A humanidade reconhece que está doente, mas os seres humanos têm dificuldade em reconhecer a natureza, a profundidade e o alcance das suas doenças.
Somos como aqueles pacientes que não se sentem bem. Mas que nada fazem para serem curados nem sequer procuram saber qual é a sua enfermidade.
Javier Aranguren detectou uma tríplice doença no mundo: o ruído, a pressa e o êxito. Não obstante, continuamos afogados em ruído, mantemo-nos em correrias constantes (e desgastantes) e não desistimos do êxito a todo o custo nem da fama a qualquer preço.
Vargas Llosa acha que a raiz de tudo está na falta de cultura humanista.
Assistimos «a um extraordinário empobrecimento da linguagem e a uma deterioração da comunicação e da racionalidade».
Resultado? «As máquinas pensam por nossa conta. A cultura do ecrã é muito mais conformista, mas letárgica, desmobilizando o espírito crítico».
Hoje em dia, lemos mais relatórios do que livros. Deste modo, limitamo-nos a gerir o presente e não preparamos o futuro.
Uma vez mais, tudo radica na falta do livro. É que, «com a literatura, a imaginação desenvolve-se, criando sociedades e mundos melhores, mais justos e mais livres».
A literatura está «sempre a expor-nos às ideias da perfeição, da beleza, da coerência, de uma ordem que não existe no mundo real; nesse sentido, têm servido como o motor do progresso da civilização».
É certo que também se pode ler no ecrã, via net. Mas a experiência dita que não é a mesma coisa. A interacção com o texto parece outra.
Não se trata de diabolizar a cultura do ver. Mas importa perceber que ler é diferente: é ver duplamente, decuplamente, incomensuravelmente.
Ler é ver com o espírito.
Ver é olhar para as coisas como elas são. Ler acaba por ser olhar para as coisas como elas podem vir a ser!