1. Ainda «ontem» era Janeiro. Já «hoje» é Dezembro. E «amanhã» volta a ser Janeiro.
Tudo é tão veloz no tempo. Tudo é tão rápido na vida.
Parece que tudo volta ao início, mas neste novo início nós não estamos mais novos. Podemos (e devemos) estar mais renovados. Mas a viagem do tempo vai-nos envelhecendo. E até o começo de um novo ano significa que estamos mais velhos.
2. Parece uma contradição, mas no início do novo ano, estamos mais perto do fim, mais perto do fim da nossa vida.
Ainda que duremos cem (ou mais) anos, no dia 1 de Janeiro, estaremos mais perto do nosso fim do que a 31 de Dezembro.
3. Com o tempo, notamos que a vida é uma viagem cujo ritmo vai acelerando.
Na infância, chegamos a pensar que o tempo não anda. Depois, achamos que o tempo passa. A seguir, verificamos que o tempo corre. Finalmente, sentimos que o tempo voa.
Estamos todos mais próximos do começo definitivo, da manhã sem tarde, da nascente sem foz. A eternidade espera por nós!
4. Não é só na morte que penso. A bem dizer, ninguém morre.
Ninguém faz a experiência da sua morte. Como dizia Epicuro, quando nós estamos, ela ainda não está; quando ela está, nós já não estamos.
5. Os outros é que notificam a nossa morte. Para nós, a morte será sempre futuro e nunca presente. Todos dizem «vou morrer». Ninguém afirma «morro» ou «morri».
Mia Couto diz que «se morre nada quando chega a vez. É só um solavanco na estrada por onde já não vamos».
Somos seres feitos para a vida. No tempo e (assim o esperamos) na eternidade!
6. Bom seria que a eternidade nos iluminasse no tempo. Que não fizéssemos deste percurso pelo tempo uma «correria» desenfreada. E, sobretudo, que semeássemos as únicas coisas que vale a pena deixar atrás de nós: o bem, a solidariedade, o amor.
7. Aesta hora, fazemos muitos votos e acalentamos muitos desejos. Mas, pela (implacável) lei das probabilidades, já sabemos que o novo ano vai ser difícil.
Mas se o novo ano não vai ser melhor, nós podemos ser melhores no ano novo.
E é por isso que um momento como a passagem de ano pode ter um efeito positivo se o aproveitarmos para meditar.
8. Poucas transformações dependerão de nós. Mas de nós dependerá a mudança mais importante: a mudança do nosso interior, da nossa vida, do paradigma da nossa actuação.
O mundo será melhor de cada um de nós apostar mais no sentido do outro. A Europa, por exemplo, está a penar porque as perspectivas nacionais asfixiam uma visão de conjunto.
Mas, atenção, não basta uma visão de conjunto. É que uma visão de conjunto pode ser insuficiente e até deslocada.
Pode ser uma visão de conjunto com uma perspectiva tecnocrática. É por isso que, mais do que de uma visão transnacional, do que precisamos, em cada país e na Europa, é de uma visão humanitária!
9. Aproveitemos estes dias para recordar o passado. Não se trata de uma cedência à nostalgia. É, acima de tudo, um acto de justiça e um exercício de lucidez. É que, em muitos momentos do passado, o futuro começou a germinar. Pelo contrário, em não poucos momentos do presente, o mesmo futuro dá sinais de vacilar.
10. Apesar de tudo, acredito num futuro melhor. Sobretudo porque o «parto» é doloroso. Mas haverá algo de bom e de belo que sobrevenha sem dor?
Afinal, até as rosas têm espinhos. E não são os espinhos que ofuscam a beleza das rosas.
11. Um feliz ano novo!