E, de repente, a dúvida quanto a este Primeiro de Maio: «Dia do Trabalhador» ou «Dia do Consumidor»?
A avaliar pelos destaques da informação televisiva, não há qualquer hesitação.
Zygmut Baumann já tinha dito que nos transformámos, há muito, em «turistas consumidores».
E, pelo que dizem, houve quem fizesse dezenas de quilómetros para ter acesso às promoções de uma cadeia de hipermercados.
A pergunta fica: se, com estes descontos, existe lucro (ninguém anda no comércio para perder), porquê os preços mais altos no resto do ano?
As promoções são bem-vindas, mas, no fundo, as pessoas tinham de dispor de algum dinheiro. É que os descontos só se verificavam a partir de um certo patamar.
Depois, confesso que é um pouco perturbante ver estas correrias, este afã, até alguma agressividade.
Onde está a serenidade? Que balanço de um dia que, estando para ser de descanso e de celebração, se tornou um inopinado dia de compras?
Estranho este país que vai às compras não por vontade própria mas por vontade de uma empresa!
A esta hora, não faltará quem ache que pagou muito para pagar pouco.
A partir de hoje, a questão não é pagar pouco neste dia. A questão é pagar tanto nos outros dias!
De Espanha vem, talvez, a melhor metáfora acerca do que se passou, hoje, em Portugal: «festa do trabalho» ou «borracheira do capital»? É um texto de Xabier Pikaza com bastos motivos para uma noite de reflexão. Se o sono permitir...