1. Todo o começo é uma explosão. Di-lo a ciência. E parece atestá-lo a experiência.
O universo terá começado com uma explosão há muitos milhões de anos. E cada ano também costuma começar com uma explosão de euforia, de alegria e de esperança.
2. O problema é que a tal explosão costuma suceder uma calmaria que sabe mais a decepção do que a serenidade.
E, não raramente, de tal calmaria surgem novas explosões. Estas, porém, exalam outro sabor. Tais explosões já não são de esperança, mas de desnorte e até de violência.
É então que nos dissipamos, nos digladiamos e perdemos. A meio do caminho, fica a sensação de que já não encontramos o rumo.
3. Uns parecem demasiado apressados. Outros mostram-se excessivamente tolhidos.
O medo faz encolher. Dificulta o discernimento e perturba, fortemente, a decisão.
O medo surge não só pela timidez, mas também pelo receio da ambição não satisfeita.
4. Passamos o tempo a controlar-nos uns aos outros e gastamos a vida a passar por cima uns dos outros.
Entre o futuro ausente e o passado já distante, sentimo-nos longe do fulgor das origens.
5. Às vezes, o Cristianismo passa por fases destas. Parecemos todos gestores de uma decadência que muitos tentam ocultar, mas que poucos conseguem esconder.
Falta a vibração dos começos, a alma dos inícios. Afinal, o Cristianismo também começa com uma explosão. Com uma explosão de amor. E com uma formidável explosão de esperança.
E não se diga que os tempos eram fáceis. O sangue vertido aí está para certificar quão difíceis foram aqueles tempos!
6. José María Castillo, sem entrar pela via do protesto, faz uma advertência. É preciso ver se, em Igreja, não corremos o risco de fazer o oposto de Jesus.
Os discípulos de Jesus não devem portar-se como órgãos de poder nem como aliados dos poderes.
O que Jesus quer é que eles se «portem como as crianças». Não cabe à Igreja «emendar o projecto de Deus». Cabe-lhe, sim, pô-lo em prática. Na humildade e na modéstia!
7. O caminho da Igreja não pode ser o de lançar culpas para cima das pessoas.
O caminho da Igreja só pode ser aliviar as pessoas do sofrimento que pesa sobre elas. «Só humanizando-nos, lembra Castillo, sendo cada vez mais profundamente humanos, podemos corrigir este mundo, dar esperança às pessoas, estar perto de quem sofre».
Deus não é encontrado fora do mundo. Estando nós no mundo, é na profundidade do mundo que O encontraremos!
8. Jesus não eliminou, mas superou a imagem de Deus no Antigo Testamento. Muitas vezes, a Igreja limita-se a integrar essa mesma imagem. Parece que nem sempre faz a triagem operada por Jesus.
Dá a impressão de que tanto adoramos o Deus amor como o Deus castigador. Castillo entende que «não se pode estar de acordo com coisas tão contraditórias».
9. Se Jesus é o critério, então a Sua imagem de Deus é que há-de prevalecer. Jesus mostra-nos Deus como o Pai que acolhe e vai ao encontro sobretudo dos pecadores e dos pobres. O mínimo que se pode esperar de uma religião, diz Castillo, «é que torne claro em que Deus crê».
10. José María Castillo pede uma Igreja que não se envolva em «interesses ou pactos políticos». É uma Igreja que apostará tudo na «sua exemplaridade evangélica». O que pretende «é recuperar as origens, a inspiração profética e carismática de Jesus».
Às vezes, parece difícil. Daí a pergunta: «Não tenho o direito de pedir que voltemos ao Evangelho?»