1. A idade não é, necessariamente, sintoma de decadência. Pode ser, deve ser, factor de crescimento, de maturidade.
Na lei das compensações, há, sem dúvida, algo que se perde com os anos. Mas há também muito que se ganha com o tempo.
Já Platão exemplificava: «Quando a visão física declina, a visão espiritual melhora». É por isso que, como notava Emily Dickinson, «não nos tornamos velhos com os anos, mas mais novos com os dias»!
2. Afinal, o que é ser velho e o que é ser novo? Não é verdade que, algumas vezes, nos sentimos mais jovens quando nos tornamos mais velhos? Tudo é tão relativo na vida.
James Thurber assinalou: «Tenho sessenta e cinco anos. Creio que isso me coloca na categoria dos idosos. Se cada ano tivesse quinze meses, teria apenas quarenta e oito. É este o nosso problema: quantificamos tudo».
3. É um facto que há jovens com mentalidade envelhecida e há idosos com mentalidade rejuvenescida.
Há jovens que se arrastam como velhos e há velhos que se movimentam como novos.
Há ideias renovadoras de gente com muita idade e há ideias conservadoras de gente com pouca idade.
4. Um dos grandes paradoxos da vida é a novidade estar associada à juventude. Mas, se repararmos, a novidade é o que vem depois. Não é o que está antes.
Ora, a juventude é o que está antes (para quem já a ultrapassou, evidentemente). Daí o apelo de Robert Browning: «Envelhece comigo! O melhor ainda está para vir, a última parte da vida, para a qual foi feita a primeira».
5. Com efeito, não é a juventude que vem depois da velhice. A velhice é que vem depois da juventude!
Jonathan Swift teve a subtileza de reparar: «Ninguém é tão proficiente na condução da sua vida que não receba nova informação com a idade e a experiência»!
6. É certo que a velhice está associada à morte. O povo, na sua sageza, sentencia: «Quem de novo não vai de velho não escapa». E, no mesmo registo, Juan Montalvo assinala: «A velhice é uma ilha rodeada de morte».
Mas, se pensarmos bem, não é a velhice que está rodeada de morte: é a vida.
7. Já Zubiri sustentava que viver «é existir estruturalmente frente à morte». Por isso, Montaigne afirmava que «filosofar é aprender a morrer», o que, no fundo, é uma variante da arte de aprender a viver.
É a vida que desemboca na morte, não é a velhice. E não é sonho de todos morrerem velhos?
8. Não se pense, porém, que é fácil envelhecer. O filósofo Henri Frédéric Amiel tinha consciência das dificuldades: «Saber como envelhecer é uma obra-prima de sabedoria e um dos capítulos mais difíceis da grande arte de viver». É uma arte que está ao alcance de todos. Mas nem todos a executam com igual desenvoltura nem com o mesmo primor!
9. Compreende-se o que nos disse Hasidim: «Para os que não a percebem, a velhice é o inverno; para os que a percebem, é a estação da colheita». Não é tão bom colher o que se semeou?
Que bom é poder ser ancião. Que belo poder avaliar o que se acumulou. Marie von Ebner-Eschenbach sinalizou: «Na juventude, aprendemos; na velhice, compreendemos»!
10. É indiscutível que existe um irresistível encanto na velhice. O mestre tibetano Sakya Pandita recorre a um termo de comparação deveras sugestivo: «Uma vela, mesmo voltada para o chão, tem a chama virada para cima». Um ser humano está sempre a crescer, mesmo quando se vê a cair!
11. A destreza pode estar na juventude. Mas a sabedoria repousa na velhice. Francis Bacon verteu, há séculos, uma máxima que poucos questionarão: «A madeira velha é a melhor para arder; o vinho velho é o melhor para beber; os velhos amigos são os melhores para se confiar; e os velhos autores são os melhores para ler»!
12. É claro que a nossa existência será sempre marcada por uma contradição insanável. Jean de La Bruyère verbalizou-a assim: «Esperamos chegar a velhos, mas temos medo da velhice. Temos vontade de viver e medo de morrer». Saber optimizar aquela vontade e amortecer este medo é o segredo de uma vida feliz.
Desde o primeiro momento até ao último instante, haverá sempre altos e baixos. O fundamental, porém, é que a determinação prevaleça. E que a esperança nunca esmoreça!