Quando o mercado dita regras, os resultados não podem ser bons.
O Estado precisa de dinheiro. Mas, ao aumentar desmesuradamente os impostos, pode estar a provocar uma diminuição das receitas.
Os ricos americanos dispuseram-se a pagar mais porque pagavam muito pouco: 6%. Os ricos portugueses recusam-se a pagar mais porque acham que já pagam muito: à volta de 50%.
O problema é que, com tudo isto, o cidadão comum é que sofre.
Se o Estado tiver menos receitas, as pessoas terão de pagar mais pela saúde, educação, luz, etc.
Se os grandes empresários forem mais tributados, muitos postos de trabalho estarão em risco.
O dinheiro de salários terá de ir para impostos. Nem sempre se consegue a quadratura do círculo!
É muito estranho notar que, numa altura em que os mercados são tão invocados, se esqueça uma das suas regras mais elementares: quando os preços sobem, a procura desce.
Se o Estado precisa de aumentar as receitas, devia criar estímulos. Subindo os impostos, incentiva a fuga.
O imperativo ético e o sentido patriótico não estão propriamente em alta nestes tempos.
Nunca talvez como hoje, a metáfora do gato e do rato seja tão pertinente. O fisco corre atrás das empresas e dos cidadãos.
E a tendência de muitos será para fugir. Transferir a sede de grupos nacionais para outros países é um sinal perturbador. Como atrair o investimento de empresas estrangeiras, se acabamos por afugentar o investimento nacional?
As pessoas e as empresas estão cada vez mais voltadas para si próprias. Cada um procura acautelar os seus interesses.
O sentido do outro afere-se nas sobras. A notícia desta noite é um sinal que deve ser tido em conta.
Se a tendência se mantém, a liberdade de circulação de capitais fará o seu caminho. O dinheiro irá para o ambiente que lhe for mais favorável.
Há uma ironia nisto tudo: parece que o dinheiro irá «emigrar» mais depressa que muitas pessoas!
A magna notícia desta noite encerra um profundo significado em início de ano. Nos momentos complicados, o expediente será o de sempre.
O Estado despede e aumenta impostos. As empresas despedem e sobem os preços.
Alguém ganhará com isto? Não é, seguramente, o cidadão comum.
O mercado age. Os políticos comentam. Os cidadãos sofrem. Pensam. E penam!