Não é propriamente o tema mais exaltante. A corrupção putrefaz tudo por onde passa. A própria linguagem que a denuncia não parece ficar incólume.
É por isso que se propende a ficar pelo sussurro, pela conversa privada ou, então, pela delação anónima.
É claro que a corrupção estará tanto mais disseminada quanto menos nos apercebemos dela, quanto mais nos habituamos a ela.
Também salta à vista que a corrupção não é um exclusivo de nenhum sector. Ela estará presente, de forma tentada ou de forma realizada, em todos os patamares da sociedade.
Há portas que ora se fecham, ora se abrem de acordo com critérios ínvios. São critérios que ninguém escrutina e que poucos se dão ao trabalho de explicar.
Há uma mentalidade avuncular que vê o nepotismo como uma coisa normal, quiçá sadia.
Todos se revoltam, mas aparentemente ninguém questiona. A corrupção só nos indigna quando nos toca, ou seja, quanto somos vítimas dela. Se nos beneficia, calamos e até agradecemos.
O «factor C» corre à velocidade da luz e invade todos os departamentos da vida de modo larvar. Mas, atenção, a corrupção não existe apenas para obter favores para alguém. Subsiste também quando se tenta prejudicar alguém.
É por isso que falar de corrupção exige não só coragem, mas também cuidado.
Estamos a falar de pessoas. E uma pessoa é sagrada. Seja ela quem for.
Pessoalmente, o poder suscita-me desencanto. Mas a honra de quem o exerce (e exerceu) não me merece reparo.
Que as discordâncias não façam cair as (indispensáveis) pontes!