1. Ai dos que pensam que tudo sabem e que nunca se enganam.
Até podem ser competentes, mas mostram-se imprevidentes e podem tornar-se muito perigosos.
Os maiores erros e muitos dos maiores crimes são cometidos por pessoas que se julgam ungidas pela verdade absoluta.
Não admitem discussão nem aceitam a divergência. O mundo parece acabar naquilo que os seus olhos captam e a sua mente assimila.
Para eles, os outros não podem fazer o mesmo. Não podem captar nem assimilar a realidade. Só podem aceitar e assimilar o que eles impõem.
2. Quando a virtude se transforma em orgulho, a convivência ameaça tornar-se pouco menos que insuportável.
Algumas dessas pessoas até falam muito de Deus. Mas, em vez de caminhar para Deus, parece que pretendem ocupar o Se lugar.
Decidem tudo. Decidem por si. E decidem pelos outros e para os outros.
Habituaram-se a conjugar, com os lábios e sobretudo com a vida, o verbo «impor», o verbo «mandar», o verbo «possuir», o verbo «perseguir».
Era bom que tivessem presente que Jesus nos ensina, com os lábios e sobretudo com a vida, a conjugar o verbo «dar», o verbo «respeitar», o verbo «servir», o verbo «amar».
3. Muitas vezes, a nossa dificuldade não está só em caminhar para a frente. Está também em olhar para trás.
Falta-nos capacidade para olhar devidamente para os começos, para Jesus, para a revolução que desencadeou. Não apenas nas estruturas, mas, antes de mais, nos corações.
Há muito que nos foi ensinado por Jesus. E há muito de Jesus que ainda não aprendemos. Nem apreendemos.
Não somos auto-suficientes nem totalmente independentes. Precisamos uns dos outros não só quanto às acções, mas também quanto às convicções.
A verdade é-nos oferecida. Circula entre todos. Ninguém é proprietário dela. E acreditamos que, maximamente, ela nos vem de Deus.
4. Dizia Madre Teresa de Calcutá que a coisa mais fácil neste mundo é enganar-se, é enganarmo-nos, é sermos enganados.
E onde mais este engano se verifica não é no âmbito da ciência. É na ponderação das situações e na avaliação das pessoas.
Mais espantoso ainda, são as pessoas mais conhecedoras e mais sérias que se mais enganam quanto às situações e às pessoas.
Como tendem a ver os outros com os seus olhos (que são puros), facilmente se deixam envolver numa imagem que não corresponde à realidade!
Nem tudo vem pelos livros. Não são os livros que mostram o que vai na alma. Só Deus sabe inteiramente o que vai no interior do homem (cf. Jo 2, 25).
5. Não podemos optar pela desconfiança sistemática. Mas também não devemos enveredar pela ingenuidade.
Há que estar disponível e manter-se atento. Não é sadio agir em função do preconceito. É importante que nos habituemos a decidir em função do pós-conceito.
Ou seja, o que nos há-de mover não é o conceito que alguém nos pretende impor antes, mas o conceito que a vida nos fornece.
E, se repararmos, há muito que não sabemos acerca do homem, da vida e de Deus. Muito do que dizemos sobre Deus não corresponde ao que Ele é em Si e ao que Ele mostra para nós.
Deus é uma surpresa total. Deixemo-nos envolver pela Sua presença. Pelo Seu amor. Pela Sua infinita paz!