Bento XVI foi eleito Papa há sete anos.
Ele é o timoneiro visível de uma barca que, como diziam os antigos, vacila mas não cai.
Porquê? Porque, repetiam os mesmos escritores de antanho, o seu piloto é Cristo e o seu mastro é a Cruz.
Como escreveu Peter Seewald, Sua Santidade «está a arranjar um novo som como Papa. Trabalha numa melodia para o novo século. O novo tom que ele encontrou lembra, apesar do carácter decidido da sua doutrina na Fé, a mansidão do Evangelho. Não quer o pormenor, quer o todo».
1. Há estudos que revelam o que ainda poucos sabem. E há estudos que mostram o que toda a gente já conhece.
A sondagem realizada pela Universidade Católica documenta o que temos sido capazes de ver mas incapazes de inverter. Ou seja, o número de católicos, apesar de continuar elevado, está a cair. Ainda são muitos (79,5%), mas são cada vez menos (há doze anos, eram 86,9%).
Acresce que — aspecto importante — os portugueses não estão a ficar descrentes (estes não chegam a 10%). Estão, sim, a optar por outras confissões cristãs, por outras religiões ou, então, por cultivar a fé longe de qualquer enquadramento institucional.
Tudo somado, temos vasta matéria para reflexão e muitas pistas para a missão.
Desde logo, importa retomar a interpelação deixada por Joseph Ratzinger nos anos 70: estará a ser a Igreja uma via ou um obstáculo para a busca de Deus e o anúncio de Cristo?
2. Para se aferir a pujança de uma igreja, a multidão é pouco e o culto não é tudo.
Estes indicadores, embora relevantes, são insuficientes para conferir a totalidade do que está em causa.
Eles tipificam o que se refere ao ocasional, isto é, ao que se passa durante certos momentos do ano, do mês ou da semana. Mas não permitem colher o que ocorre de forma constante.
Os estudos avaliam o mensurável, designadamente o envolvimento com a instituição Igreja. Mas a fé tem muito que não é mensurável: a relação com Deus e com as pessoas a partir de Deus.
3. Estes trabalhos quantificam, habitualmente, o que se refere ao «vir». O que se apresenta são números e percentagens sobre aqueles que «vêm» à Igreja.
Sucede que, sendo a Igreja por natureza missionária (como recordou Paulo VI), o primeiro movimento é «ir». E este «ir» há-de visar não apenas «atrair», mas também (e acima de tudo) «repartir».
Num tempo em que muitos chamam seu ao que é comum, é determinante que cada um se disponha a chamar comum ao que é seu.
Trata-se daquele «comunalismo» desenhado nos Actos dos Apóstolos e que tanto impressionava os contemporâneos dos cristãos da primeira hora (cf. Act 4, 32).
4. Nos tempos que correm, a fenomenologia da descrença mantém-se residual.
Ora, isto contradiz, uma vez mais, a ideia, difundida por alguns, do «eclipse de Deus» na sociedade. O encanto por Deus mantém-se. O desencanto pela Igreja é que se acentua. Como inverter esta última tendência?
Propostas haverá muitas, mas todos os caminhos terão de passar por um duplo eixo: espiritualidade e solidariedade.
As pessoas valorizam, cada vez mais, a vivência de Deus no seu interior e anseiam por um testemunho de Deus no exterior. Trata-se, em suma, de uma «sócio-espiritualidade».
A Igreja cai sempre que se aquieta e cresce sempre que se inquieta. A Igreja tem de se «des-centrar» para se «re-centrar». Tem de se «des-centrar» de si para se «re-centrar» naquele que era o duplo centro para Jesus: Deus e o Homem.
Tal como para Jesus, também na Igreja Deus tem de ser a prioridade e o Homem o caminho.
Já dizia o apóstolo João: «Quem ama a Deus, ame também a seu irmão»(1Jo 4, 21)!
Páscoa não é só um dia, Páscoa não é só um tempo.
Páscoa é todos os dias, Páscoa é todo o tempo.
Páscoa não foi. Páscoa é. A Páscoa não passa. A Páscoa é passagem, mas nunca é passado.
A Páscoa não foi apenas há oito dias. A Páscoa também é hoje.
Também hoje, Senhor, vens ter connosco. Também hoje nos dás a Tua paz, o Teu perdão, o Teu amor.
O Teu mandamento não é pesado, o Teu jugo é suave, a Tua carga é leve.
Quando Te amamos, amamos também as pessoas. Quando amamos as pessoas, amamos-Te também a Ti.
Também hoje, queremos ter um só coração e uma só alma.
Também hoje, queremos pôr tudo em comum.
Também hoje, queremos que ninguém passe necessidade, que ninguém tenha fome.
Também hoje, queremos conjugar, com os lábios e com a vida, o verbo «dar», o verbo «repartir», o verbo «amar».
O que é de cada um queremos que seja de todos.
Ajuda-nos, Jesus, a vencer a pior doença: o egoísmo.
Ensina-nos, Jesus, a vencer a falsidade e a mentira.
Envolve-nos, Jesus, com a Tua misericórdia e habita-nos com a Tua bondade.
Obrigado, Jesus, por morreres por nós.
Obrigado, Jesus, por ressuscitares para nós.
Obrigado por vires sempre ao nosso encontro.
Como S. Tomé, também hoje Te adoramos, também hoje Te dizemos:
«Meu Senhor e meu Deus!»