«Interrogar é ensinar».
Xenofonte também podia verter o inverso.
Ninguém contestará, com efeito, que, ensinar é, antes de mais, interrogar!
«Interrogar é ensinar».
Xenofonte também podia verter o inverso.
Ninguém contestará, com efeito, que, ensinar é, antes de mais, interrogar!
Há tempos em que falar é um imperativo. Há (outros) tempos, talvez os nossos, em que calar é uma necessidade, uma terapia, um bom indicador de sabedoria.
Há situações em que certas palavras só complicam.
A certas pessoas devíamos perguntar: «Porque não falas?». A outras, porém, deveríamos dirigir a famosa interpelação de Juan Carlos a Hugo Chávez: «Porque não te calas?»
Uma onda de silêncio pode ser o melhor antídoto a algumas tempestades de palavras!
Platão disse, há séculos, que os grandes mestres são os filósofos e os poetas.
Também poderia acrescentar os artistas e, particularmente, os músicos.
Guizot apercebeu-se da sua importância: «A música oferece à alma uma verdadeira cultura íntima e deve fazer parte da educação do povo».
Às vezes, uma pequena dificuldade tem um efeito mais devastador que um grande problema.
Às vezes, conseguimos o mais difícil e soçobramos no (aparentemente) mais fácil. É que para a grande tormenta já estamos preparados. Já para o pequeno obstáculo nem sempre estamos precavidos. Camilo Castelo Branco percebeu isto muito bem: «Há horas na vida em que a mais leve contrariedade toma as proporções de uma catástrofe»!
O cancro costuma vencer. Mas também pode ser vencido.
Em Portugal, já há 250 mil pessoas que sobreviveram ao cancro.
Nos últimos cinco anos, a taxa de sobrevivência é estima entre os 55% e os 60%.
Boas notícias!
Há quem sacrifique tudo à carreira. Até a honra. Até a dignidade. Até a justiça.
Há quem insulte. Há quem calunie. Há quem adule. Há quem bajule.
Há quem fale se for conveniente. Há quem cale se parecer oportuno. Para si. Só para si.
Ruben Darío vê estas coisas de outra forma: «A justiça incita-me a falar, jamais adulei ninguém».
Eu seria tentado a dizer que, nestes tempos de incontinência verbal, só a justiça nos deveria fazer falar.
Infelizmente, é (quase) a única coisa que nos leva - timoratamente! - a calar.
Há cerca de um ano, o mundo ficou excitado com o advento da democracia no Egipto.
Por esta altura, o mesmo mundo está preocupado com o exercício da mesma democracia no mesmo Egipto.
Há uma forte possibilidade de o candidato da Irmandade Muçulmana vencer as eleições presidenciais.
Há quem veja nisso mais um regresso ao passado do que um ingresso no futuro.
Como se compreenderá, também a democracia é um risco.
Sucede que, hoje em dia, tudo é global, a começar pelo que é local.
Há um país que vota. Mas o todo o mundo analisa.
E os critérios de quem vota podem ser muito diferentes de quem analisa!
Nada como ouvir (ou ler) um homem grande para melhor entender um grande homem.
Zubiri dizia, humildemente, que «o menos mau de si mesmo» a Ortega o devia.
Olegario González de Cardedal notava que o teólogo tem de aliar a «complexidade da inteligência» à «simplicidade do coração».
Trata-se de um apelo, mas que também pode ser visto como um reconhecimento.
Andrés Torres Queiruga incorpora, belamente, aquela síntese.
Aliás, é difícil encontrar alguém como ele onde as duas dimensões se casem tão harmoniosamente.
Torres Queiruga é alguém que se impõe por uma inteligência fulgurante e que se destaca por uma cordialidade absolutamente tocante.
Para ele, o Cristianismo não é uma trincheira nem uma cave, onde se refugiem os últimos (supostos) fiéis.
Para ele, o Cristianismo é uma janela por onde todos os ventos passam e uma fronteira onde todos os olhares se cruzam.
Torres Queiruga não se limita a reproduzir as respostas de sempre. A sua prioridade é escutar as perguntas de hoje.
Daí a sua preocupação em repensar, palavra que aparece no título de algumas das suas obras.
É preciso repensar (voltar a pensar) a fé, a criação, a redenção, a ressurreição, o mal.
Não quer dizer que as respostas de outrora não tenham validade. O problema é que tais respostas podem não corresponder às perguntas de hoje.
Torres Queiruga é, antes de mais, um homem atento, afável.
As suas obras deixam transparecer, acima de tudo, as inquietações do presente.
A sua pretensão não é resolver todos os enigmas, mas dar eco a todas as preocupações.
Espanta, por isso, que um homem que tanto se tem empenhado em compreender seja, tantas vezes, incompreendido.
Mas esse é um dos mistérios não decifrados do nosso tempo. De todos os tempos?
A teologia e a cultura têm uma dívida de gratidão muito grande para com este homem de vistas largas e horizontes vastos.
Com ele, aprendemos não apenas o valor da resposta, mas também a importância da pergunta e a centralidade da procura.
Andrés Torres Queiruga completa, neste dia, 72 anos de vida.
Os parabéns são de nós para ele. Mas as prendas são dele para nós: as suas obras, o seu testemunho, a sua fé, a sua delicadeza, o seu brilho intenso, mas nunca ofuscante.
Longa vida!
Hoje, 28 de Maio, é dia de S. Justo e S. Germano de Paris.
Um santo e abençoado dia para todos!