Eis o fim à porta. Eis o começo à vista.
Aquilo que parece tão distante (fim e princípio) afinal é tão próximo.
Estamos sempre a terminar.
Estamos sempre a recomeçar: o dia, o tempo, a vida!
Eis o fim à porta. Eis o começo à vista.
Aquilo que parece tão distante (fim e princípio) afinal é tão próximo.
Estamos sempre a terminar.
Estamos sempre a recomeçar: o dia, o tempo, a vida!
De Sto. Inácio de Loyola, que hoje se celebra, sempre conservei a oração que os escutas adoptaram.
Sempre me marcou uma petição: «Que eu faça, Senhor, o bem sem esperar outra recompensa se não saber que faço a Vossa vontade santa».
É maior recompensa. A única recompensa.
Para Moltmann, um servo nem de um obrigado deve estar à espera. Também é verdade que, muitas vezes, nunca vem. Não faz mal. O bem compensa por si mesmo. E Deus vê tudo.
Tudo.
Paul Léautaud sentenciou: «Ser inteligente é ser desconfiado, mesmo em relação a si próprio».
Não diria tanto.
Ser inteligente não será necessariamente ser desconfiado. Mas é, sem dúvida, ser prudente.
Ninguém pense que se conhece totalmente a si mesmo. Essa é uma aquisição que só se obtém no fim. O oráculo de Delfos faz-nos esse apelo: «Conhece-te a ti mesmo».
Nietzsche advertiu que «o homem é o ser mais distante de si mesmo».
No fundo, conhecer-se é ir-se conhecendo. O que significa que, ao conhecermo-nos mais, é porque, anteriormente, não nos conhecíamos bem!
Charles Péguy alerta-nos de um modo (só aparentemente) provocador: «Homero é novo, esta manhã, e talvez nada seja tão velho como o jornal de hoje».
É, de facto, uma sensação especial e, às vezes, um pouco estranha.
O que nos parece antigo tem uma vitalidade que espanta. E o que parece mais actual tem um desgaste que impressiona.
Eu, que sempre apreciei os jornais, sou tocado por este desencanto. Tudo parece comatoso, quase tumular, nas páginas da imprensa. E preciso dos clássicos para reabastecer o espírito depauperado!
É muito estranho o nosso país.
O salário mínimo, dizem, não poderá subir. Mas há salários máximos que não param de crescer.
Eis um enigma para a economia. Eis um desvario para o senso de justiça!
Hoje, 31 de Julho, é dia de Sto. Inácio de Loiola (fundador da Companhia de Jesus) e S. Germano.
Um santo e abençoado dia para todos!
A maior obra não é de carácter material, mas espiritual. Não é fazer um prédio, mas unir pessoas. Saint-Exupéry verbalizou belamente esta situação: «A grandeza de uma profissão é talvez, antes de tudo, unir os homens; não há senão um verdadeiro luxo e esse é o das relações humanas»!
Nuno Teotónio Pereira foi sempre um artista militante. Aos 90 anos mantém a lucidez e conserva a coragem.
Confessa: «A Igreja faz muitas coisas para proteger os pobres. Mas devia ser mais firme na defesa de certos valores, sobretudo no campo social»!
Foi um jovem, diz o Evangelho deste Domingo, que tinha o material para alimentar a multidão.
Era pouco. Mas foi esse pouco que alimentou a totalidade.
Era pouco e pobre. A cevada era para os pobres. O trigo era para os mais abastados.
Os pobres são os mais ricos. É a eles que até Deus recorre!
Paul Léautaud pergunta de forma inquietante: «Porquê dar conhecimento das nossas opiniões? Amanhã, podemos ter outras».
Nesse caso, teremos de dar conhecimento das nossas (outras) opiniões.
O problema não é mudar de opinião. O problema é não assumir que se muda.
O problema também pode ser o frenesim de estar sempre no palco.
Uma coisa, porém, é certa. Se tudo é para dar, as opiniões também não devem ser para reter.
As opiniões também devem ser para dar. Com toda a simplicidade e verdade!
La Rochefoucauld foi talvez demasiado cáustico ao escrever: «Um parvo não tem categoria suficiente para ser bom». Mas toca num ponto sensível.
De facto, há quem filie a bondade na contemporização passiva com o mal. Só que isso não é bondade; é conivência.
Às vezes, ou não se vê o mal ou finge-se que não se quer olhá-lo.
A bondade, desde logo, não é reactiva. A bondade toma a iniciativa. A bondade é o empreendimento na prática do bem.
Uma bondade que fosse aceitação do mal desmentir-se-ia a si própria e esvaziar-se-ia a si mesma.
A bondade inclui, certamente, a tolerância para com aquele que erra e cai. Mas exclui, necessariamente, a indiferença para com a maldade!
«Para o historiador, os factos são apenas sinais indicadores de ideias».
Paul Masson tem razão. As ideias devem assentar sempre em factos. E os factos devem assentar sempre em ideias!
Uma das (muitas) lições que a vida, mais que os livros, me tem dado: quem é mais exigente consigo é mais indulgente com os outros.
A mediocridade exige tudo dos outros e nada perdoa aos outros.
Confúcio, há milhares de anos, já se apercebera desta propensão: «O homem de bem exige tudo de si próprio; o homem medíocre espera tudo dos outros»!
Hoje, 30 de Julho, é dia de S. Pedro Crisólogo, Sta. Julita, S. Justino de Jacobis, S. Cláudio Correa e S. Frederico Rubio.
Um santo e abençoado dia para todos!
Eu Te bendigo, Senhor
com a fragilidade do meu ser
e a debilidade das minhas palavras,
por tantas maravilhas e por tanto amor que semeias no coração de cada homem.
Eu Te bendigo, Senhor
pela simplicidade da Tua presença
e pelo despojamento do Teu estar.
Obrigado é pouco para agradecer,
mas é tudo o que temos para Te bendizer.
Obrigado, pois,
por seres Pão e Paz,
na Missa que celebramos
e na Missão a que nos entregamos.
Obrigado por seres Pão e Paz
num mundo dilacerado pela fome e martirizado pela guerra.
Fome de Ti sempre!
Fome de Pão nunca!
Que o pão nunca falte nas mesas
e que a paz nunca se extinga nos corações.
Que jamais esqueçamos, por isso,
que a Eucaristia nunca termina.
Que possamos compreender que o "ide em paz"
não é despedida, mas envio.
Queremos trazer-Te connosco,
queremos ser sacrários vivos onde todos Te possam encontrar e reconhecer.
Obrigado, Senhor,
por seres Pão e Paz.
Obrigado por nunca faltares à Tua promessa.
Prometeste ficar connosco e connosco estás.
Sacia a nossa sede de verdade e de justiça.
Pedimos-Te pelos mais pequenos, pelos mais pobres e pelos mais desfavorecidos,
pelos mais sacrificados e por aqueles a quem exigem sempre mais sacrifícios.
Ensina-nos, Senhor,
a sermos mais humanos e fraternos.
Que com Maria, Tua e nossa Mãe,
aprendamos a ser Eucaristia para o mundo.
Obrigado, Senhor, vires sempre connosco.
Leva-nos sempre conTigo,
Conduz-nos sempre para Ti,
para Ti que és a Paz,
JESUS!
Hoje, 29 de Julho, XVII Domingo do Tempo Comum, é dia de Sta. Marta, S. Lázaro e Sto. Olavo. Refira-se que Sta. Marta é invocada como padroeira dos estalajadeiros, hoteleiros, lavadeiras e cozinheiras.
Um santo e abençoado dia para todos!
«Se estás a trabalhar em algo excitante e do qual tu gostas mesmo muito, não precisas de ser pressionado para ter mais resultados. A tua própria visão puxa-te para a frente».
Steve Jobs tem razão. O êxito não depende de aplausos. Depende, antes de mais e acima de tudo, da capacidade de acreditar!
O português é um paradoxo apaixonante com oito séculos de história.
Somos muito retraídos na decisão. Mas somos bastante determinados na aventura e soltos na exposição: da vida dos outros e da nossa vida.
Miguel Torga apercebeu-se: «É espantosa a tendência do português para a promiscuidade! Chega a umas termas, senta-se, volta-se para o vizinho da direita e, sem dizer água-vai, conta-lhe a vida»!
Agostinho da Silva põe-nos de sobreaviso. Será que somos mais inteligentes do que aqueles que nos precederam?
«Não julgues que pensas melhor que todos os que te precederam: o mais provável é que penses pior; principalmente quando tudo te parece mais certo»!
Os caminhos planos são os mais fáceis de percorrer. Mas não são, necessariamente, os que trazem mais estímulos para aprender.
Gostamos do fácil, mas a vida ensina que aprendemos mais com o difícil.
Albert Einstein já o notara: «Dificuldades e obstáculos são fontes valiosas de saúde e força para qualquer sociedade»!
E para cada um dos seus membros!
Daniel Faria não era só muito novo para morrer. Era também demasiado novo para deixar a obra que deixou quando morreu.
Foi precoce em tudo: na vida, na morte, na obra. Esta acaba de ser reeditada pela «Assírio e Alvim». Vale a pena ler. E meditar, longamente, depois de ler!
Hoje, 28 de Julho, é dia de S. Celso, S. Nazário, S. Vítor I, S. Pedro Poveda Castroverde e Sta. Maria Teresa Kolawska.
Refira-se que S. Vítor I foi o responsável por colocar a Páscoa no Domingo após a Lua Cheia da Primavera, contra a opinião das chamadas «Igrejas catorzimais», que defendiam o dia estrito correspondente ao 14 de Nisan. Também terá sido o primeiro escritor escritão a usar o Latim. Antes, o Grego era a língua oficial da Igreja.
Um santo e abençoado dia para todos!
Antoine de Saint-Exupéry percebeu muito bem este mútuo entranhamento: «Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós».
Somos peregrinos de uma pátria que se chama eternidade.
A saudade e a fé são os únicos bálsamos para tanta dor!
Luminoso foi Joachim Bellay quando escreveu: «Só vive quem vive o dia de hoje».
Recordar faz bem e sonhar faz muito bem. Mas viver é que permite acumular recordações e alimentar sonhos.
E viver só se consegue num dia: hoje.
Cada hoje é uma oportunidade. Não a desperdice. Acolha-a como um dom. E aproveite-a como uma possibilidade!
Somos alimentados no estômago, mas somos revelados pela coluna vertebral.
É o temor que, muitas vezes, nos faz hesitar e dobrar.
Daí a pertinência do conselho de Tagore: «Onde o espírito não teme, a fronte não se curva»!
Tudo o que é para viver é (ou devia ser) para pensar.
Só que, muitas vezes, é mais para penar do que para pensar.
Nos primeiros cinco meses deste ano, o ano maior da crise (como nos foi dito), as pessoas foram menos aos centros de saúde.
Em relação ao pretérito ano, houve uma diminuição de meio milhão de consultas.
Já os homicídios estão a aumentar. Nos primeiros quatro meses deste ano, a cifra cresceu 36%.
Pensar é sobretudo ligar. Não podemos desligar estes elementos.
Falta saúde no corpo. Falta saúde na alma. Há quem recorra à solução letal, à solução final.
Mas isso será solução?
«Citius. Altius. Fortius».
Eis o lema dos Jogos Olímpicos que hoje se iniciam. Eis também um possível lema para a nossa vida. Mais rápido, mais alto e mais forte é bom estímulo para viver, superando-nos, transcendendo-nos, ajudando-nos!
Hoje, 27 de Julho, é dia de S. Pantaleão. Sta. Maria Madalena Martinengo e S. Tito Bradsma.
Um santo e abençoado dia para todos!
Já Confúcio se apercebeu de que o conhecimento também inclui o não conhecimento. «O mestre disse a um dos seus alunos: "Yu, queres saber em que consiste o conhecimento? Consiste em ter consciência tanto de conhecer uma coisa quanto de não a conhecer. Este é o conhecimento"».
Quem não conhece o seu não conhecimento terá condições de conhecer alguém ou alguma coisa?
Jean Guéhenno pôs o dedo numa grande ferida: «Defendemos mais ferozmente a nossa sorte do que o nosso direito»!
A maior parte das nossas decisões e dos nossos passos escapam a qualquer lógica e parecem estar para lá do menor senso de justiça.
Mas quem espera na sorte arrisca-se ao azar. O fundamental é apostar nas convicções!
Dante recomenda: «Pensa que o dia passado não volta mais».
O dia pode não voltar. Mas a sua marca nunca passa.
Acompanha-nos para sempre.
Somos filhos do nosso passado, irmãos do nosso presente e pais do nosso futuro!
Oscar Wilde, que faleceu em 1900, achava que o homem tinha atingido o limite do desenvolvimento: «Não penso que o homem tenha grandes capacidades de desenvolvimento. Foi tão longe quanto podia, o que não é tão longe como isso».
É claro que o século XX foi prodigioso em desenvolvimento. Mas será que esse desenvolvimento nos ajudou a crescer como pessoas?
Nem todo o desenvolvimento é factor de crescimento. Por vezes e como alerta Luís Racionero, também pode ser factor de decadência.
É importante superar o atraso. Mas também é fundamental não deixar de questionar o desenvolvimento.
Só o que nos humaniza nos desenvolve e faz crescer!
Muitas vezes, o melhor discurso não é o que vem dos lábios. A linguagem mais convincente pode não ser a linguagem verbal.
O que vem pelos lábios é importante. O que nasce do entendimento é fundamental. Mas o decisivo é o que brota da alma e emerge da vida.
É por isso que Groucho Marx tinha alguma razão quando assinalou: «Antes que eu discurse, tenho algo importante para dizer»!
Há coisas que não cabem em palavras. Nem têm lugar em tratados.
Há coisas que só se dizem quando não se dizem.
Há coisas que só se percebem quando se pressentem. Há coisas que só se entendem quando se vivem!
O gelo está a derreter nos mares.
Estará a transferir-se para alguns corações?
Hoje, 26 de Julho, é dia de S. Joaquim e Sta. Ana e Sta. Bartolomea Capitânea.
Dado que S. Joaquim e Sta. Ana, Pais de Nossa Senhora, foram os Avós de Jesus, convencionou-se ser hoje o Dia dos Avós.
Um santo e abençoado dia para todos!
Sérgio Aires é português está à frente da Rede Europeia Antipobreza.
Motivado para dar respostas, não deixa, porém, de nos deixar uma forte interpelação. «Está na moda dar de comer a quem tem fome. Não está na moda perguntar porque é que as pessoas têm fome». Uma coisa não dispensa a outra. O pão é importante, mas a palavra não o é menos.
Se a caridade é necessária, a justiça é urgente.
Mas já D. Hélder Câmara notava que quando dava esmola a um pobre, chamavam-lhe «santo».
Já quando perguntava pelas causas da pobreza, chamavam-lhe «comunista»!
Jean Rotrou reconheceu que «a justiça é, muitas vezes, a máscara da irritação». Também me parece, confesso.
É certo que há situações em que é difícil manter a calma. Mas só na calma se consegue distinguir a justiça da irritação.
A justiça é assertiva. Mas se for irritada pode tornar-se...irritante!
A persistência é, quase sempre, o selo da qualidade.
Baudelaire bem o notou: «Quanto mais se quer, melhor se quer»!
«A natureza e a arte parecem afastar-se, mas antes que o pensemos já elas se encontraram».
Uma preciosa anotação de Goethe.
É paradoxal a nossa situação. Sabemos que somos humanos, mas só nos apercebemos da nossa humanidade quando a sentimos frágil, oscilante.
Por vezes, passa-nos pelo insconsciente um qualquer assomo de sobre-humanidade. Mas quem se julga sobre-humano facilmente se torna des-humano.
Tony Blair reconheceu que ser humano é ser frágil. E Anton Tchekov, comentando um célebre adágio, sublinhava: «Errar é humano: mais humano ainda é atribuir o erro aos outros».
Fragilidade atrai fragilidade!
Hoje, 25 de Julho (faltam apenas cinco meses para o Natal), é dia de S. Tiago e S. Cristóvão.
O nome Tiago resulta de uma evolução do hebraico Jacob, que tem como equivalentes Jacques, James, Jácome, Jaume e Jaime. No ocidente da Península Ibérica, começou a ser conhecido como Iago. Daí Sant'Iago, Santiago e S. Tiago. Foi o primeiro dos Doze a receber o martírio.
Cristóvão (ou Cristófero) significa «aquele que transporta Cristo». Este santo é padroeiro dos archeiros, dos que fazem fretes, dos carregadores dos mercados, dos pisoeiros, dos negociantes de frutas, dos automobilistas; é invocado contra a morte súbita, as tempestades, o granizo, as dores de dentes e a impenitência final.
Um santo e abençoado dia para todos!
Errar é sinal de humanidade. Admitir o erro é certificado de inteligência.
Alexander Pope reconheceu: «Um homem nunca deve sentir vergonha de admitir que errou, o que é apenas dizer, noutros termos, que hoje ele é mais inteligente do que era ontem»!
James Joyce bem reparou: «Tudo é caro de mais quando não é necessário».
O problema é que nem sempre sabemos discernir o que é mais necessário.
E nem sempre conseguimos resistir ao que é supérfluo!
Um mestre não é que o que substitui o aluno. É o que o ajuda a ser, a caminhar.
André Gide bem se apercebeu: «Um bom mestre tem sempre esta preocupação: ensinar o aluno a desenvencilhar-se sozinho».
Ensinar não é só ajudar a conhecer. É sobretudo ajudar a ser!
Na Espanha está a passar um «filme» que já vimos em Portugal.
O seu Governo vai repetindo que não quer pedir ajuda. Mas toda a gente sabe que vai ter de pedir a ajuda.
O poder tem uma relação atribulada com a realidade. Para quê negá-la quando ela se mostra tão claramente?
Legislar nem sempre é resolver.
Legislar também pode equivaler a complicar.
O legislador pode depreender que já fez tudo.
Uma legislação pode ser um bloqueio.
Os países mais desenvolvidos primam por uma grande sobriedade neste campo. A Inglaterra, por exemplo, nem uma Constituição escrita possui.
Não digo que se copie o modelo. Mas gostaria que se meditasse no exemplo.
Antes de legislar, olhem para a realidade!
Cesare Beccaria foi muito subtil: «Parece-me absurdo que as leis, que são a expressão da vontade pública, que abominam e punem o homicídio, o cometam elas mesmas e que, para dissuadir o cidadão do assassínio, ordenem um assassínio público».
Muitas vezes, são as leis que desencadeiam dores que levam à morte.
Algumas leis podem não matar. Mas vão matando...
Neste tempo de calor, não é só a Síria que está «a ferro e fogo». É também o Iraque que volta a estar «em brasa».
Só ontem correram ataques em 14 cidades que provocaram mais de cem mortos.
Será um acto isolado? Ou será que a violência está descontrolada?
Não sabemos quem são os autores. Mas sabemos que são as vítimas. Nós!
É a humanidade que está em risco!
Hoje, 24 de Julho, é dia de Sta. Cristina Admirável, Sta. Luísa de Sabóia, S. João Soreth, S. Sarbélio Makhluf, Sta. Maria Mercês, Sta. Teresa, Sta. Maria Pilar e Sta. Maria Ângeles.
Um santo e abençoado dia para todos!
É importante que não nos resignemos. Mas é fundamental que procuremos perceber o que acontece.
A guerra degrada-nos. E na paz (ou, melhor, na ausência da guerra) cavamos os alicerces da degradação.
Oscar Wilde, com a subtileza do seu génio, foi muito claro.
«O luxo dos ricos vem do trabalho dos pobres». Na guerra, «os fortes escravizam os fracos». Na paz, «os ricos escravizam os pobres».
Nunca conheceremos verdadeiramente as pessoas, nem sequer os que consideramos amigos. Para Wilde, «é muito perigoso conhecermos os nossos amigos».
É por isso que o autêntico amor «sofre e é silencioso». É eloquente por si mesmo, mas raramente se mostra loquaz. Teria muito para dizer, para denunciar. Por isso, por amor, opta, muitas vezes, por calar.
«A Beleza e a Sabedoria, prossegue Wilde, amam o venerador solitário»!
1. O pecado original da democracia (dificilmente corrigido ao longo dos tempos) é a propensão para estacionar na «cracia» (poder) e para quase ignorar o «demos» (povo).
Este é convocado para atribuir o exercício do poder. Depois, resigna-se a suportar o poder, a sofrer o poder.
2. Sucede que tal percepção envenena tudo. Muitas vezes, ficamos só pelas intenções, pelos enunciados.
O mais elementar conceito diz que a democracia é o poder do povo. Olhando, porém, para a realidade, o que avulta é que o povo acaba por ser a maior vítima da democracia.
José Saramago asseverou: «Estamos numa situação em que uma democracia que, segundo a definição antiga, é o governo do povo, para o povo e pelo povo, nessa democracia precisamente está ausente o povo».
3. A alternativa não é, contudo, extinguir a democracia. A alternativa só pode ser refundar a democracia, recentrando-a no povo!
Se a fonte do poder é o povo, o exercício do poder devia ser um serviço, uma missão.
4. Muito se fala no êxito dos países nórdicos. Apesar da crise, mantêm-se na dianteira das escalas do desenvolvimento.
Frequentemente surgem apelos para que se importem os seus modelos, os seus ideais, os seus programas.
5. Tudo isto é conhecido. E muito disto é defendido.
Grande parte dos nossos políticos confessa inspirar-se nas ideologias aplicadas naqueles países.
O que se passa, então, para que os resultados sejam (radicalmente) diferentes? Só encontro uma resposta: o carácter. E o carácter (dos políticos e dos cidadãos) não se pode importar por decreto.
6. Naqueles países, reclamam-se direitos, mas quase ninguém foge aos deveres. A desigualdade entre as pessoas é quase nula. Os ricos vivem bem, mas os pobres também não parecem muito mal.
Há muita ordem sem haver demasiada coerção. O Estado é permanentemente reorganizado. A cultura é priorizada.
A corrupção é uma ausência. Os privilégios praticamente não existem. Os deputados e os ministros recorrem, frequentemente, aos transportes públicos.
7. Há quem diga que os cidadãos destes povos são de uma frieza glacial e pouco emotivos.
É claro que o paraíso não mora neste mundo. A perfeição não é uma oferta da natureza; é uma constante aquisição da vontade. E ter defeitos é sinal de que o caminho ainda não está totalmente percorrido.
O certo, porém, é que, mesmo com reduzida emoção e alguma frieza, os mecanismos de solidariedade funcionam melhor a norte do que a sul. E o Estado Social, que nós sentimos tremer, não dá sinais de vacilar.
8. Curiosamente, a ausência de alternância política, que nós registamos, também se verifica por lá. Com uma diferença: é que lá, mesmo quando mudam os governos, os direitos não ficam em causa; já entre nós, por cada alternância que surge, as conquistas parecem ficar em risco.
Aqui, à direita e à esquerda, não parece haver alternativa à austeridade. Nos países nórdicos, à esquerda e à direita, não parece haver alternativa ao desenvolvimento!
9. Muitos pensarão que falar disto é pura demagogia. No fundo, o que não se quer é mudar. Nem mudar a mentalidade, nem a prática governativa, nem a conduta cívica.
É por isso que nos limitamos a sonhar com o sucesso dos outros. E a lamentar, persistentemente, o nosso endémico atraso!
Há coisas que estão mais do lado da procura do que da posse. A sabedoria, por exemplo.
Quanto mais se procura, mais se encontra. Quanto mais se encontra, mais se continua a procurar. Georg Lichtenberg foi, ao mesmo tempo, pertinente e cáustico quando escreveu: «O sábio procura a sabedoria, o tolo encontrou-a».
Não diria que quem encontra a sabedoria é tolo. Mas diria que sábio é todo aquele que não repousa em qualquer encontro.
Agostinho de Tagaste recomendou no já distante século V: «Procuremos como quem há-de encontrar. E encontremos como quem há-de voltar a procurar. Pois é quando parece que tudo acaba que tudo verdadeiramente começa»!
Talvez não concorde a cem por cento com Thomas Eliot: «O homem que age não sofre».
Mas é verdade que, mesmo sofrendo, não se resigna ao sofrimento.
E isso faz muita diferença, toda a diferença!
Nos tempos de Aristófanes era assim: «Para as crianças, educação é o mestre-escola; para os jovens é o poeta».
Hoje, porém, já não é bem assim. Os ídolos ocuparam o lugar dos ícones.
O resultado da mudança não é animador. Mas creio que ainda não reparamos devidamente no logro em que nos meteram!
A comissão tem uma missão prioritária: acabar com a cunha.
Trata-se de uma missão hercúlea e de um desígnio constantemente torpedeado.
Os princípios são claros, mas há hábitos que estão instalados.
A recém-criada Comissão de Recrutamento e Selecção da Administração Pública tem um trabalho insano pela frente.
O seu presidente assegura total independência em relação ao poder.
Os currículos para gestores terão rasurados o nome, o sexo, a etnia e toda e qualquer referência partidária.
É um bom princípio. Esperamos que haja condições para seguir em frente com estes propósitos.
Não vai ser fácil. Que não se torne impossível!