1. Parece pouco e, de facto, é pouco. Mas é com esse pouco que se vê muito.
O pouco são as condições de vida que o presente oferece. E, não obstante, o milagre acontece. As pessoas estão a sobreviver.
É certo que, como diz Edgar Morin, «sobreviver não é viver». Eu sou tentado, porém, a objectar que, hoje por hoje, sobreviver é mais do que viver. É conseguir, do quase nada, fazer quase tudo: comer, estudar, ir ao médico, pagar a habitação.
Há pessoas que vivem nos limites sem que os limites as limitem. Pelo contrário, parecem espicaçadas pelas condições adversas. E, mesmo no limite, os obstáculos vão sendo transpostos e o caminho vai sendo trilhado. Há vasto sangue, bastante suor e muitas lágrimas, mas não há desistência. Nem resignação.
A experiência mostra que não é na abundância que a qualidade mais se certifica. É sobretudo na penúria que as capacidades se testam.
O que se via como impossível, afinal, está a revelar-se possível. As pessoas não estão a vencer a crise. Mas a crise também não está a vencer as pessoas.
E mais importante do que vencer a crise não será saber (sobre)viver em plena crise?
2. A fama parece que dá tudo. Parece que dá tudo muito cedo. Parece que dá tudo muito rápido. Até a viagem pela vida corre veloz para os famosos.
Só que a fama, que tudo dá, não se esquece de dar também tortura, também vazio, também tédio. A fama, que alimenta muitas vidas, acaba por devorar essas mesmas vidas.
A fama vai moendo, vai desgastando, vai matando. Michael Jackson, Amy Winhouse e Whitney Houston são alguns dos muitos que a fama elevou às alturas. E que a mesma fama atirou para os fundos.
Enfim, a fama dá tudo. Mesmo tudo. Até a ilusão de tudo. Até o fim de tudo!
3. A desesperança não visita apenas quem tem pouco. Também incomoda quem tem muito, quem aparenta ter tudo.
As pessoas facilmente se apercebem de que nem tudo é bastante. Nem tudo chega para satisfazer quando esse tudo se limita ao ter, ao mandar, ao aparecer.
É por isso que, no plano emocional, existe uma simetria entre os muitos pobres e os muito ricos. Em ambos os casos, a desesperança é avassaladora, asfixiante, brutal. Os muito ricos parecem tão pobres como os pobres. Falta-lhes sentido, horizontes, felicidade!
Com efeito, tão desesperado surge quem tem fome de pão como quem tem fome de fama. E nem a satisfação deste desejo parece abrir a porta da realização pessoal.
4. O caminho não será, para já, superar a crise. O caminho terá de ser aprender a viver em crise.
A adversidade não é agradável, mas pode ser preciosa. É ela que nos ensina a tirar o máximo do mínimo. Quando os recursos não abundam, pode abundar a criatividade, a esperança, a solidariedade.
É por isso que podemos não estar a viver um crepúsculo. Podemos estar a passar por uma nova aurora, por um novo amanhecer. Afinal, não é nas trevas que melhor se vê a luz?
Se repararmos bem, este período está a ser supremamente fecundo. Na prosperidade, quando o dinheiro jorrava, conseguia-se muito: viajar, consumir, trocar de carro, comprar moradias.
Agora, quando o dinheiro escasseia, as pessoas, afinal, conseguem o mais importante: viver e ajudar a viver, partilhando.
Há quem só consiga muito com muito. Felizes aqueles que, com pouco, conseguem (quase) tudo!
A fama dá tudo. Dá tudo muito rápido. Dá tudo muito depressa. Até a viagem pela vida parece veloz para os famosos.
A fama, que tudo dá, não se esquece de dar também tortura, também vazio, também tédio.
A fama, que alimenta muitas vidas, vai eliminando essas mesmas vidas.
Ela vai moendo, vai desgastando, vai matando.
Michael Jackson, Amy Winhouse e Whitney Houston são alguns dos muitos que a fama elevou aos altos. E que a mesma fama atirou para os fundos.
Enfim, a fama dá tudo. Mesmo tudo. Até a ilusão de tudo. Até o fim de tudo!
Uma vez mais aqui estamos, Senhor,
para ser envolvidos por Ti,
pela Tua presença amorosa,
pela Tua presença curadora,
sanante e salvadora.
Junto de Ti,
sentimo-nos curados de todas as nossas lepras,
sobretudo da lepra asfixiante do egoísmo e da falsidade.
Como há dois mil anos,
também nós, hoje, caímos de joelhos, a Teus pés,
e Te suplicamos: «Cura-nos, Senhor»!
Obrigado, Senhor, pela Tua bondade,
pelo Teu amor, pela Tua paz.
Tu és o melhor medicamento
e a única terapia.
Também hoje, estendes a Tua mão
e tocas-nos:
Tocas as nossas feridas,
tocas as nossas ansiedades,
tocas os nossos sonhos,
tocas o nosso coração,
tocas a nossa vida.
Que bom, Senhor,
é ser tocado por Ti,
abraçado por Ti.
Num mundo de tanto abandono e rejeição,
as crianças, os velhinhos,
os marginalizados e os oprimidos
sentem o Teu abraço.
Que nós não nos afastemos de ninguém.
Que nós não afastemos ninguém.
Que tenhamos para todos uma palavra de esperança
e gestos de ternura.
Que cada um de nós, lá fora,
seja o eco do Teu amor
e o prolongamento do Teu ser:
JESUS!
Não dá para esquecer apesar de as estradas do tempo acelerarem, cada vez mais, a velocidade da existência.
Mas aquela madrugada nunca se apaga. Nem aquele rosto que se ia apagando, sem nunca se extinguir.
Eram 05h37 de 7 de Fevereiro de 1997. A respiração começou a enfraquecer até que, àquela hora, parou. A 7 de Fevereiro de 1997 meu querido Pai foi chamado para junto do eterno Pai.
Foi há quinze anos. Parece que foi há instantes.
Por tudo, muito obrigado, meu querido Pai. Sei que continuas em mim, comigo. Sempre.
Meu Pai,
de olhos embaciados,
voz soluçante
e mãos trémulas,
aqui venho,
aqui estou,
junto de ti.
Há quinze anos
(completam-se às cinco e meia da manhã deste dia 7),
olhava para teus olhos
e registava o teu último suspiro.
Parece que foi ontem,
parece que foi há instantes.
Não nego que me custou esse momento
e que ainda me dói essa imagem:
teu rosto cansado
exalava uma derradeira respiração.
Mas sabes muito bem
que tudo foi como quiseste,
tudo foi como pediste.
Estavas em casa,
e eu estava a teu lado.
Nunca te senti longe.
Mas, humano como sou,
sinto a tua falta,
o teu apoio,
os teus conselhos e recomendações,
a tua energia indomável.
Sei que estás bem,
em Deus.
Tenho feito o que me pediste.
Em nenhuma Eucarista te esqueço.
Lembro-te sempre ao Senhor.
Tu tens-me amparado sempre.
Eu recordo-te não como um morto,
mas como vivo e muito próximo.
Obrigado, meu Pai.
Tu partiste,
mas nunca me deixaste.
Eu sinto a tua presença,
treze anos depois.
Um dia nos encontraremos aí,
onde tu estás,
nessa pátria maravilhosa
de felicidade e paz.
Aí nos abraçaremos
e abraçados permaneceremos para sempre
em Deus!