O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Quarta-feira, 09 de Novembro de 2011

Sou sensível aos problemas que o Governo enfrenta. Mas sou mais solidário para com as dificuldades com que as pessoas se defrontam.

 

Por isso, não podendo ser imparcial e tendo de escolher um lado, opto por quem se manifesta e se faz eco de quem já nem consegue manifestar-se.

 

Eu sei que os protestos nada resolvem. Mas a situação actual também nada ajuda e tudo complica.

 

A greve geral vai ser dolorosa. Mas não posso deixar de estar solidário!

publicado por Theosfera às 23:39

Uma vez mais, tremeu a terra.

 

Nesta altura (com o frio e com a crise), quem não treme na terra?

publicado por Theosfera às 23:38

No mar, vivem os peixes e estão calados. Na terra, vivem os animais e gritam. No céu, vivem os pássaros e cantam.

 

O habitual no mar é estar calado; na terra é gritar; no céu é cantar.

 

O Homem faz a síntese das três dimensões: a profunidade do mar, o peso da terra e a altura do céu. Por isso são suas as três propriedades: o calar, o gritar e o cantar.

 

No tempo que passa, ele corre o risco de se limitar a gritar, faltando-lhe a profundidade do mar e a altura do céu.

 

A oração não pode ser apenas falar. Tem de ter também silêncio e canto!

publicado por Theosfera às 23:36

Há frases feitas que se colam como lapa ao senso comum. Quase todos as excelsam. Quase ninguém as questiona.

 

É usual defender a necessidade de falar a uma só voz.

 

Em certas alturas, sem dúvida. Mas, em determinados momentos, é fundamental que se façam ouvir muitas vozes, todas as vozes.

 

A liberdade afere-se pelo pluralismo e manifesta-se pela diferença.

 

Chegámos a este estado porque muitas vozes se calaram, porque muitas vozes se limitaram a fazer eco de uma voz dominante.

 

Sairemos deste estado se muitas vozes se fizerem ouvir!

publicado por Theosfera às 23:35

1. Sendo a vida feita de escolhas e revelando as escolhas a identidade da nossa vida, Maria, junto à Cruz de Seu Filho, corporiza maximamente um perfil solidário em grau supremo.
 
Em Maria encontramos delineada a imagem de uma Igreja samaritana, que presta apoio aos que tombam nas estradas da existência e que está ao lado de todos os crucificados do mundo. Como bem nota Raniero Cantalamessa, «Maria é a primeira estigmatizada do Cristianismo. Trouxe os estigmas invisíveis, gravados no coração».
 
Maria, junto à Cruz, prima pelo silêncio. A linguagem da Cruz, que Paulo opõe à sabedoria do mundo, é o silêncio. «O silêncio guarda só para Deus o perfume do sacrifício. Isso impede que o sofrimento se perca, procurando e achando aqui, na terra, a sua recompensa». Para a Igreja, a mensagem é clara: é preciso ficar perto da Cruz.
 
A força da Igreja estriba «na pregação da Cruz de Jesus, renunciando a qualquer possibilidade ou vontade de enfrentar o mundo». É necessário «renunciar a uma superioridade humana para que possa surgir e agir a força divina contida na Cruz de Cristo».
 
Não basta, porém, o silêncio junto à Cruz nem chega tampouco a pregação da Cruz. É imperioso «tomar a Cruz e ir atrás de Jesus». A Cruz de Jesus une aquilo que estava dividido: judeus e gentios, livres e escravos, a o céu e a terra. E, ao ligar-nos a Deus, a Cruz «une-nos entre nós. Une o homem ao seu semelhante, cria compreensão e solidariedade».
 
 
2. Como lembra Pedro Laín Entralgo, o Samaritano foi próximo do viajante agredido «sem ser seu amigo, mais ainda, sem o conhecer». Mas, estabelecida a proximidade, cria-se «um ambiente propício para que a amizade floresça».
 
Pedro Laín Entralgo chama a este tipo de comportamento «amor distante». Distante porque leva a praticar o bem mesmo não havendo qualquer contacto ou relacionamento. Mais intenso é o «amor instante», que promove deliberadamente todo o tipo de benevolência, benedicência, beneficência e benefidência. De uma forma ou de outra, «insta o possível amigo a uma maior ou menor abertura da sua intimidade».
 
O corolário de todo este percurso é o «amor constante», não no sentido de que perdura ao longo do tempo, mas no sentido mais imediato do verbo «constar», isto é, de que «torna patente e fiável a íntima realidade, dando fundamento à confiança mútua, ao acreditar um no outro».
 
No limite, a forma mais elevada da proximidade «é o sacrifício pelo outro», a situação em que, longe de exigir que o outro viva em função de mim, sou eu mesmo que me disponho a viver em função do outro.
 
Neste momento, o que predomina é a alteridade invertida. A relação está totalmente marcada pela subordinação: o outro aparece subordinado ao império do eu.
 
O caminho terá de ser, por isso, a alteridade reconstituída: eu não subordino o outro nem me subordino ao outro, mas ofereço-me inteiramente pelo outro.
 
Só assim a proximidade global será começo de uma verdadeira — ainda que tão desesperadamente desmentida — paz mundial.
 
O cristianismo encontra-se aqui numa posição privilegiada já que — anota outra vez Pedro Laín Entralgo — «desde o espírito e desde a letra dos textos evangélicos, introduziu uma novidade fundamental: a relação de proximidade, a consideração do outro como próximo».
 
Está, por isso, em condições únicas para promover o «abraço dialéctico» entre «consensuantes» e «discrepantes», que, habitualmente, tendem a conflituar.
 
Trata-se, em suma, de ir mais longe que a pura evidência. A proximidade não pode reduzir-se apenas a um dado da natureza ou a uma circunstância da geografia. A proximidade há-de reluzir, acima de tudo, como uma opção da vontade, independentemente do destinatário.
 
Neste sentido, ela pode ser descrita como «o acto em que cada um ajuda desinteressadamente o outro, ainda que este seja desconhecido». Daí que a proximidade supere a própria amizade, embora possa estar na origem dela. É que enquanto na amizade o bem é feito ao amigo «por ser quem é», na proximidade o bem é sempre feito «seja a quem for».
 
Sendo uma das implicações mais óbvias da globalização, a proximidade é também uma das suas carências mais notórias. A contradição não está na análise, está na vida: estamos perto de todos, mas não nos sentimos próximos de ninguém.
 
É que, encontrando-nos fisicamente todos muito mais próximos, sentimo-nos também — afectiva e culturalmente — muito mais distantes. O próximo está perto, mas com ele tendemos a cultivar, regra geral, relações de domínio e não de serviço. Esquecemo-nos, como lembra Pedro Laín Entralgo, que cada homem está rodeado de «outros como ele» e não apenas de «outros para além dele».
 
É por isso que o mundo se assemelha mais a um vulcão prestes a explodir do que a um jardim em vias de desabrochar. Nele, com efeito, parece haver mais armamento para ameaçar do que rosas para contemplar.
 
O «princípio da empatia», tão sabiamente enunciado por Edith Stein, surge-nos assim perigosamente subvertido e assustadoramente adulterado. Sentimos o outro não como possibilidade, mas como adversidade. Resultado? Em vez da «pax omnium erga omnes» (a paz de todos para com todos) topamos permanentemente com o «bellum omnium contra omnes» (a guerra de todos contra todos).
 
 
3. Dionigi Tettamanzi, ex-arcebispo de Milão, também acha, ao contrário de muitos, que é importante «sujar as mãos». Não para corromper, mas para pôr em prática aquilo em que se acredita. Não é por falta de doutrina que os cristãos não transformam o mundo. É por debilidade na vivência. Falta perceber que «Deus Se fez homem e Se fez pobre».

 

Estamos em crise porque a prioridade se foi deslocando das pessoas para as coisas. Sairemos da crise quando reposicionarmos a pessoa no centro. Em suma, não nos falta mensagem nem doutrina. Falta, sim, aquele fogo de Jesus para reaquecer tantas almas arrefecidas!

 
Refira-se que D. Óscar Romero agiu em sentido contrário ao que era esperado. Ele foi colocado à frente da diocese de San Salvador com o objectivo de refrear as intervenções mais inflamadas de alguns padres.
 
Foi, entretanto, o assassinato do Padre Rutílio Grande que operou uma enorme viragem na alma e na acção do bispo. Ele mesmo tornou-se uma voz profética e muito inconformada diante do poder. Para ele, mais importante que a ordem era a justiça. E acima da prudência encontrava-se a frontalidade. Sabia dos riscos que corria. As ameaças não paravam. Só que, humilde, achava-se indigno da graça do martírio.
 
Além da hostilidade dos poderosos, sofreu com uma certa frieza de alguns colegas e superiores. Desafiar a ordem (ainda que seja uma ordem injusta) nem sempre cai bem. D. Óscar, de facto, não cumpriu o preceito da imparcialidade. Ele tomou partido. Não por partidos, obviamente. Mas pelos pobres, pelos sem voz, pelos sem terra, pelos sem esperança e pelos sem amor.
 
D. Óscar Romero é um dos maiores expoentes de uma Igreja samaritana, que faz sua a causa dos que são assaltados nas estradas da vida. Realçar o seu exemplo é uma forma de mobilizar quem o procure reproduzir.
 
Na década de 1980, foram muitos os sacerdotes que, na linha de D. Óscar, pagaram com o sangue a coragem de uma missão que nunca cedeu à demissão. Um deles foi o Padre Ignacio Ellacuria, reitor da Universidade de El Salvador, morto, com mais alguns padres, em Novembro de 1989.
 
Note-se que o Padre Ellacuría deixou o conforto de uma carreira universitária na Espanha, donde era natural, para se entregar ao povo crucificado (como ele dizia) de El Salvador.
 
Óscar Romero e Ignacio Ellacuría são ícones de uma Igreja que não receia arriscar e que não recua, ainda que pela frente esteja o perigo supremo: o da própria vida. Em tempos de resignação, é importante olhar para o exemplo dos que nunca se conformam. Não será este o perene milagre?
 
 
4. Como bem anota Heiner Geibler, a chave de interpretação do Sermão da Montanha encontra-se na parábola do bom samaritano (cf. Lc 10). Todos são convidados a estar próximos de quem está em dificuldade, de quem sofre a injustiça.
 
Esta proximidade samaritana não passa apenas pela ajuda imediata. Passa também (e bastante) pela mudança das estruturas. Há, com efeito, situações de injustiça, de abuso de poder, de opressão e de desumanização que contrariam frontalmente o amor ao próximo.  Não basta identificar estas situações. É fundamental ajudar a transformá-las.
 
A Igreja não há-de cessar de olhar para Maria junto à Cruz. Aí, Ela posiciona-Se silumtaneamente como a «Mãe das dores» e a «Mãe da esperança». Nas situações-limite, a Igreja continua a esperar contra toda a esperança. Porquê? Como explica Henri Schlier, «sem ter nenhum motivo de esperança, numa situação de total desesperança, numa situação de total de desesperança e em total contraste com a promessa, continua a esperar unicamente por causa da palavra de esperança pronunciada por Deus».
 
Tal como Maria esteve perto de Jesus na Cruz, assim a Igreja é chamada a ficar perto dos crucificados de hoje: dos pobres, dos sofredores, dos humilhados e dos ofendidos. De que modo? Através da solidariedade e da esperança.
 
A Igreja é interpelada a ser, de forma humilde, o eco da esperança num futuro melhor, mostrando que o sofrimento pode não ter explicação, mas tem um sentido, porque haverá ressurreição depois da morte. Ora, se até a morte é superada, que problema existirá que não possa ser vencido?
 
A esperança não é ilusão; é força motivadora. Sem esperança, poder-se-á sobreviver por algum tempo, mas não se poderá viver por muito tempo. Como reparou Raniero Cantalamessa, «os homens precisam de esperança para viver como do oxigénio para respirar».

 

publicado por Theosfera às 23:16

Sou sensível aos problemas que o Governo enfrenta. Mas sou mais solidário para com as dificuldades com que as pessoas se defrontam.

 

Por isso, não podendo ser imparcial e tendo de escolher um lado, opto por quem se manifesta e se faz eco de quem já nem consegue manifestar-se.

 

Eu sei que os protestos nada resolvem. Mas a situação actual também nada ajuda e tudo complica.

 

A greve geral vai ser dolorosa. Mas não posso deixar de estar solidário!

publicado por Theosfera às 19:04

Faz hoje 22 anos que um muro caiu. Ficámos felizes!

 

Só é pena que, entretanto, outros muros se tenham reerguido.

 

Estes já não separam cidades. Mas separam (e cada vez mais) corações, pessoas, vidas.

 

Ainda há muros para derrubar. Ainda há (muitas) pontes para construir!

publicado por Theosfera às 13:35

Creio ser tempo de recuperar o valor da palavra.

 

Estamos num tempo em que a comunicação se encontra muito «acidentalizada».

 

As pessoas valorizam não apenas (nem principalmente) os conteúdos, mas também (e cada vez mais) as «adjacências». É o caso dos gestos, dos olhos, do ambiente, das músicas, etc.

 

Tudo, de facto, é comunicação, a começar, desde logo, pelo silêncio.

 

Mas, nestes tempos descentrados, faz falta uma certa sobriedade que nos permita ir ao essencial sem grandes apendiculares.

 

Precisamos, em suma, de uma comunicação que revele e não esconda!

publicado por Theosfera às 10:19

«As acções são muito mais sinceras que as palavras».
Assim escreveu (notável e magnificamente) Madeleine Scudéry.

publicado por Theosfera às 10:18

«É um espectáculo de bondade».

 

Eis o que se diz acerca do principal arguido do processo «Face Oculta».

 

Independentemente das responsabilidades que possa ter em tal processo, creio ser de valorizar o consenso que existe em torno do coração magnânimo de Manuel Godinho.

 

A bondade é o melhor que alguém pode ter. E acabará sempre por superar tudo o resto!

publicado por Theosfera às 10:17

«As revoluções anunciadas nunca acontecem».
Assim reza (previdente e magnificamente) um provérbio alemão.

publicado por Theosfera às 10:16

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