A juventude não é uma indicação de idade.
A juventude não é um exclusivo dos jovens. Há muita juventude nos mais idosos.
E um sorriso não deixa de ser belo por assomar a um rosto desgastado pelas canseiras, mas pujante pela energia, pela persistência, pela coragem, pela fé!
1. Muita gente se espanta por, apesar da crise, as festas se manterem com apreciável pujança e volumosos orçamentos.
Pode haver uma ligeira descida nos gastos, mas na substância não se notarão muitas oscilações.
2. É comum responder-se que o povo tem necessidade de festas. E, numa altura como esta, tal necessidade será ainda mais intensa.
O quotidiano é demasiado duro. Uma breve descompressão no Verão será, por isso, bem recebida. Daí os divertimentos e até os excessos «à custa» da Virgem Maria e dos Santos.
3. Acontece que, em tempos recuados, o quadro era semelhante. Na Idade Média, apesar da rigidez dos costumes, havia festas que ultrapassavam, em muito, os excessos actuais.
Basta pensar na chamada «festa dos tolos»(festum fatuorum). Decorria nos últimos quatro dias do ano e incluía não só actos profanos mas também a paródia de actos sagrados.
Havia clérigos que jogavam aos dados em cima do altar, envolviam-se em concursos de bebida, entoavam orações com arrotos, brincavam aos sermões, viravam os livros sagrados de pernas para o ar ou rezavam a vegetais. E mais não digo porque até eu me escandalizei quando, pela primeira vez, tomei conhecimento destes factos.
4. O mais curioso é que a comunidade intelectual dava uma justificação (quase metafísica) para estes desmandos.
Com efeito, em 1445, a Faculdade de Teologia de Paris defendia que era importante que «a loucura, que é a nossa segunda natureza, se pudesse esgotar livremente pelo menos uma vez por ano».
Invocava-se, de seguida, um termo de comparação que permitia extrair um argumento poderoso: «Os barris de vinho rebentam se não os abrimos de vez em quando para entrar algum ar». Surge, então, a conclusão: «Todos nós, homens, somos barris mal montados e é por isso que permitimos a loucura em determinados dias para, no fim, podermos voltar com maior zelo ao serviço de Deus»!
5. Tantos séculos depois, será que mudamos? Será que crescemos?
Será que a loucura continuará a ser a nossa segunda (ou, como alguns julgarão, a primeira) natureza? Será que a alegria não pode ser emoldurada com um manto de compostura e comedimento?
Sendo os excessos emocionalmente tão desgastantes e financeiramente tão dispendiosos, porquê todo este investimento neles?
6. Os programas de muitas das nossas romarias mostram como se passa, num horizonte temporal muito breve, de um acto de oração a uma noite inteira de diversão.
Para muitos, existe uma unidade entre aquilo que, à partida, é deveras contrastante. Supostamente, tudo é em honra do santo padroeiro: não só a Missa e a procissão, mas também o arraial, a farra e as bebidas. Para muitas pessoas, tudo faz parte da única festa.
7. Impressiona, de facto, que não haja o mais leve senso crítico. E que, na maioria das festas, a aposta na diversão corresponda a um esquecimento da solidariedade. Toda a gente parece muito satisfeita.
Só que a eficácia da oração não está na satisfação. Está, sim, no compromisso.
Aliás, já D. Óscar Romero apontava o critério decisivo acerca da qualidade da oração: «Como é que eu trato os pobres? Porque é neles que Deus está».
8. O compromisso com os pobres desponta, pois, como o grande cinzel da fé. A oração vacina-nos ante o perigoso (mas tão insinuante) contubérnio com os poderosos.
A oração é encontro com o grande Pobre de Nazaré. Do Pobre para os pobres — eis, em síntese, o movimento que se espera de todo o crente!
A eficácia da oração não está na satisfação. Está, sim, no compromisso.
D. Óscar Romero, o arcebispo mártir de S. Salvador, aponta o critério decisivo acerca da qualidade da oração.
Para ele, a qualidade da oração passa por aqui: «Como é que eu trato os pobres? Porque é neles que Deus está».
O compromisso com os pobres desponta, pois, como o grande cinzel da espiritualidade.
A oração vacina-nos ante o perigoso (mas tão insinuante) contubérnio com os poderosos.
A oração é encontro com o grande Pobre de Nazaré.
Do Pobre para os pobres, eis, em síntese, o movimento que se espera de todo o crente!
Para fora. Para dentro. Para cima. Para baixo. «Para onde quer que te vires, aí encontrarás a face de Deus».
Maomé estava certo. Deus é a face que se encontra em todos os rostos.
Ele surge, muitas vezes, como a ausência escondida em muitas presenças. E desponta, não raramente, como a presença incluída em muitas ausências.
É por isso que a oração é um mistério de encontro, que percorre até os próprios desencontros.
Como dizia Gandhi, «a oração é a chave da manhã e o ferrolho da noite».
Com ela acordamos. Com ela adormecemos. Nela repousamos!
Ludwig Borne deu conta: «Nada é tão duradouro como a mudança».
De facto, tudo muda. Tudo muda mesmo depois de mudar.
Até o mudar mudou, dizia Bernardim Ribeiro.
E quando parece que tudo acaba, apercebemo-nos de que, afinal, tudo está a (re)começar!
Há líderes que invocam méritos que não têm e que atribuem culpas que lhes cabem.
Inácio Dantas fez a distinção fundamental: «O chefe incomum, quando dá uma ordem errada, assume a culpa pelo erro; o comum atribui o erro ao executor»!
Aldous Huxley bem se apercebeu: «Uma verdade sem interesse pode ser eclipsada por uma mentira emocionante».
Nós tendemos a ligar mais às emoções do que à verdade. Mas, mesmo que não pareça emocionante, a verdade é sempre o valor maior!
Um corpo são é uma boa ajuda para manter a mente sã.
Os antigos já o sabiam: «Mens sana in corpore sano».
O curioso é que uma recente investigação confirma a percepção dos clássicos.
Segundo o estudo, os alunos que fazem exercício físico obtêm melhores resultados escolares!
Viver é arriscar.
Quando se arrisca, há a possibilidade de perder. Mas o risco é a única possíbilidade que existe de se vir a ganhar.
Os antigos já diziam que «a sorte protege os audazes». E, mais recentemente, Edward Gibbon verteu com agudeza: «O vento e as ondas estão sempre ao lado dos melhores marinheiros»!
Hoje, 09 de Agosto, é dia de Sta. Teresa Benedita da Cruz (nome religioso da filósofa Edith Stein), S. Carlos Maria Leisner, S. Samuel de Edessa e S. João de Fermo ou da Alvérnia.
Um santo e abençoado dia para todos!
Da universidade para o convento e do convento para o campo de concentração.
Assim pode ser condensado o percurso de uma das mulheres mais brilhantes do último século.
Edith Stein, transfigurada em Teresa Benedita da Cruz, investiu tudo na procura da verdade. Ao encontrá-la, mudou a vida, mudou de vida.
Deixou de ser discípula de um dos mais brilhantes filósofos do seu tempo para se tornar apóstola do mestre de todos os tempos.
De Husserl a Jesus, Edith Stein cresceu na sabedoria e desaguou na santidade.
Três anos antes do lançamento da segunda bomba atómica, esta mulher exalava o seu último suspiro.
Mas nem a morte apagou o rasto da sua vida.
A segunda bomba atómica foi lançada neste dia. Há 67 anos. «Ontem», portanto.
Que tenha sido a última vez.
Este é o nosso desejo. Mas poderá ser a nossa certeza?
Confesso que, às vezes, me assusto com a determinação, isenta de qualquer dúvida, dos que falam sem escutar. Dos que falam de Deus sem se preocuparem em escutar Deus. Dos que agem em nome de Deus. Dos que julgam em nome de Deus. Dos que condenam em nome de Deus.
Parece que têm uma «linha directa». Parece que Deus está totalmente neles em vez de serem eles a procurar estar em Deus.
Parece que não têm necessidade de escutar. Parece que não precisam de ajoelhar.
Deviam ouvir, todos esses, o apelo de Shakespeare: «Dobrai-vos, joelhos teimosos»!
Muito se lamenta, hoje em dia, a agitação exterior. E pouco se alimenta, hoje em dia, o aprofundamento interior.
Gostamos de sair: de sair de casa, de sair de nós.
Mas é importante também saber entrar: entrar em nós e, a partir de nós, entrar nos outros.
Quem nunca entra torna-se um insatisfeito quando sai. Anda numa afanosa procura de tudo sem jamais encontrar nada.
«O sopro da vida interior» é uma boa ajuda para a arte de entrar. Joan Chittister dá-nos uma bela ajuda no livro que escreveu!
As palavras não serão tudo, mas são importantes para compreendermos quase tudo.
Pensemos numa das palavras mais invocadas nos últimos tempos: austeridade.
Em grego, austeridade diz-se «austeros», que significa duro e severo.
Já em alemão, austeridade diz-se «sparprogramme», que significa um plano de poupança.
Daí talvez a forma diferente como as coisas são entendidas!
O descuido pelo conhecimento do passado não significa maior enfoque no futuro. Pode significar, antes, desinteresse pela vida.
É que a vida não é unidireccional; é tri-única.
Ela não acontecerá só amanhã. Começou a acontecer ontem. Ou seja, acontece em cada hoje: no hoje de ontem, no hoje de hoje e no hoje de amanhã.
Razão assiste, pois, a Marguerite Yourcenar: «Quando se gosta da vida, gosta-se do passado, porque ele é o presente tal como sobreviveu na memória humana».
Tanto devemos ao passado. Que é conhecer senão aprender com quem (já) viveu?
Schopenhauer, que não era propriamente muito polido, soube reconhecer que «polidez é inteligência; consequentemente, impolidez é parvoíce. Criar inimigos por impolidez, de maneira desnecessária e caprichosa, é tão demente quanto pegar fogo na própria casa».
Confesso que, sem nostalgias destemperadas, sinto a falta de uma certa polidez na maneira de vestir, no modo de falar e na forma de agir.
Uma certa aristocracia no porte é sempre bem-vinda! O populismo desleixado já satura!
Balzac teve uma percepção assombrosamente pertinente quando escreveu: «O homem começa a morrer na idade em que perde o entusiasmo».
Sem entusiasmo não se vive. Apenas se sobrevive.
E, como salientava Edgar Morin, «sobreviver não é viver». É começar a morrer!
Ambrose Bierce teceu o seguinte comentário sobre a admiração.
Trata-se do «nosso reconhecimento cortês de que outra pessoa se assemelha a nós».
Não devia ser apenas isso.
A nossa admiração não devia excluir o diferente. Mas, no fundo, estamos sempre à espero de um eco: de um eco não só da nossa voz, mas também do nosso ser!
Lucio Gera faleceu, ontem, aos 88 anos.
Mais um teólogo que morre.
Mais um teólogo que deixa uma obra extensa e um legado imperecível.
Mais um teólogo militante que soube escolher o lado de dentro e o lado do fundo: o lado da espiritualidade e o lado dos pobres!
Tudo promete subir nos próximos tempos: a temperatura e o preço dos combustíveis, e o preço da luz, e o preço do gás!
Que não desça a resistência nem desfaleça a determinação!
Dizem que o exterior vai aquecer. Existem alertas para o calor.
O problema é que o interior de muitos dá sinais de continuar a arrefecer. Haverá alertas para este frio?
Será que o Estado quer mesmo privatizar? Não será que, ao privatizar, no fundo o que se pretende é nacionalizar?
Privatiza-se a propriedade, mas nacionaliza-se o capital.
Porém, a inquietação mantém-se. Será que se nacionaliza mesmo?
Será que o capital nacionalizado é aplicado na promoção de uma vida melhor para toda a nação?
Hoje, 08 de Agosto, é dia de S. Domingos (Fundador da Ordem dos Pregadores), 14 Santos Auxiliadores e Sta. Maria Margarida do Sagrado Coração, Fundadora das Irmãs Mínimas do Sagrado Coração.
Um santo e abençoado dia para todos!
Num texto que, no pretérito Domingo, escutámos na Missa, S. Paulo convida-nos a fugir da futilidade.
A futilidade é um sinal de decadência. E, nessa medida, um sintoma de alarme.
A partir de certa altura, pode inclusive degenerar numa tal inconsciência que já nem nos apercebemos do estado em que estamos. A futilidade não se reconhece fútil.
Empobrece-nos sob a ilusão de uma aparente riqueza.
A banalização é um perigoso alerta. Tudo tende para a padronização, para o estereótipo.
Importante, por conseguinte, será prestar alguma atenção à advertência de Chateubriand: «Existem palavras que deveriam servir uma única vez».
Há palavras que, quanto mais se repetem, menos se ouvem!
Hermann Melville recomenda: «Não podemos viver apenas para nós mesmos. Milhares de fibras ligam-nos aos nossos compatriotas humanos».
Sigamos, então, a natureza.
O «eu» está ligado ao «tu» e emoldurado pelo «nós». O egoísmo não serve o «eu». Tolhe-o.
O lugar do «eu» não é fechado em si mesmo. É aberto à humanidade inteira!
O sábio bíblico já se apercebera de que o seu conhecimento era maior do que as suas palavras.
É por isso que as palavras do sábio são comedidas.
Onde há gritaria, não haverá muita sabedoria. Por muito cuidado que haja, as palavras ficarão sempre aquém do que pretendem revelar.
Elas devem servir como vislumbre e não como pretensiosa exibição.
A sobriedade na linguagem é um precioso sintoma de sabedoria.
Montaigne, por exemplo, falando das suas viagens, confessava: «Sei muito bem daquilo que fujo, e não aquilo que procuro».
E, no entanto, fugia. E, contudo, procurava.
Afinal, somos sempre fuga de algo. Afinal, somos sempre procura de tanta coisa!
Há muito, muito, tempo o sábio Qohélet proclamou: «Mais vale um bom nome do que um bom perfume».
O bom nome é o melhor perfume.
A difamação, ainda que ruidosa, pode lançar alguma lama.
Mas a conduta, ainda que silenciosa, não deixará de repor o bom odor!
Uma rápida viagem pelo «medalheiro» destes Jogos Olímpicos presenteia-nos com o poder da China e com o fulgor dos Estados Unidos.
Afinal, o desporto mimetiza os contornos da geopolítica.
A China emerge. Os Estados Unidos mantêm-se. A Coreia do Sul surpreende. A Alemanha, a Itália e a França também estão no cimo.
Mas, nesta «universidade desportiva», as oportunidades são para quase todos. Até países como a Arménia, a Etiópia, a Geórgia, o Quénia, o Uzbequistão e Trindade e Tobago já conseguiram os seus feitos.
A lista de países com medalhas é bastante extensa. Será que não haverá um lugar para Portugal?
Agora foi o primeiro-ministro a sair. O que fica ao lado do presidente da Síria?
Ficam as armas. Fica a ambição. Fica a violência. Fica uma luta tremenda contra a evidência.
O desfecho de tudo isto é conhecido. E não vai ser bom para ninguém.
Muitas vidas já foram ceifadas. Muitas vidas vão continuar a cair.
Que ficará para festejar? Quem ficará para festejar?
Hoje, 07 de Agosto, é dia de S. Sisto II, S. Caetano, Sto. Alberto de Trápani, Sto. Agatângelo de Vêndome e S. Cassiano de Nantes.
Um santo e abençoado dia para todos!
Depressa e bem tem de ser o lema da justiça. Para agir bem, tem de agir com celeridade.
Jean de La Bruyère alertou: «Uma coisa essencial à justiça é fazê-la prontamente e sem adiamentos. Demorá-la já é injustiça»!
Eu sei que o panorama não é animador e que as desilusões são mais que muitas.
Há quem se demita de fazer o bem.
Há quem pratique o mal e não o assuma.
Há quem pratique o mal e, ainda por cima, se arvore no bem que (não) praticou.
Por tudo isto, é possível que a sua crença na humanidade esteja a decair.
Pense, apesar de tudo, nestas palavras de Gandhi: «Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como um oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo».
Há sempre uma torrente de luz por cima da escuridão!
A megalomania é um vício contagiante. E o problema é que muitas honras nem sempre contemplam o mérito.
Muitas vezes, são peças de jogos de interesses. Quanto a isto, Aristóteles terá dito o essencial: «A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las».
De facto, mais vale merecê-las e não as ter do que tê-las sem as merecer.
A maior honra é a consciência do dever cumprido e do bem realizado. O bem compensa por si mesmo. Quanto às honrarias, o melhor é não perder muito tempo com elas.
Penso que o conselho de Churchill continua a ter validade. As honras não se pedem, não se recusam e não...se usam!
Decididamente, antes a honra do que as honras!
Alfred Newmann disse o essencial:
«Viva cada dia de sua vida como se fosse o último, pois um dia vai ser mesmo o último»!
Uma recomendação de Tales que jamais deveria ser esquecida:
«Espera do teu filho o mesmo que fizeste a teu pai»!
A ausência de erros é uma quimera. Quem diz que não os comete não é um sábio; é um comediante, quiçá um impostor, porventura um ilusionista.
Bertold Brecht afirmou: «Inteligência não é não cometer erros, mas saber resolvê-los rapidamente».
Como podemos estar sossegados num mundo onde há limites para os salários dos pobres e não há limites para os vencimentos dos ricos?
Como podemos estar tranquilos quando o trabalho está mais subjugado às leis do mercado do que às leis de um país?
Como podemos estar impávidos e serenos quando o trabalho é escravizado para muitos e o acesso ao trabalho é impedido a tantos?
E, como se isto não bastasse, ainda nos dizem que assim tem de ser, que não há alternativas.
Às vezes, sou tentado a concordar com Bertolt Brecht quando sustentou que aquele que vai à nossa frente e nos conduz é o nosso inimigo.
Eu não diria tanto. As palavras são fortes. Mas a realidade não será (muito) mais dura?
Foi em Hiroshima, em 1945.
Completam-se, hoje, 67 anos do lançamento da primeira bomba atómica.
A segunda guerra caminhava para o fim, mas a paz estava longe de ser garantida.
Ficou demonstrado que o potencial destruidor do Homem é brutalmente forte.
Hoje, 06 de Agosto, é dia da Transfiguração do Senhor (festa celebrada, em alguns locais, como do Santíssimo Salvador), S. Justo e S. Pastor.
Um santo e abençoado dia para todos!
O Evangelho de hoje coloca-nos uma discussão entre Jesus e os Seus coetâneos.
Ao longo dos séculos, assistimos a uma distância entre Jesus e os Seus seguidores.
Jean Cocteau afirmou: «A nascente desaprova quase sempre o itinerário do rio».
É preciso não deixar de olhar para a nascente!
Não é de agora a febre lusitana por títulos.
Dir-se-ia que, em tempos republicanos, são atávicos resquícios da monarquia.
Parece que não há terra nem casa onde não haja uma condecoração ou título qualquer atrás do nome. Devemos ser o país com mais presidentes do mundo. Além do presidente da república, há o presidente de muitas câmaras e o presidente de imensas juntas de freguesia.
Isto para não falar dos abundantes presidentes de agremiações e colectividades.
Almeida Garret parodiou tudo isto com magistral sarcasmo: «Foge, cão, que te fazem barão. Mas para onde, se me fazem visconde?».
É um exagero, obviamente. Mas está bem observado!
Também nós hoje, Jesus, estamos à Tua procura.
Como há dois mil anos, também nós continuamos a querer estar conTigo.
A Tua presença, Senhor, é reconfortante.
O Teu amor é transformador.
A Tua paz é motivadora
e geradora de uma vida nova.
Obrigado, Senhor, pelos Teus ensinamentos,
pela Tua instrução,
pela Tua imensa sabedoria.
Tu, Senhor, és o Pão da vida
e a vida do Pão.
Que nós sejamos generosos.
Que saibamos dividir para multiplicar.
Que nós sintamos a força da esperança
e a luz do perdão.
Neste tempo de tanta fome,
sê Tu, Senhor, o alimento
e o estímulo para distribuirmos o alimento por todos os famintos.
Que nós saibamos ter um coração misericordioso e compassivo,
generoso e com vontade de repartir.
Que não queiramos tudo para nós.
Que pugnemos pela justiça
e que saibamos cultivar a solidariedade.
Obrigado, Senhor, por seres o Pão do Céu,
o Pão da Esperança e o Pão da Paz.
Dá-nos sempre desse pão.
Não nos deixes famintos.
Que nos alimentemos à mesa da Tua Palavra
e do Teu Pão.
Que saibamos viver a Eucaristia em cada dia
e que cada semana seja a projecção do Domingo.
Que o Teu dia seja o nosso dia.
E que saibamos ser a Tua imagem,
JESUS!
Hoje, 05 de Agosto, XVIII Domingo do Tempo Comum, é dia de Sta. Maria Maior (ou Nossa Senhora das Neves), Sto. Abel de Reims e Sto. Emídio.
Um santo e abençoado dia para todos!
«A vingança procede sempre da fraqueza da alma, que não é capaz de suportar as injúrias».
La Rochefoucauld viu bem.
O problema é quando a vingança recebe o nome de justiça.
A melhor resposta às injúrias é não devolver o que se recebeu.
Se é possível reatar o laço fendido, óptimo. Caso contrário, o melhor é seguir em frente.
A vida é como o tempo: não anda para trás!
Stefan Zweig foi luminoso: «Toda a ciência provém da dor. A dor procura sempre a causa das coisas, enquanto o bem-estar se inclina a estar quieto e a não olhar para trás».
Tudo o que custa vale. Tudo o vale custa.
A adversidade não é agradável. Mas pode ser fecunda!
Hoje, 04 de Agosto, é dia de S. João Maria Vianey (St. Cura d'Ars), Sto. Aristarco, Sto. Eleutério de Társia, S. Gonçalo e S. Rúben Estilita.
Um santo e abençoado dia para todos!
1. Já tivemos o defeso no futebol. Parece que ainda estamos no defeso da política. E, às vezes, dou comigo a pensar se esta não será também a época de um certo defeso da fé.
É verdade que, pelo menos exteriormente, abundam manifestações de fé. Não há terra em que não passe uma procissão. Não há ermida onde não se faça uma romaria. Não há aldeia onde não haja multidões.
São muitos os forasteiros. Umas vezes, parecem peregrinos. Outras vezes, portam-se como turistas. Outras vezes ainda, comportam-se como meros foliões.
2. Sendo assim, será que estamos mesmo diante de manifestações de fé? Olhemos, por um lado, para os orçamentos das festas e, por outro lado, para a pobreza de muitas pessoas.
Se, como alertou S. Paulo, a fé actua pela caridade (cf.Gál 5, 6), era muito mais belo se as quantias que se gastam nestes dias ajudassem a matar a fome a tanta gente. O próprio Deus seria muito mais honrado. E a fé sairia infinitamente mais fortalecida!
3. O certo é que, não obstante a crise, Portugal «converte-se numa marcha de foguetes e músicas». O retrato de Juan Rubio acerca de Espanha ajusta-se perfeitamente ao nosso país.
E o mais curioso é que, «numa sociedade que, a cada dia, se diz mais descristianizada, menos crente e mais secularizada», estas festas são dedicadas à Virgem Maria e aos Santos.
4. No entanto, a vivência religiosa parece residual. Dá a impressão de que o religioso é mais o pretexto do que o motivo da festa. As imagens dos santos surgem nos cartazes e figuram nos andores, mas o ambiente folgazão e o impulso gastador combinam pouco com a sobriedade evangélica.
Com as festas, a economia das populações ganha um pouco. Mas será que a formação cristã das pessoas cresce alguma coisa? Dir-se-ia que, nestes tempos, se esquece não só a crise, mas também a fé...
5. Há duas abordagens habituais, mais sussurradas que assumidas, em torno destes epifenómenos. Uma é mais preguiçosa. A outra é mais belicosa. Ambas correm o risco de não aprofundar o debate nem de ajudar a alterar a realidade.
A abordagem mais preguiçosa exalta a situação ou, então, resigna-se a ela. Vê tudo isto como sinal de vitalidade do país profundo e como expressão de uma fé genuína, não controlada pela hierarquia.
Nos seus antípodas, há uma abordagem mais belicosa, que não descortina qualquer valor nas festas. Limita-se a tolerá-las, dando por adquirido que jamais se poderão melhorar.
6. Resultado.
No primeiro caso, existe uma assimilação acrítica que se limita a seguir a corrente.
Já no segundo caso, opta-se por uma avaliação tão (impiedosamente) crítica que nem pondera a menor tentativa de transformação. E é assim que tudo tende a continuar como sempre.
7. Não falta, como observa Juan Rubio, quem, «com mais emoção que cabeça, diga que a nova evangelização começa por aqui, justificando-se deste modo a falta de imaginação pastoral».
Acontece que evangelizar não é só manter; também é mudar. É claro que haverá sempre resistências e dores. Mas não podemos recuar nem desistir. Não se trata de demolir ou de apagar. Em todo o crescimento, há que polir e discernir.
Nas festas de Verão, «haverá que manter o essencial, o importante. O resto será para limar e purificar».
8. Afinal, as festas são para nós ou para Deus?
S. João da Cruz não hesitava: «Os homens fazem as festas mais para eles do que para Vós, Senhor»!
Mas, nesse caso, porque é que se teima em usar o nome de Deus e a imagem dos santos?
É a crise um conceito muito difuso e uma realidade deveras elástica.
Estamos em crise? Podemos dizer que sim.
De facto, estamos em crise em relação à Alemanha, à Suécia, à Finlândia, à Noruega, à Dinamarca. Mas será que estamos em crise em relação ao Congo, à Etiópia ou ao Ruanda?
É certo que estamos em crise em relação a alguns. Mas não estamos em crise em relação a outros. Também podemos dizer que estamos em crise em relação a nós, ao que já fomos.
Estamos em crise em relação a um passado próximo. Mas não estamos em crise em relação a um passado distante.
Não vivemos tão bem como há quatro ou cinco anos. Mas vivemos incomparavelmente melhor do que se vivia há dez, vinte, trinta ou quarenta anos.
É bom querer sempre mais. Mas é pouco só querer mais.
O problema estriba aí. Apostamos tudo no crescimento material e na fruição, no lazer. Subalternizámos a justiça, menorizámos a solidariedade e esbanjámos a vida espiritual. Não nos preparámos para a adversidade.
Há, porém, quem viva muito pior que nós. Há quem viva com muito menos. E, mesmo com muito menos, há quem pareça (e seja) mais feliz.
Há quem, tendo quase tudo, mostre possuir muito pouco.
Não é só com mais que nos tornamos melhores!
«A incredulidade é impaciente. A fé ignora a pressa».
Simon Vestdijk viu bem e viu longe. A fé dribla os esquemas habituais dos procedimentos humanos.
A fé vislumbra o invisível. Os seus ritmos são pausados.
Todos os passos são dados. Incluindo o último!
Concordo, cada vez mais, com Leon Tolstoi: «A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família»!
O Padre António Vieira apercebeu-se, certamente, de uma enfermidade nacional: ter boas leis, mas não conseguir aplicá-las. «Não há leis tão justas e leves que não necessitem de quem as faça executar e guardar».
A nossa produção legislativa é assombrosa. Mas tudo isso é muito pouco.
Para quê ter boas leis se elas não são postas em prática?