O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Segunda-feira, 23 de Julho de 2012

É importante que não nos resignemos. Mas é fundamental que procuremos perceber o que acontece.

A guerra degrada-nos. E na paz (ou, melhor, na ausência da guerra) cavamos os alicerces da degradação.

Oscar Wilde, com a subtileza do seu génio, foi muito claro.

«O luxo dos ricos vem do trabalho dos pobres». Na guerra, «os fortes escravizam os fracos». Na paz, «os ricos escravizam os pobres».

Nunca conheceremos verdadeiramente as pessoas, nem sequer os que consideramos amigos. Para Wilde, «é muito perigoso conhecermos os nossos amigos». 

É por isso que o autêntico amor «sofre e é silencioso». É eloquente por si mesmo, mas raramente se mostra loquaz. Teria muito para dizer, para denunciar. Por isso, por amor, opta, muitas vezes, por calar.

«A Beleza e a Sabedoria, prossegue Wilde, amam o venerador solitário»!

publicado por Theosfera às 22:55

1. O pecado original da democracia (dificilmente corrigido ao longo dos tempos) é a propensão para estacionar na «cracia» (poder) e para quase ignorar o «demos» (povo).

Este é convocado para atribuir o exercício do poder. Depois, resigna-se a suportar o poder, a sofrer o poder.

 

2. Sucede que tal percepção envenena tudo. Muitas vezes, ficamos só pelas intenções, pelos enunciados.

O mais elementar conceito diz que a democracia é o poder do povo. Olhando, porém, para a realidade, o que avulta é que o povo acaba por ser a maior vítima da democracia.

José Saramago asseverou: «Estamos numa situação em que uma democracia que, segundo a definição antiga, é o governo do povo, para o povo e pelo povo, nessa democracia precisamente está ausente o povo».

 

3. A alternativa não é, contudo, extinguir a democracia. A alternativa só pode ser refundar a democracia, recentrando-a no povo!

Se a fonte do poder é o povo, o exercício do poder devia ser um serviço, uma missão.

 

4. Muito se fala no êxito dos países nórdicos. Apesar da crise, mantêm-se na dianteira das escalas do desenvolvimento.

Frequentemente surgem apelos para que se importem os seus modelos, os seus ideais, os seus programas.

 

5. Tudo isto é conhecido. E muito disto é defendido.

Grande parte dos nossos políticos confessa inspirar-se nas ideologias aplicadas naqueles países.

O que se passa, então, para que os resultados sejam (radicalmente) diferentes? Só encontro uma resposta: o carácter. E o carácter (dos políticos e dos cidadãos) não se pode importar por decreto.

 

6. Naqueles países, reclamam-se direitos, mas quase ninguém foge aos deveres. A desigualdade entre as pessoas é quase nula. Os ricos vivem bem, mas os pobres também não parecem muito mal.

Há muita ordem sem haver demasiada coerção. O Estado é permanentemente reorganizado. A cultura é priorizada.

A corrupção é uma ausência. Os privilégios praticamente não existem. Os deputados e os ministros recorrem, frequentemente, aos transportes públicos.

 

7. Há quem diga que os cidadãos destes povos são de uma frieza glacial e pouco emotivos.

É claro que o paraíso não mora neste mundo. A perfeição não é uma oferta da natureza; é uma constante aquisição da vontade. E ter defeitos é sinal de que o caminho ainda não está totalmente percorrido.

O certo, porém, é que, mesmo com reduzida emoção e alguma frieza, os mecanismos de solidariedade funcionam melhor a norte do que a sul. E o Estado Social, que nós sentimos tremer, não dá sinais de vacilar.

 

8. Curiosamente, a ausência de alternância política, que nós registamos, também se verifica por lá. Com uma diferença: é que lá, mesmo quando mudam os governos, os direitos não ficam em causa; já entre nós, por cada alternância que surge, as conquistas parecem ficar em risco.

Aqui, à direita e à esquerda, não parece haver alternativa à austeridade. Nos países nórdicos, à esquerda e à direita, não parece haver alternativa ao desenvolvimento!

 

9. Muitos pensarão que falar disto é pura demagogia. No fundo, o que não se quer é mudar. Nem mudar a mentalidade, nem a prática governativa, nem a conduta cívica.

É por isso que nos limitamos a sonhar com o sucesso dos outros. E a lamentar, persistentemente, o nosso endémico atraso!

 

 

publicado por Theosfera às 16:23

Há coisas que estão mais do lado da procura do que da posse. A sabedoria, por exemplo.

Quanto mais se procura, mais se encontra. Quanto mais se encontra, mais se continua a procurar. Georg Lichtenberg foi, ao mesmo tempo, pertinente e cáustico quando escreveu: «O sábio procura a sabedoria, o tolo encontrou-a».

Não diria que quem encontra a sabedoria é tolo. Mas diria que sábio é todo aquele que não repousa em qualquer encontro.

Agostinho de Tagaste recomendou no já distante século V: «Procuremos como quem há-de encontrar. E encontremos como quem há-de voltar a procurar. Pois é quando parece que tudo acaba que tudo verdadeiramente começa»!

publicado por Theosfera às 10:41

Talvez não concorde a cem por cento com Thomas Eliot: «O homem que age não sofre».

Mas é verdade que, mesmo sofrendo, não se resigna ao sofrimento.

E isso faz muita diferença, toda a diferença!

publicado por Theosfera às 10:40

Nos tempos de Aristófanes era assim: «Para as crianças, educação é o mestre-escola; para os jovens é o poeta».

Hoje, porém, já não é bem assim. Os ídolos ocuparam o lugar dos ícones.

O resultado da mudança não é animador. Mas creio que ainda não reparamos devidamente no logro em que nos meteram!

publicado por Theosfera às 10:39

A comissão tem uma missão prioritária: acabar com a cunha.

Trata-se de uma missão hercúlea e de um desígnio constantemente torpedeado.

Os princípios são claros, mas há hábitos que estão instalados.

A recém-criada Comissão de Recrutamento e Selecção da Administração Pública tem um trabalho insano pela frente.

O seu presidente assegura total independência em relação ao poder.

Os currículos para gestores terão rasurados o nome, o sexo, a etnia e toda e qualquer referência partidária.

É um bom princípio. Esperamos que haja condições para seguir em frente com estes propósitos.

Não vai ser fácil. Que não se torne impossível!

publicado por Theosfera às 10:30

Hoje, 23 de Julho, é dia de Sta. Brígida (Padroeira da Europa), Sto. Apolinário, Sta. Cunegundes e S. Nicéforo e seus Companheiros mártires.

Um santo e abençoado dia para todos!

publicado por Theosfera às 07:11

1. Um dos indicadores que os nossos tempos mostram é a crescente capitulação da palavra perante a realidade.

Já sabíamos que a realidade é forte. O que não suspeitávamos é que se a palavra se mostrasse tão fraca.

Hoje em dia, a palavra quase sempre vai atrás dos factos, (in)devidamente domesticada diante do império da realidade.

 

2. À partida, é estranho que, num tempo em que se fala tanto, se especule acerca de uma crise da palavra.

É possível que o problema radique precisamente aí, ou seja, na banalização da palavra, na instrumentalização da palavra.

A ruidosa proliferação de palavras parece ter-lhes retirado capacidade de intervenção. Parece ter-lhes subtraído os créditos que costumavam pontuar a sua actuação. Tudo parece reduzido a sons sem efeito.

 

3. A palavra, geralmente, resigna-se a justificar a realidade. Vê-se impotente para a transformar. Sente-se até incapaz de a explicar.

Limita-se a descrevê-la com a (inevitável) adenda de que «não há alternativa».

Seja a austeridade, seja o desemprego, seja até a corrupção, o tom não oscila muito. O que a palavra, em forma oral ou escrita, nos assegura é que tem de ser assim. Ou, o que é mais espantoso, que sempre foi assim.

 

4. Isto é preocupante e profundamente empobrecedor. É que as grandes transformações ocorreram quando a palavra alterou o curso de ocorrências que pareciam irreversíveis.

Veja-se, a título de exemplo, a segunda guerra mundial. Os factos apontavam numa direcção. Mas a pertinácia da palavra (sobretudo) de Churchill alterou o rumo dos acontecimentos e fez inverter o decurso da história.

 

5. Esta degola da palavra, a que assistimos hoje, só será superada com pessoas que acreditem, que tenham esperança e que nunca se submetam. Os factos são teimosos. Mas a teimosia dos factos pode ser vencida!

Dir-se-ia que a realidade da palavra não pode manter-se submissa no contacto com a palavra da realidade. Não podemos continuar a subestimar a força da palavra.

 

6. George Steiner não se revê nestes tempos «epilológicos», nestes tempos de «pós-palavra». Não se trata do desaparecimento da palavra, mas da sua crescente subalternidade.

A palavra como que se submete, limitando-se a anotar, a aplaudir.

 

7. Os vencedores são sempre apontados como modelos, como critérios, alcandorados ao estatuto de norma e de padrão.

O êxito é a medida. Não se escrutinam os métodos. Não se questionam as atitudes. A história continua a ser feita a partir de cima.

 

8. A palavra não devia ter apenas uma função notarial, passiva. Ela devia apostar numa missão mais interventiva, mais performativa.

Eu sei que é difícil. Mas, por muito estranho que pareça, a palavra tem uma força que pode alterar muitos factos.

 

9. Actualmente, o pensamento tende a ser cada vez mais descritivo e cada vez menos criativo.

As soluções quase reproduzem (para não dizer que alastram) os problemas.

O sistema educativo tem um papel preponderante. A cultura humanista deve caldear a totalidade do ensino. As especialidades são importantes, mas precisam de ser animadas por uma abertura ao geral.

 

10. Não basta ler bem a realidade. É fundamental procurar transformá-la. E, além de soluções, carecemos de horizontes. São eles que nos farão (re)viver.

Faz falta quem acredite na palavra. Temos saudades da força da palavra. Estamos saturados do ruído de muitas palavras...

publicado por Theosfera às 00:30

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