Façamos justiça a Bento XVI.
Esteja onde estiver, o Papa não foge aos problemas. Nem aos problemas externos, nem, mais notável, aos problemas internos.
Mesmo quando não lhe cabe resolvê-los, pelo menos assume-os, enfrenta-os.
E nem sequer se refugia naquele torturante lugar-comum de que não se deve falar mal da Igreja.
O mal não vem quando se reconhecem certos actos. O mal está quando eles são cometidos e, pior, repetidamente praticados.
Acresce que, pela sua natureza, a verdade nunca é para esconder, mas para revelar.
Ainda assim, impressiona como é que uma voz tão suave é capaz de proferir verdades tão fortes, por vezes tão duras.
Bento XVI não coloca um manto sobre a verdade. Pelo contrário, retira-lhe o véu.
Na viagem que o levou ao seu país natal, o Santo Padre disse perceber as pessoas que abandonam a Igreja por causa de certas atitudes. «Posso compreender que alguém diga: "Esta já não é a minha Igreja. A Igreja era para mim a força da humanização do amor. Se os representantes da Igreja fazem o contrário, não quero estar mais nesta Igreja"».
Não está em causa o erro, a falha. Aí, a misericórdia é o caminho e a tolerância tem de ser a regra.
Em causa está a desumanidade, a violação reiterada de direitos humanos.
Se a Igreja é o Corpo de Cristo e nela ocorrem, sistematicamente, certas situações, temos de aceitar que alguns pensem que o melhor é sair. Para continuar a estar com Cristo.
Por vezes, a obscuridade é tal que as pessoas são impelidas a acorrerem, logo, à fonte da luz.
Só a humildade cura. Só a mudança ajuda a recuperar a credibilidade perdida.