pela tarde.
5. A Primavera é o novo começo, o tempo da sementeira, o início da viagem. A Primavera é o tempo em que se lavam as roupas encardidas e em que se exibe um ar mais refrescante.
A Primavera é a altura em que se sentem alguns vendavais, mas em que sopram também algumas brisas.
6. A Primavera é quando já não nos fechamos totalmente em casa. É a altura em que as portas já não estão sempre fechadas e em que as janelas se vão abrindo. É o tempo em que se aspira o aroma das flores e vai desaparecendo o cheiro a mofo.
Algumas tempestades estarão para vir. Algum frio irá continuar. Mas o primeiro calor também se fará sentir. O sol irá apertar e poderá até queimar.
7. A Primavera na Igreja não é isenta de temporais nem de eventuais lesões provocadas por queimaduras solares.
Na Igreja, a santidade coexiste com o pecado. A força anda de mãos dadas com a fragilidade. Não temos de nos envergonhar do nosso passado. Há que seguir em frente, em direcção ao futuro.
8. Hoje, como sempre (mas talvez mais do que nunca), a Igreja tem de ser a casa da esperança, o repouso dos que se sentem tingidos pela desesperança.
Por isso é que os pobres e os sofredores deste mundo têm de encontrar, nela, um porto de abrigo e uma retaguarda de alento.
9. A Igreja deve acender um sorriso no rosto, ainda que se veja dilacerada por torrentes de pranto.
Este já não é o tempo de nos arrastarmos, pesarosos, pela tarde, lamentando as ocorrências de uma jornada com muitas canseiras e desilusões. Este é o tempo de nos levantarmos, decididos, como em manhãs ridentes de sol.
10. A Igreja não é o sol. Mas é chamada a aquecer os que a vida faz arrefecer com o desamparo e a injustiça.
Eu vejo a Primavera a despontar na Casa de Deus!