1. Já estivemos lá em cima e caímos. Já estivemos lá no fundo e reerguemo-nos.
Portugal é como um alpinista que não cessa de tentar. E que, apesar das quedas sucessivas, vai resistindo.
Também pode ser comparado a uma nau. Andamos em intempérie constante no mar bravio da História. Sempre a vacilar, mas nunca a naufragar.
Uma vez mais, parece que deslizamos para o abismo. Mas estou certo de que (uma vez mais também) havemos de o deixar. Para dele nos voltarmos a aproximar. E para, de novo, dele nos voltarmos a afastar.
Está no nosso código genético. Sempre a vacilar, nunca a naufragar!
2. Não deixa de ser preocupante — e (tristemente) irónico — que, numa altura de queda brutal do consumo, a venda de antidepressivos esteja a aumentar.
É elementar. Se aumenta a venda de antidepressivos, é porque estão a aumentar os casos de depressão. E se estão a aumentar os casos, é porque estão a crescer as causas.
Todos devíamos parar aqui. Cada ser humano deve ser alívio de sofrimento e não causador de sofrimento.
O poder também é exercido por pessoas. Era bom que aqueles que o exercem pensassem no efeito que as suas decisões podem ter. Na vida (e, quiçá, na morte) dos cidadãos!
E se muitos cidadãos agonizam e morrem, como é que a democracia pode sobreviver?
3. Não digo que a democracia esteja em perigo. Mas reconheço que a democracia corre um risco: a do seu crescente esvaziamento.
O momento crucial da democracia são as escolhas. O problema é que as propostas são ignoradas ou, então, alteradas. Ou seja, aquilo que é escolhido não é seguido e é — até — constantemente violado.
Os decisores não questionam a legitimidade das suas atitudes estribando-se na legalidade das eleições.
Acontece que os cidadãos não elegem apenas pessoas. Acima de tudo, escolhem propostas. Quando estas não são tidas na devida conta, a democracia entra em combustão!
4. Percebe-se, neste sentido, a importância da oposição. Mas não basta. A oposição faz o serviço de alerta. Mas nem sempre cumpre a função de alternativa.
É por isso que precisamos não apenas de oposição, mas também de proposição. A oposição é legítima. Mas a proposição não é menos necessária.
É fundamental que haja quem diga o que está errado. Mas é urgente que apareça quem aponte o que pode estar certo.
5. Este é o tempo da indignação. O presente justifica-a. Mas este tem de ser igualmente o tempo da esperança. O futuro convoca-a.
Não sei como a crise será vencida. Mas tenho a certeza de que esta crise será vencida.
A época é de sombras. Mas até nas sombras mais escuras brilha a luz. Os nossos caminhos estão pejados de dor e grávidos de esperança. Não deixemos de os percorrer.
Eu sei que, nesta hora, é difícil encontrar a luz. Mas as dificuldades, que são uma fonte de dor, prenunciam também auroras de esperança.
Afinal, tudo é crise. E, ao mesmo tempo, tudo é oportunidade para vencer a crise. O dia vem depois da noite.
Neste mundo nada é eterno.
Esta crise passará. Outra crise virá. E essa (outra) crise também há-de passar!