Os Dez Mandamentos da Lei de Deus foram escritos em duas tábuas.
Os Dez Mandamentos de Jesus não foram escritos em qualquer livro, mas estão inscritos em todos os corações. Paul Johnson, conhecido historiador, extraiu-os da pregação do Mestre e compendiou-os numa obra recente.
Vou procurar resumi-los parafraseando-os.
1. Aceita-te como és
Jesus ensinou-nos que, fazendo parte de uma comum humanidade, cada um de nós é dotado de uma personalidade única e irrepetível. Por isso, cada um tem direito a determinar a sua vida e a desenvolver uma vontade individual.
2. Aceita os outros como eles são
Jesus mostrou-nos que as opções não são excludentes, mas inclusivas. A aceitação de si mesmo não impede (antes pressupõe) a aceitação dos outros. Do mesmo modo, o amor a Deus implica o amor ao próximo. O amor está no mesmo patamar que a verdade: também é universal. É para todos. É para sempre.
3. Apesar de único, não és superior nem inferior aos outros. Para Deus, és igual a todos
Jesus sentiu-Se sempre incomodado com o carreirismo, com as disputas de lugares. O importante não é ficar à frente dos outros, mas dar o melhor pelos outros. É por isso que, em Jesus, Deus corrige as assimetrias humanas. Se alguma discriminação pratica, é apenas a discriminação positiva: traz as periferias para o centro e o centro para as periferas; faz com que os primeiros sejam últimos e com que os últimos sejam primeiros (cf. Mt 19, 30).
4. Todos os teus actos deverão serão guiados pelo amor
Jesus tinha o amor nos lábios e, sobretudo, continha o amor nos gestos. Trata-se de um amor totalizante, não fraccionado. Não é, pois, um amor egoísta, mas um amor que se doa. É um amor que envolve o espírito e também o corpo. É um amor que atende, que ouve, que reconcilia, que ajuda. No amor não há leis; há provas. Jesus deu-nos a prova suprema de amor.
5. Usarás de misericórdia e de bondade para com toda a gente
A misericórdia e a bondade dimanam do amor e vão além da lei. Elas conduzem à moderação, ao autodomínio, longe de todo e qualquer radicalismo ou pulsão para a vingança. Pela misericórdia e pela bondade, habituamo-nos a agradecer o bem e a não devolver o mal mesmo a quem nos faz mal.
6. Serás sempre equilibrado nas tuas atitudes
Jesus era claro, mas nunca foi um extremista. Usando uma conhecida expressão de Manuel Antunes, podemos dizer que Ele desencadeou a «revolução da sensatização». Como anota Paul Jonhson, Jesus «era reservado, mas não era um eremita; era capaz de estar sozinho, mas também gostava de companhia; era comedido, mas também conseguia indignar-Se; sabia chorar, mas não desesperava; era objecto de troça, mas nunca troçou de ninguém; foi agredido e deu a outra face». Enfim, foi atacado até por causa da Sua moderação.
7. Terás sempre um espírito aberto
Jesus sinalizou a Sua abertura com a Sua vida e até com a Sua morte. O Seu coração foi aberto a toda a humanidade (cf. Jo 19, 34). O mundo evoluiu sempre que se abriu e regrediu todas as vezes que se fechou. Por isso, antes de voltar para o Pai, Jesus enviou os Seus discípulos «por todo o mundo» (Mt 28, 19). Não a uma parte do mundo, mas a todo o mundo.
8. Buscarás, permanentemente, a verdade
Jesus é o melhor guia na busca da verdade, «de uma verdade completa e total, pura e simples, despida de contornos sectários, limpa de paixões». Trata-se de uma verdade que não é conquistada, mas oferecida. Não a possuiremos nunca. Devemos deixar-nos possuir por ela. É a verdade de Deus e a verdade do mundo. Deus e o mundo não estão em oposição. Deus vem ao nosso encontro no mundo. É no mundo que vamos ao encontro de Deus.
9. Utilizarás o poder com moderação e respeitarás quem o não tem
A vida de Jesus «é um modelo de uso contido do poder e, por contraste, a Sua morte é um exemplo, catastrófico e cruel, de abuso do mesmo poder». A ressurreição significa «a vitória do impotente», que ressurge das profundidades da morte. Jesus não deixou um manual de política nem regras sobre o poder. O fundamental é que o seu exercício seja pautado pelo respeito pelos mais humildes e pobres.
10. Serás sempre corajoso
Cervantes dizia que perder os bens é perder muito, mas perder a coragem é perder tudo. Não espanta, por isso, que o grande legado de Jesus, documentado em palavras e amplamente certificado em obras, seja a coragem. É a coragem de «não apenas de resistir ao mal, mas também de o suportar». Jesus convida-nos à mansidão e à tolerância, mesmo diante da hostilidade e da perseguição. Jesus exorta-nos a não fugir dos problemas e a manter a serenidade no meio da tempestade. Esta coragem «é hoje tão necessária como sempre foi e é tão rara como no tempo d'Ele».
Cf. Paul Jonhson, Jesus. Uma biografia escrita por um crente (Lisboa: Ed. Aletheia 2011).
1. Para muitos, a Páscoa é mais o ruído do que a calma. É mais a palavra do que a escuta. É mais a acção do que a meditação. É mais o movimento do que o recolhimento.
O ruído, as palavras, a acção e o movimento dão um grande colorido às nossas terras. Mas a falta de calma, de escuta, de meditação e de recolhimento deixa um profundo vazio nas nossas almas.
Quando falamos de Páscoa, pensamos no que, a propósito dela, se diz e se faz. Mas era bom que se captasse o sentido da Páscoa também a partir do que, nela, não se diz e não se faz.
A Páscoa não se reduz às procissões de Sexta-feira e às celebrações de Domingo. Entre o grito da Cruz e a alegria da Ressurreição, há o silêncio da sepultura.
É também por esse silêncio que nos devíamos envolver. Porque é nesse silêncio, que parece nada trazer, que germina a novidade plena, a surpresa maior, o reencontro total.
2. De facto, o silêncio não é necessariamente mutismo, ausência ou distância.
Há um silêncio pelo qual tudo nos chega. É o silêncio da semente lançada à terra. É do fundo que se cresce. E é de trás que se caminha.
No silêncio, verificamos que ainda há muita semente para desabrochar. É o silêncio exterior que nos põe alerta. É o silêncio interior que nos põe à escuta.
É um silêncio, ao mesmo tempo, afónico e atónito. É um silêncio que tanto nos deixa sem palavras como nos preenche com uma paz inquieta.
Afinal, as palavras costumam morrer nos lábios e os pensamentos acabam por se ofuscar na mente.
É, por isso, o silêncio que nos permite acolher o grande murmúrio que Deus faz ecoar no mundo.
E há-de ser a fraternidade a levar-nos a estender a mão àqueles que vão caindo nas estradas do mundo.
Às vezes, queremos cobrir de palavras o que escapa a toda a palavra. Se as palavras já são débeis para dizer a vida, como não são frágeis para (des)dizer a morte!
E, não obstante, multiplicamos explicações. No tempo, atrevemo-nos a cartografar a eternidade e a mapear com minúcia cada um dos seus momentos.
3. A Páscoa é oportunidade para cantar, para louvar. Mas será ainda mais bela se for aproveitada para colher, para captar.
O silêncio não nos afasta dos problemas, mas abre-nos muitos caminhos no meio dos próprios problemas.
Jesus foi tão eloquente quando falou como quando calou. E disse-nos tanto no grito da Cruz como no silêncio do sepulcro.
O silêncio é o nada donde vem tudo. Não é esse, aliás, o transe da criação?
Deixemos, pois, falar a Páscoa no tempo! E façamos ressoar a Páscoa na vida!
4. A Páscoa é, sem dúvida, uma festa. Mas é uma festa que começa num fracasso.
Eis a lição jamais apreendida num tempo que cultua o êxito como desígnio supremo. E que tende a encarar qualquer adversidade como um obstáculo intransponível.
O fracasso de Jesus parecia ser total, definitivo, irrecuperável.
Neste sentido, a Páscoa significa que nem a morte é o fim. A Páscoa assinala o começo depois do próprio fim.
Tudo está em aberto. E o que conta não são apenas os conceitos já pensados e as soluções já tentadas. O que conta é o novo, aquilo que ninguém (ainda) conhece, aquilo que (ainda) está para acontecer.
Adormecida, no nosso interior, está a esperança. Dorme o prolongado sono da resignação, do desalento.
É tempo de despertar a esperança. É hora de despertarmos para a esperança!
«Desconfia que a ambição não seja a cobertura do orgulho e que a modéstia não seja senão um pretexto para a preguiça».
É fundamental estar atento a este preceito enunciado por Monnier.