«Não terás razão em chamar feliz àquele que muito possui».
Era o que Horácio pensava há séculos.
Já naquele tempo se achava que onde há excesso de ter há défice de ser!.
E onde o ser está em baixa, a felicidade poderá estar em alta?
Quando o mercado dita regras, os resultados não podem ser bons.
O Estado precisa de dinheiro. Mas, ao aumentar desmesuradamente os impostos, pode estar a provocar uma diminuição das receitas.
Os ricos americanos dispuseram-se a pagar mais porque pagavam muito pouco: 6%. Os ricos portugueses recusam-se a pagar mais porque acham que já pagam muito: à volta de 50%.
O problema é que, com tudo isto, o cidadão comum é que sofre.
Se o Estado tiver menos receitas, as pessoas terão de pagar mais pela saúde, educação, luz, etc.
Se os grandes empresários forem mais tributados, muitos postos de trabalho estarão em risco.
O dinheiro de salários terá de ir para impostos. Nem sempre se consegue a quadratura do círculo!
1. O que transita de um ano para outro são as grandes ocorrências. É nelas que se centra a atenção. É para elas que se dirigem os olhares.
Mas até os maiores acontecimentos são tecidos de pequenas incidências.
Podem escapar aos holofotes da fama. Podem inclusive passar ao lado das nossas deambulações reflexivas. Só que, se pensarmos bem, a sua importância é decisiva.
2. A informação que nos é servida não é isenta de parcialidades nem de obsessões.
A falta de matéria alia-se à necessidade de apresentar serviço e a solução é, invariavelmente, a mesma: insistir, até à exaustão, nos mesmos assuntos.
Os protagonistas são os habituais. Os consumidores continuam a ser os de sempre.
3. Os poderosos são notícia até pelas suas mais insignificantes trivialidades. Já o cidadão só notícia consegue ser quando o invulgar o atormenta.
As férias de uma figura pública têm maior espaço que as aspirações de povoações inteiras.
O cidadão, quando é referido, é diluído no número e dissolvido na massa anónima.
4. Habitualmente, tem de haver uma tragédia para que o seu caso seja trazido para o conhecimento geral.
Foi o que aconteceu, quase no fim de 2011, com aquela mulher que, em desespero, se atirou de uma ponte.
Mas não se atirou sozinha. Com ela levou também o seu futuro: a sua filha de vinte meses.
5. Todos anotaram o facto. Mas quem se preocupa com as ilações? Quem está atento a tantos (possíveis) casos semelhantes?
Quando novas tragédias se verificarem, não faltará quem registe, quem lamente. Mas continuará a faltar quem reflicta, quem medite.
6. Aquela mãe morreu. A filha sobreviveu. Conseguirá viver? Era a própria mãe que achava que não havia futuro para o seu rebento.
Alguém poderá duvidar do amor daquela mãe? E, mesmo assim, ela entendeu que o mundo não tinha lugar para a sua filha.
7. É por isso que não basta olhar para a vida a partir de cima. É claro que não é fácil governar, dirigir, orientar.
Mas era importante que, a montante de certas decisões, se pensasse no efeito que elas podem ter na vida (e na morte) das pessoas!
E que cada um de nós ponderasse bem, antes de falar ou de agir, se determinadas atitudes não irão magoar alguém.
8. Há causas que podem desencadear as mais terríveis consequências e conduzir aos piores desfechos.
Nunca se pode acautelar nem prever tudo. Mas era bom que, nos grandes centros, se olhasse para os pequenos casos. Se é que são pequenos. Nada é pequeno quando em jogo está um ser humano.
9. Confesso que esta imagem é a que mais me acompanha no trânsito de 2011 para 2012. A esta hora, quantas vidas não estarão na iminência de se atirar de um qualquer viaduto?
É nestas alturas que a esperança tem de ser mais forte. Quando tudo parece perdido, não deixemos perder a esperança.
E, por favor, não nos concentremos só nos números. Olhemos para as pessoas, para cada pessoa.
10. Uma comunidade só se faz com a totalidade dos seus membros. Onde há marginalização, não pode haver desenvolvimento.
Vivemos num mundo onde nos sentimos perto de todos os lugares. Mas onde ainda não estamos próximos de todas as pessoas.
Às vezes, parece que é mais fácil chegar ao lugar mais distante do que à pessoa mais próxima.
11. Dizem-nos que o mundo se transformou numa aldeia. Mas, por vezes, tal aldeia parece um deserto.
As pessoas passam umas pelas outras. Mas chegarão a entrar no interior umas das outras?
Afinal, ainda há um longo caminho a percorrer até que o mundo seja autenticamente mundo. E até que a humanidade seja verdadeiramente humana!
Um novo ano nos dás, Senhor:
12 meses para uma nova jornada pelos caminhos do Tempo,
52 semanas para uma nova peregrinação pelas estradas da Vida,
366 dias para uma nova aventura pelas encruzilhadas do Mundo.
Obrigado, Senhor, por mais esta oportunidade, com que — imerecidamente — nos presenteias em cada instante.
Sim, porque é no acolhimento do dom de cada instante
que mais envolvidos nos sentimos pela Tua solicitude
e que mais surpreendidos somos pelo Teu amor.
Que este novo ano, Senhor,
Sejam, pois, 12 meses de paz,
52 semanas de harmonia
e 366 dias de contínua solidariedade e esperança.
Sabemos que sozinhos não podemos nada.
Mas também sabemos que conTigo conseguiremos tudo.
Queremos, por isso, que o novo ano faça de nós criaturas novas,
porque só com homens novos será possível acender a chama do tempo novo!
Que ao longo deste ano, que hoje começa
nós queiramos ser
construtores da paz,
peregrinos da esperança,
arautos da Boa Nova,
testemunhas da verdade,
promotores da justiça,
semeadores do perdão,
paladinos da liberdade
e anunciadores da salvação.
Que, ao longo deste ano, nos encontres, Senhor,
mais atentos à Tua presença,
mais comprometidos com a Tua Palavra,
mais iluminados pela Tua luz,
mais fortalecidos pelo Teu Espírito
e mais inundados — por dentro e por fora — pela Tua infinita paz!
Que tudo isto não seja só o nosso sonho, mas também o nosso projecto.
Não só o nosso desejo, mas também o nosso esforço.
Não só o nosso horizonte longínquo, mas também o nosso empenhamento constante.
Pedimos-Te, Senhor,
que a santidade seja o nosso objectivo,
que a fé seja a nossa prioridade,
que a oração seja o ar que absorvemos,
que o silêncio seja a atmosfera que aspiramos
e que o Mandamento Novo seja a nossa eterna Lei!
Concede-nos
que o Teu rosto ilumine os nossos olhos,
que a Tua Palavra resplandeça em nossos lábios,
que o Teu exemplo desinstale o nosso ser
e que a Tua Vida transforme a nossa própria vida!
A Ti, Senhor, queremos agradecer,
em Ti, Senhor, queremos permanecer,
conTigo, Senhor, queremos gritar:
«Nunca mais a guerra!
Nunca mais o ódio!
Nunca mais a violência e a injustiça!».
Contamos conTigo,
conta connosco também
para fazermos deste ano
um passo em frente
na construção de um mundo melhor,
de um mundo onde não haja grandes nem pequenos,
onde todos se sintam irmãos,
onde só Tu sejas Senhor,
pois o Teu senhorio
é a garantia mais segura
de que a humanidade
ainda pode ser uma única família,
um imenso povo de irmãos!