1. Não se aprende a fé; só se aprende a crer. Quando muito, aprende-se a fé na medida em que se aprende a crer.
Todos temos a percepção de haver um lado espontâneo na fé. Acordamos para a vida e, nesse mesmo instante, despertamos para algo próximo da fé. E, depois, há um momento em que muitos consideram necessário aprender a crer para aumentar a fé.
Ou seja, primeiro apreende-se, depois aprende-se!
2. Foi o que aconteceu com os discípulos de Jesus. Sentiam que tinham fé. E, por causa disso, pediram a Jesus que os ajudasse a aumentar a fé (cf. Lc 17, 5).
E como é que Jesus os ensinava? Com a Sua vida (cf. Lc 2, 47) e com a Sua palavra (cf. Mt 5, 1-12). No fundo, com a sintonia entre a Sua vida e a Sua palavra.
3. Walter Kasper notou que a novidade de Jesus Cristo não estava tanto na Sua mensagem. Estava sobretudo na Sua conduta.
Era isso que O tornava convincente. Era isso que levava muitos a procurá-Lo e a segui-Lo.
4. Podemos mesmo dizer que foi a fé de Jesus que estimulou a fé em Jesus. Ele apresentou-Se como um crente credível.
A Sua credibilidade levou-O a apostar a própria vida por aquilo que dizia, por aquilo que ensinava. Jesus dizia o que fazia e fazia o que dizia. O que fazia respaldava o que dizia.
5. As pessoas viam. As pessoas ouviam. Articulando o que viam com o que ouviam, eram mobilizadas para a fé.
Neste caso, a fé pode ser entendida não só como concordância, mas sobretudo como adesão, como seguimento, como entrega.
6. O crente não é tanto aquele que concorda e aplaude. O crente é sobretudo o que segue, o que convive.
O Evangelho anota que Jesus escolheu Doze «para andarem com Ele» (Mc 3, 14). Antes de mais e acima de tudo, o discípulo é o que partilha a vida do mestre.
Eis, aliás, a diferença entre o aluno e o discípulo. O aluno é o que ouve o mestre. Já o discípulo é o que, além de ouvir, convive com o mestre.
Em síntese, aprende-se a crer vendo, ouvindo e sobretudo vivendo.
7. O que se aprende quando se aprende a crer? Aprende-se que Deus é criador. Que Deus é providente. Que Deus salva. Que Deus liberta. Que Deus ama. Que Deus está presente. Que Deus não só age, mas também interage. Que Deus não só opera, mas também coopera.
Quando se aprende a crer, aprende-se que Deus, o mais distante ontologicamente, torna-Se o mais próximo pessoalmente. Aprende-se que Deus é Pai. E que, como vislumbrava Sto. Ireneu, o Filho e o Espírito Santo são como que as duas mãos pelas quais o Pai nos toca!
É, portanto, quando se aprende a crer que se aprende a conhecer e a viver a fé!
8. É a Igreja que, com todas as suas limitações, nos traz até Jesus. É ela que nos transmite o que outros acreditaram, o que outros viveram. E, dentro da própria Igreja, apercebemo-nos de que a nossa fé em Deus e em Cristo implica a fé na Igreja.
No seu mistério mais fundo, a Igreja é o sacramento primordial da presença de Deus no mundo. Ela é o novo corpo de Cristo. É neste sentido que a fé da Igreja nos conduz também à fé na Igreja!
9. Aprendemos a crer na oração e na missão. O encontro com Deus conduz-nos ao encontro com a humanidade.
10. É por isso que a fé se apega. É por isso que a fé nunca se apaga. É por isso que a fé se contagia. É por isso que a fé nunca é suficientemente grande. É por isso que a fé pode sempre ser maior!