1. Admiro muito, mesmo muito, as pessoas humildes. Para mim, são as mais sábias. Diria mesmo: as únicas sábias.
Sábio, com efeito, não é o que presume que sabe. Pelo contrário, é o que pensa que não sabe e, nessa medida, se esforça por saber.
Não é fácil incluir a humildade na sabedoria. Mas o mais difícil é alcançar a sabedoria da humildade.
2. Só a humildade é, autenticamente, sábia. Só ela nos traz ligados à terra. Só ela nos conduz à profundidade. E não é na profundidade que estão as raízes de tudo?
O maior sábio é o que nem sequer dispensa o primeiro saber: o saber que não sabe, o saber do não saber.
Sem o primeiro passo, podemos dar o segundo? Sem o primeiro saber, será possível ascender a todos os outros saberes?
3. Porque humilde, o verdadeiro sábio não se considera superior nem vê os outros como inferiores. Para ele, os outros não estão em baixo nem tampouco ao lado. Os outros estão dentro dele.
Cada ser humano pertence a todo o ser humano, a toda a humanidade. Este é o padrão basilar da sabedoria.
4. A humildade é a verdade. E a verdade é a humildade. Não é violenta nem torturante. Aparece e dá-se a quem a procura. A verdade é Jesus Cristo, o Humilde.
É na humildade de Cristo que, como nos diz Bento XVI, «Deus não nos deixa tactear na escuridão. Ele mostrou-Se como homem. Ele é tão grande que pode até tornar-Se pequeníssimo».
5. Por conseguinte, só os sábios são humildes e só os humildes são sábios. As pessoas humildes são aquelas que percebem que o mundo não termina nem acaba em si. São aquelas que percebem que o centro do mundo não está em si.
São, pois, aquelas que não olham para si. São aquelas que olham para fora de si. Até o mais alto quis descer até ao mais baixo. Até Deus é humilde.
6. Deste modo, não é difícil subscrever o que disse Thomas Eliot: «A única sabedoria que podemos esperar é a sabedoria da humildade: a humildade é sem fim».
A humildade começa no olhar. O humilde não olha de cima, olha para cima. Orson Welles verbalizou o essencial da humildade quando disse: «Penso que é impossível que o homem seja grande se não admitir que há alguma coisa maior do que ele»!
7. Deus é humilde, maximamente humilde, poderosamente humilde. Holderlin, fogoso poeta, percebeu: «Deus criou o mundo como o mar criou os continentes: retirando-Se».
Trata-se, no fundo, do que está contido na doutrina hebraica do «zimzum», que evoca aquela espécie de «contracção» de Deus. Ou seja, Deus como que Se contrai na Sua imensidão para «hospedar» o homem e todo o universo.
8. Esta é, pois, uma humildade criadora. Só a humildade cria. A soberba destrói. Deus é omnipotente deixando ser, deixando que o diferente de Si seja.
Não se trata de uma limitação de poder, mas de um excesso de poder. O maior poder não é o que limita os outros, é o que faz ser os outros!
9. Jesus era manso e humilde (cf. Mt 11, 29): mansamente humilde e humildemente manso!
Nem todo aquele que é grande sabe ser humilde. Mas o humilde consegue sempre ser grande.
10. Nem sempre há humildade na grandeza. Mas há sempre grandeza na humildade.