A saída da religião não significa, necessariamente, o fim da religião.
Ficou célebre (apesar de muito discutida) a tese de Marcel Gauchet do Cristianismo como «a religião da saída da religião».
Manuel Maria Carrilho entende que a sociedade está «a adoptar um novo deus que se instalou no espaço que imaginámos ser o da nossa liberdade: o mercado».
A liberdade pode ser, assim, uma mera ilusão. «Somos cada vez mais um rebanho devoto a essa nova e única divindade do nosso tempo».
É o mercado que «determina o valor dos bens» e contribui para a desvalorização do Bem.
A nossa liberdade desagua em «novas formas de servidão voluntária».
A lição de Kant foi esquecida. Dizia o filósofo de Konisberg que «as coisas ou têm um preço ou uma dignidade. Se há coisas que não têm preço, é porque têm dignidade».
O problema é que os indivíduos tendem a interiorizar tudo pelo paradigma do mercado. É assim que se fala até do «mercado das ideias».
Para Manuel Maria Carrilho, o endividualismo nasce do cruzamento das «metamorfoses do indivíduo e do hiperconsumo», ou seja, da dívida. E, «contra todas as expectativas, o endividualismo vai resistindo a todos os abanões da crise».
Pudera! Ele está no epicentro da crise!